A quinta onda do crime organizado promete ser um verdadeiro tsunami para as sociedades da América Latina e do Caribe. A combinação de avanços tecnológicos, crise climática, fragilidade institucional e rivalidade geopolítica está criando o coquetel perfeito para um ecossistema criminoso mais ágil, descentralizado e, certamente, muito mais difícil de combater.
Phil Williams, acadêmico de renome internacional e professor emérito da Universidade de Pittsburgh, projeta que, até 2040, as redes criminosas transnacionais terão a capacidade de integrar inteligência artificial, criptomoedas e drones em suas operações, aproveitando a corrupção e a instabilidade política para expandir sua influência.
De acordo com seu relatório, o tráfico de pessoas se tornará uma das atividades criminosas mais lucrativas, aproveitando as migrações massivas de populações vulneráveis afetadas por guerras e desastres naturais. Milhões de pessoas serão exploradas em redes de trabalho forçado e prostituição, alimentando um mercado ilícito em constante expansão. Como podemos nos preparar?
Um desafio estrutural na América Latina
Para entender de onde vem essa quinta onda, é essencial reconhecer que o crime organizado evoluiu em fases distintas: inicialmente, as máfias tradicionais surgiram na Itália, na China e no Japão, com estruturas hierárquicas e controle territorial. Posteriormente, o tráfico de narcóticos, especialmente heroína e cocaína, consolidou rotas internacionais e sofisticou as redes de distribuição. A globalização e as políticas neoliberais facilitaram o contrabando e o tráfico de mercadorias ilícitas através de fronteiras mais permeáveis. Hoje, o crime cibernético está explorando a Internet para atividades ilícitas, expandindo seu alcance global, e as redes de lavagem de dinheiro que usam criptomoedas foram recentemente desmanteladas, demonstrando a adaptação dessas organizações às novas tecnologias.
Ao mesmo tempo, o crime organizado na América Latina evoluiu em ciclos definidos por mudanças no ambiente geopolítico, avanços tecnológicos e dinâmicas econômicas complexas. Das máfias tradicionais ao crime cibernético, cada transformação impôs novos desafios aos sistemas de segurança e à governança. Em uma região tão vulnerável quanto a nossa, a quinta onda pode representar um ponto de inflexão, em que a convergência de fatores globais redefinirá a natureza das economias ilícitas e seu impacto sobre a estabilidade regional.
Um dos principais fatores dessa nova fase tem sido a competição geopolítica, especialmente em estados com regimes autoritários que facilitaram, deliberadamente ou por omissão, a expansão das redes criminosas transnacionais. A corrupção estrutural e a falta de capacidades institucionais permitiram a consolidação dessas organizações, reproduzindo a dinâmica histórica da região, onde a relação entre o crime organizado e o poder político evoluiu com diferentes governos em diferentes países.
Paralelamente, a mudança climática está criando um ambiente propício para a expansão de economias ilegais. A crescente escassez de recursos essenciais, como água e minerais estratégicos, transformou essas mercadorias em ativos de alto valor nos mercados ilícitos. Além disso, há o aumento da migração forçada devido a desastres naturais, o que impulsionou o tráfico de pessoas e o trabalho forçado como setores criminais em expansão.
Outro elemento decisivo é o progresso tecnológico. Ferramentas como a inteligência artificial foram incorporadas por organizações criminosas para otimizar suas operações, desde a automação de golpes até a geração de identidades falsas com deep fakes. No âmbito financeiro, os criptoativos se estabeleceram como um meio de lavagem de dinheiro, contornando as estruturas regulatórias tradicionais e dificultando o rastreamento de transações ilícitas.
Por fim, a crise de governança na América Latina enfraqueceu a capacidade de resposta do Estado. A convergência de instituições democráticas enfraquecidas, corrupção endêmica e extrema desigualdade fez da América Latina um terreno fértil para o crime organizado. Desde a década de 1980, a região tem experimentado uma evolução nas estruturas delitivas: de hierarquias centralizadas, como os cartéis de Medellín e Cali na Colômbia, a organizações mais fragmentadas e adaptáveis, como os grupos criminosos mexicanos. Como aponta o International Crisis Group, essa fragmentação permitiu que essas entidades diversificassem suas atividades ilícitas, aproveitando-se de vácuos institucionais e mercados emergentes, o que representa sérios desafios para a segurança e o desenvolvimento da região.
Urgem ações preventivas
Embora a quinta onda esteja projetada para 2040, as ações preventivas não podem esperar. As organizações criminosas da América Latina já estão incorporando tecnologias avançadas, como a inteligência artificial, para otimizar atividades ilícitas, incluindo lavagem de dinheiro, recrutamento e radicalização de menores, otimização de rotas de tráfico ilícito, engenharia social para tirar proveito de vários dados, criação automática de malware ou roubo de identidade, entre outras. Ao mesmo tempo, a flexibilidade e a adaptabilidade dessas redes permitem que elas se infiltrem nos mercados legais por meio de empresas de fachada, dificultando sua detecção e desmantelamento.
Embora seja verdade que a globalização tenha facilitado a conexão entre os centros de atividade criminosa em todo o mundo, criando hubs e superhubs que permitem o tráfico de drogas, armas e pessoas em escala global, é na ausência de Estados fortes que essas organizações geralmente fornecem formas paralelas de governança, oferecendo serviços básicos e impondo sua própria justiça, o que lhes permite ganhar legitimidade e apoio nas comunidades locais.
Portanto, um primeiro passo para mitigar o avanço sistemático do crime organizado na América Latina é fortalecer as instituições de segurança e justiça. Isso implica melhorar o treinamento e o equipamento das forças de segurança, bem como promover a cooperação internacional para compartilhar informações e coordenar esforços, conforme recomendado pela Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional.
Portanto, todos os esforços estatais necessários não devem ser negligenciados. Desde a implementação de regulamentações que dificultem o uso de tecnologias avançadas por organizações criminosas, sem impedir a inovação e o desenvolvimento tecnológico, até a abordagem das causas subjacentes do crime organizado por meio de políticas de inclusão social e desenvolvimento econômico que reduzam a pobreza e a desigualdade. A promoção da educação e a conscientização sobre os riscos do crime organizado, juntamente com a participação ativa da sociedade civil, são igualmente fundamentais para essa estratégia.
Em suma, ações abrangentes são essenciais para combater efetivamente o impacto do crime organizado na região e a chegada dessa quinta onda, que apresenta desafios sem precedentes para a América Latina. Para enfrentar o tsunami iminente, é essencial que os governos e as instituições da região tomem medidas preventivas e proativas agora para fortalecer suas capacidades.
Entretanto, o foco deve estar na corrupção e na subestimação do problema, dois fatores que podem facilitar o crescimento e a expansão de uma ameaça potencialmente devastadora para nossa região. É imperativo agir agora com determinação e coordenação. Estamos avisados.
Tradução automática revisada por Giulia Gaspar.