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A saúde mental de uma região em crise: o suicídio na América Latina

Apesar da decisão de tirar a própria vida ser individual, as implicações sociais do suicídio são substanciais em termos de saúde e bem-estar de uma comunidade e da sociedade como um todo.

O suicídio é a causa de mais de 703.000 mortes por ano no mundo, o que equivale a uma pessoa tirando a própria vida a cada 40 segundos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A saúde mental não era um tema de discussão há anos, mas, após a pandemia de COVID-19, retomou a importância que merece, embora não nos níveis necessários para a implementação de políticas específicas. De fato, é a quarta principal causa de morte a nível global e a terceira na América Latina, onde, em 2019, cerca de 98.000 pessoas entre 15 e 29 anos tiraram a própria vida, segundo a OMS.

Em 2000, a taxa de suicídio na América foi de 7,53 suicídios por 100.000 habitantes, em contraste com 21,88 suicídios por 100.000 habitantes na Europa, segundo dados de Burden of Suicides da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Em 2019, a taxa de suicídio na América aumentou para 9,64, enquanto na Europa caiu para 12,76.

De acordo com a mesma fonte, durante o período de 2000-2019, a maior taxa de suicídio foi registrada nos Estados Unidos e no Canadá, em comparação com o resto dos países da região. Na América Latina e no Caribe, o Uruguai é o país com a maior taxa de suicídio (15,51), o dobro da média da região (6,5).

A saúde mental considera vários aspectos, como a saúde emocional, cognitiva e comportamental, bem como a capacidade de lidar e se adaptar de forma eficaz aos desafios da vida. Essas condições de boa saúde mental exigem compreender a saúde como um bem comum e implicam que o bem-estar da sociedade depende da participação e do compromisso de todos os seus membros para alcançá-lo.

 No entanto, quando esse estado de bem-estar é afetado, diversos transtornos podem se manifestar como resultado da angústia emocional. A dor e a angústia excessivas podem levar as pessoas a pensar em suicídio.

Apesar da decisão de tirar a própria vida ser individual, as implicações sociais do suicídio são substanciais em termos de saúde e bem-estar de uma comunidade e da sociedade como um todo. Por esses motivos, esse fenômeno deve ser considerado um problema de saúde mental e de saúde pública que exige ação conjunta dos governos, das instituições de saúde e da sociedade em geral para ser resolvido.

A OMS considera quatro ações chaves para melhorar essa situação: 1) promoção, que busca incidir nos determinantes favoráveis (fatores de proteção, ou seja, condições que favorecem a diminuição da vulnerabilidade de uma pessoa ao suicídio e o aumento de sua capacidade de lidar com as dificuldades) para a saúde da sociedade; 2) prevenção, que busca detectar e tratar com antecipação as pessoas com maior risco de suicídio; 3) intervenção, que consiste em dar apoio e tratamento ao indivíduo que tentou suicídio, bem como à sua família; e, por fim, 4) o enfoque multissetorial, que promove a colaboração e a coordenação entre diferentes setores da sociedade.

Para que a intervenção da política pública seja eficiente e eficaz, é um requisito fundamental que os Estados garantam a estabilidade fiscal para que as intervenções sejam sustentáveis. A perspectiva econômica é relevante devido à cumprimento das regras fiscais, mas também porque a perda de vidas devido ao suicídio tem repercussões na força de trabalho e na produtividade dos países.

A participação do Estado tem um papel primordial na implementação de políticas públicas, que são possíveis graças ao investimento do governo. De acordo com dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), os gastos com saúde como porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB), em média entre 2000 e 2019, representaram aproximadamente 7,21% do orçamento total dos governos latino-americanos. Apresentou um aumento gradual, com um mínimo de 5,84% em 2003 e um máximo de 11,86% em 2019.

O país da região que alocou o maior orçamento ao setor de saúde no período analisado foi o Chile (3,97% do PIB). No entanto, esse valor é relativamente baixo, pois é inferior ao menor percentual destinado ao setor de saúde por um país europeu, a Letônia, que destinou 4,17% do seu PIB.

De acordo com o World Bank Open Data, o gasto em saúde mental como porcentagem do gasto total em saúde na região é liderado por Jamaica e Costa Rica, com 6,04% e 2,91%, respectivamente. Outros países, como Paraguai e Peru, destinam uma fração menor de seus recursos, com apenas 0,31% e 0,27%, respectivamente. Essa alocação de gastos com saúde mental destaca as prioridades de gastos dos governos com o tema.

No curto prazo, é crucial apostar na capacitação de pessoal de saúde para enfrentar casos de automutilação e sinais de doenças psicológicas. Embora no longo prazo seja necessário avaliar os resultados das políticas públicas já implementadas, como a criação e manutenção de infraestruturas médicas, em termos tangíveis; e esforços para reduzir o estigma associado a certas condições de saúde, como problemas de saúde mental, no intangível.

O impacto do aumento do gasto público em saúde não se manifesta de imediato, o investimento na saúde mental dará resultados a longo prazo e, embora os retornos políticos não sejam tão evidentes nas eleições esperadas, o investimento na saúde em geral é crucial para o bem das famílias e dos países. Espero que a classe política latino-americana entenda que os verdadeiros estadistas devem pensar na próxima geração e não na próxima eleição.

Autor

Economista. Professora de Economia na Univ. das Américas - UDLA (Equador). Doutoranda no Programa de Estado de Direito e Governança Global da Universidade de Salamanca.

Economista formado pela Universidade das Américas, especializado em políticas públicas e seu impacto nas questões de saúde, educação e mobilidade humana.

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