Nos últimos 30 anos, o número de adultos com diabetes triplicou no continente americano, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde. As projecções da organização são alarmantes: até 2050, espera-se que os casos de diabetes na região aumentem 180%.
Na Argentina, as cifras também revelam uma dura batalha contra a obesidade e a diabetes, sendo a província de Tucumán um dos epicentros desta crise sanitária. De acordo com a Pesquisa Nacional de Factores de Risco, a prevalência da obesidade e da diabetes tem vindo a aumentar e, só em Tucumán, 27% dos adultos consideram-se obesos e 13% apresentam níveis elevados de açúcar no sangue. No entanto, nos últimos anos, vários estudos realizados nesta província argentina demonstraram que o aparecimento da diabetes mellitus 2 pode ser retardado ou prevenido em pessoas com sobrepeso e com tolerância diminuída à glicose, ou pré-diabetes.
Como é que se pode conseguir isso? A resposta está em duas variáveis: atividade física e alimentação saudável, que estão emergindo como os verdadeiros atores na prevenção da diabetes.
Argentina: un problema de saúde pública
Mais de 40.000 cidadãos de Tucumán afetados pela diabetes procuram assistência em programas públicos gratuitos de Atenção Integral à Obesidade e de detecção, prevenção e tratamento da diabetes mellitus. Estes programas promovem a atividade física como um elemento crucial na luta contra a diabetes. Para que a estratégia seja eficaz, é necessário que haja uma oferta adequada e acessível de espaços verdes públicos onde estas atividades possam ser desenvolvidas. Mas será que a simples presença de um parque ou de uma praça é suficiente para mudar o curso desta epidemia?
Pesquisadores do Instituto de Ecologia Regional, vinculado à Universidade Nacional de Tucumán e ao Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET), revelaram a desigualdade na oferta de espaços verdes na província. Um estudo de 2021, realizado nos cinco departamentos que abrigam 70% da população total da província, conhecidos como Grande San Miguel de Tucumán (GSMT), revela um desequilíbrio gritante na conceção e manutenção desses lugares. Não é apenas a quantidade de metros quadrados que é crucial, embora tenha sido calculada uma área de 6 m2 de espaço verde por habitante para o GSMT. A verdadeira problemática reside na qualidade destes espaços, muitas vezes marcada pela ausência de árvores, pela presença de resíduos e pela degradação das instalações, nomeadamente nas áreas marginais.
Para conseguir uma integração efetiva das demandas sociais, ambientais e de saúde no desenho de espaços verdes urbanos, é essencial que diversos setores trabalhem em estreita colaboração. Neste contexto, o setor de Saúde Pública de Tucumán, através de seus programas, e a Direção de Pesquisa em Saúde estão iniciando uma colaboração ativa com o Instituto de Ecologia Regional. Esta sinergia de esforços traduz-se em investigações orientadas para a melhoria da qualidade de vida, especialmente no que diz respeito à diabetes.
A prevenção não se baseia apenas nos espaços verdes, mas também na sua transformação. Trilhas saudáveis, bebedouros, áreas florestais e corredores seguros para esses lugares são medidas que podem ser a chave para mudar a narrativa da saúde-doença na província, integrando o ecossistema urbano como parte da solução.
Em suma, a ameaça crescente da diabetes exige uma resposta prática, que passa por unir esforços, reinventar os nossos hábitos alimentares e transformar de forma tangível os espaços verdes urbanos. A batalha contra a diabetes reside em ações decisivas tomadas hoje para forjar um amanhã mais saudável.
Autor
Bióloga, professora e pesquisadora do Instituto de Ecologia Regional (Universidade Nacional de Tucumán-CONICET), Argentina.
Epidemiologista, pesquisadora e membro da Diretoria de Pesquisa em Saúde do Ministério de Saúde Pública de Tucumán, Argentina. Coordenação de projetos de investigação na área de Epidemiologia e intervenções em Saúde Pública.