Em abril de 2026, quando os peruanos voltarem às urnas para eleger o próximo presidente da República, haverá um ator poderoso e silencioso que não figura nas cédulas eleitorais: a mineração ilegal.
Esse “partido invisível” movimenta milhões de dólares à margem da lei, controla territórios inteiros e demonstrou ter a capacidade de corromper e liquidar à direita e à esquerda. Seus tentáculos se estendem até o Congresso, onde tem aliados dispostos a perpetuar sua impunidade. Nem as operações policiais, nem as intervenções militares conseguiram conter um poder que já compete abertamente pelo controle político do país.
O Peru é, sem dúvida, um país minerador. Sua carteira de projetos de investimento chega a US$ 63 bilhões, distribuídos em 68 iniciativas que se estendem por todo o território nacional, evidenciando o enorme potencial desse setor para sustentar a economia nacional. Nos primeiros cinco meses de 2025, o investimento em mineração já somava US$ 1,845 bilhão.
Mas enquanto a mineração formal gera empregos, divisas e impostos, a mineração ilegal avança sem controle, drenando os recursos do Estado.
Segundo o Ministério da Economia e Finanças (MEF), essa atividade ilícita representa cerca de 2,7% do PIB peruano, uma magnitude similar à de um setor formal de médio porte. O Ministério Público calcula perdas superiores a S/22,7 bilhões por ano (mais de US$ 6,5 bilhões), e só entre 2023 e 2025 o Estado teria deixado de arrecadar S/7,5 bilhões (mais de US$ 2 bilhões) em impostos e royalties. Na verdade, ela se tornou um poder econômico paralelo.
Pior ainda, a mineração ilegal também origina uma série de problemas colaterais gravíssimos, como tráfico de pessoas (para fins sexuais e laborais), exploração de menores, prostituição forçada em acampamentos mineiros, corte ilegal de árvores, contaminação de bacias hidrográficas e rios com mercúrio, deslocamentos forçados de comunidades indígenas e um recrudescimento da violência criminal que, infelizmente, está em ascensão.
O epicentro mais violento dessa guerra é Pataz, na região de La Libertad, a 1.455 km ao norte de Lima, cujo governador é César Acuña, o homem mais poderoso do país depois da presidente, Dina Boluarte. Lá, nos últimos três anos, a empresa mineradora Poderosa registrou 18 trabalhadores assassinados em ataques ligados a gangues criminosas dedicadas à extração ilegal de ouro. Segundo a Sociedade Nacional de Mineração, Petróleo e Energia (SNMPE), o número total de vítimas mortais em Pataz já ultrapassa 50.
Este é, portanto, um negócio que, sob o brilho do ouro, esconde uma teia de violência, corrupção e destruição ambiental.
De onde vem seu poder? O impacto nocivo da mineração ilegal não seria possível sem apoio político. No Congresso, partidos e bancadas de esquerda como o Juntos por el Perú, liderado pelo ex-ministro Roberto Sánchez, têm sido fundamentais para manter vivo o sistema que protege os mineradores ilegais.
Sánchez foi um defensor ferrenho da prorrogação do chamado REINFO (Registro Integral de Formalização Minera) até dezembro deste ano, apesar de esse registro dever ter sido encerrado há muito tempo. A prorrogação equivale a conceder uma patente de corso àqueles que operam fora da lei, pois lhes permite continuar extraindo ouro sem controle, usar explosivos e até mesmo comercializar insumos proibidos fora do alcance da polícia sob o pretexto de um processo de “formalização” que nunca termina. Na prática, o REINFO se tornou um escudo de impunidade.
O vínculo entre o poder político e a mineração ilegal é muito visível no Parlamento. Segundo reportagens jornalísticas, mais de 75% dos congressistas da Fuerza Popular, Avanza País e Perú Libre apoiaram iniciativas que favorecem a desregulamentação da mineração. Ademais, ao menos 14 líderes do setor de mineração informal são filiados a partidos com representação parlamentar, como Renovación Popular — presidido pelo prefeito renunciante de Lima, Rafael López Aliaga —, Perú Libre, Juntos Por el Perú e Podemos Perú.
A mineração ilegal também está intimamente ligada às autoridades políticas locais e regionais. Pelo menos 59 prefeitos de diferentes regiões estão registrados no REINFO e uma alta porcentagem de governadores regionais foi investigada por corrupção, especialmente em áreas com atividade mineradora como Junín, Puno, Áncash, Arequipa, Madre de Dios, Huánuco, Tumbes e Ucayali.
O que nos garante que a mineração ilegal não continuará se infiltrando na política peruana em 2026? O que nos garante que, com o dinheiro que movimenta e a rede de cumplicidades que teceu, não poderá até mesmo colocar o próximo presidente da República no poder? Nada.
Porque, aconteça ou não, a mineração ilegal já é um ator político com recursos, influência e presença territorial. Seu avanço busca comprar vontades, intimidar o Estado e capturar instituições por dentro. Nas próximas eleições, sua sombra estará presente em todas as regiões, disputando silenciosamente o controle do futuro do Peru.
O que começou como um negócio clandestino pode acabar decidindo as eleições. Estamos avisados.
Tradução automática revisada por Isabel Lima

 
                                    

