Garantir a liberdade de expressão e informação e acabar com a violência contra os profissionais da mídia deve ser uma prioridade para a presidente do México. O que Claudia Sheinbaum fará para garantir o exercício pleno do jornalismo? Seu próximo sexênio representa uma oportunidade única para acabar com a violência contra jornalistas.
No sexênio que está para terminar, além de qualquer ideologia ou tendência partidária, não houve avanços significativos para os jornalistas, o que é lamentável, pois nos últimos 30 anos 156 jornalistas foram assassinados e 31 estão desaparecidos até 17 de abril deste ano, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), sem contar os casos dos últimos meses.
Por exemplo: em 21 de agosto, Ariel Grajales Rodas, jornalista e editor, foi baleado dentro de sua casa no Barrio de Esquipulas, no estado de Chiapas. No mesmo mês, o jornalista Alejandro Martínez Noguez, administrador de notícias do Facebook, foi assassinado em Celaya, Guanajuato.
Em julho, o jornalista Víctor Alfonso Culebro Morales, diretor do portal de notícias Realidades, foi assassinado. O jornalista Federico El Wero Hans, do Art. 7mo. El Observador, sofreu um atentado na porta de sua casa quando entrava em seu carro em Caborca, Sonora, e, 24 horas antes, César Guzmán, do Código Rojo, foi agredido em Cancún, Quintana Roo.
Em dois meses, cinco jornalistas foram atacados: três ficaram feridos e dois perderam a vida. Esses fatos ocorrem a cada 14 horas em nosso país, de acordo com o relatório semestral sobre a liberdade de expressão e o direito à informação da organização Artigo 19 México e América Central.
“A organização destaca que nesse sexênio os jornalistas foram alvo de vários tipos de agressões. 880 foram vítimas de assédio (25,82% do total de jornalistas do país), 682 receberam ameaças (20,01%) e 432 foram vítimas do uso ilegítimo do poder público (12,68%). No total, mais de 58,51% do coletivo foram vítimas dessas práticas”.
O relatório integra as coletivas de imprensa matinais do presidente Andrés Manuel López Obrador, conhecidas como “mañaneras”, e relata 179 agressões que se replicaram em 20 entidades da República, repetindo 62 vezes o discurso estigmatizante por meio de frases como “submundo do jornalismo”, “hipócritas”, “imprensa fifi”, “conservadores”, “fantoches”, “dupla face” e “corruptos”.
Essa narrativa coincide com os dados de RSF que apontam que, na região das Américas, os líderes políticos estigmatizam cada vez mais os jornalistas e os meios de comunicação em seus discursos. Isso, junto às campanhas de desinformação, às ações judiciais abusivas e a propaganda estatal, fomenta a desconfiança da imprensa e favorece a polarização.Diante deste panorama, todos perdemos. A sociedade perde seu direito de estar informada, a contar com mídias plurais e independentes do poder do estado; o jornalismo perde ao limitar sua função na busca, na verificação e na comunicação da verdade; a democracia perde ao ter uma esfera pública débil, onde o debate e a deliberação é restrita. Por isso, é crucial a pergunta: a violência contra os jornalistas será prioridade para Claudia Sheinbaum?
Autor
Doutora em Pesquisa em Comunicação pela Universidade Anáhuac, México. Professora da Universidad Anáhuac e da Universidad Panamericana, Cidade do México.