As maiores eleições da história do México

Estamos a dias do início das campanhas eleitorais do que tem sido chamado as maiores eleições da história do México, devido ao enorme número de cargos em disputa. Mais de 21.000 assentos para renovar completamente a Câmara de Deputados em nível nacional, 15 governadores, 30 congressos locais e 1.900 câmaras municipais e conselhos municipais em nível sub-nacional. Espera-se que durante os dois meses de campanha a atual polarização política, criada e alimentada pelos discursos e comportamentos dos líderes dos partidos do governo e da oposição, se aprofunde e acabe sendo transferida para as urnas.

Desde 15 de janeiro, o Conselho Geral do Instituto Nacional Eleitoral (INE) aprovou o registro de duas coalizões parciais chamadas “Juntos haremos história” (Juntos faremos história) e “Va por México” (Pelo México). A primeira, é a coalizão governista liderada por Morena, a mesma fórmula que alcançou a esmagadora maioria nas eleições federais de 2018. E a segunda está conformada pelos três partidos mais importantes que competiram durante as duas últimas décadas da transição para a democracia: PAN, PRD e PRI. Esta coalizão, que não deixa de ser inquietante, procurará arrancar a maioria dos assentos de Morena e seus aliados na Câmara dos Deputados.

Entretanto, no México, a política em nível subnacional frequentemente desenvolve dinâmicas de competição eleitoral que são diferentes daquelas em nível nacional. Um exemplo disso são as várias combinações de coalizões para os 15 governos estaduais em jogo. De acordo com as pesquisas de Massivecaller realizadas em 28 de março, em 12 estados se observa uma competição bipartidária com coalizões, e em três estados; Campeche, Nuevo Leon e San Luis Potosi a competição é fragmentada em três forças políticas, nos dois primeiros com a presença competitiva do Movimiento Ciudadano (Movimento Cidadão) e no terceiro da coalizão PVEM e PT.

Segundo a mesma pesquisa, Morena e seus aliados iniciam as campanhas com intenção de voto majoritária em 10 dos 15 estados em jogo, em 7 deles com uma ampla margem de apoio. Por sua vez, o PAN tem uma vantagem em Querétaro, a coalizão PAN-PRD em Chihuahua, a coalizão PAN-PRD-PRI mostra uma vantagem reduzida em Baja California Sur e San Luis Potosí, e por último o Movimiento Ciudadano, que vem aumentando seu apoio, lidera por um ponto numa competição extremamente acirrada com as coalizões PRI-PRD e MORENA-PT-PVEM e PANAL em Nuevo León.

Agora, na arena eleitoral, os partidos tendem a ser extremamente pragmáticos e a estratégia de formar coalizões procura acrescentar o maior número possível de votos, especialmente em contextos de mudança na competição. Sem dúvida, os resultados das eleições de 2018 consolidaram Morena e seus aliados como o bloco oficial dominante, tendo uma maioria em ambas as câmaras do Poder Legislativo e uma forte presença na maioria dos estados.

Polarização política no período que antecede as eleições

Os discursos e comportamentos hostis em relação às “outras” alternativas políticas que têm sido promovidas pelos líderes do bloco governante, como as lideranças da oposição e os meios de comunicação – tradicionais ou redes sociais – geram um clima de polarização política que não favorece em nada a democracia. Em uma situação de erosão democrática, o que é necessário é o reconhecimento do outro como cidadão a fim de estabelecer algum tipo de negociação ou acordo que facilite e fortaleça a estabilidade do sistema político. 

Além das lideranças políticas já mencionadas, aparecem – ou reaparecem – novos atores que através de seus discursos amplificam os antagonismos. Nesta semana, o empresário Ricardo Salinas Pliego declarou que “o INE deve morrer ou desaparecer”. Isto, após uma série de acordos do órgão de administração eleitoral que afetou, pelo menos temporariamente, enquanto a autoridade encarregada da justiça eleitoral resolve, as candidaturas de alguns partidos. A medida afetou especialmente dois candidatos ao governo de Morena e seus aliados, que mantêm a vantagem nas intenções de voto para Michoacán e Guerrero, assim como mudanças na designação dos assentos de representação.

Sem dúvida, os acordos do Conselho Geral do INE têm causado desconforto e reações preocupantes. E embora a decisão esteja de acordo com a lei, ela não é inteiramente oportuna, pois perturba os acordos e negociações formais e informais que as partes fizeram para entrar em coalizões.

Embora os ataques à autoridade eleitoral sejam preocupantes – como os severos cortes no orçamento para cumprir suas funções –, também deve ser notado que há algum tempo, o órgão governante do INE vem promovendo uma narrativa de confronto com o Executivo, caindo no jogo que o presidente domina com perfeição e que não corresponde ao INE, nem o favorece.

Se continuar neste caminho, as consequências da polarização na arena eleitoral poderão produzir dúvidas sobre a representatividade e legitimidade dos ganhadores, assim como o surgimento de uma oposição desleal que gera dificuldades para alcançar o consenso necessário para governar. E por último, mas não menos importante, a convivência social pacífica e civilizada poderia ser alterada em face de visões simplificadoras que dividem a sociedade em “boa e má”.

Tradução do espanhol por Maria Isabel Santos Lima

Foto de ProtoplasmaKid

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