A maioria dos mexicanos naturalizou a violência em suas vidas. Se cuidam minimamente, pagam extorsões e tentam não se meter em problemas. Muitos outros, que não podem ou não querem pagar as imposições, protestam com medo, alguns perdem a vida ou veem seus familiares desaparecerem. E outros são obrigados a entrar na lógica criminosa e acabam sofrendo as consequências.
Compreender a violência no México exige um olhar além dos dados nacionais, pois cada município reflete dinâmicas próprias onde confluem fatores sociais, políticos e criminais que moldam realidades contrastantes. Para dimensioná-la adequadamente, é necessário analisá-la a partir do nível local, onde se observa como coexistem, em uma mesma entidade federativa, territórios com alta conflitividade, zonas sob controle criminoso e regiões onde a presença do Estado é quase imperceptível. No caso mexicano, essa complexidade se manifesta em quatro cenários distintos de violência, que refletem a diversidade de contextos e desafios que o país enfrenta.
Quatro cenários de violência
O primeiro cenário de violência é o que se apresenta em municípios com grande presença do Estado e do crime organizado, onde o índice de homicídios é muito alto e supera as taxas de 60 por cem mil habitantes, superando em diferentes anos taxas de 100. Municípios com mais de meio milhão de habitantes, como Tijuana (Baixa Califórnia) e Ciudad Juárez (Chihuahua), ultrapassam as 1.000 mortes violentas por ano, enquanto Cancún (Quintana Roo), Acapulco (Guerrero), Celaya ou Irapuato (Guanajuato) têm números que variam de 500 a 800 homicídios por ano. Entre os municípios com menos de meio milhão de habitantes destacam-se Playa del Carmen, Tulum (Quintana Roo) ou Cajeme (Sonora), entre outros.
O segundo cenário corresponde à maioria das áreas urbanas, que apresentam taxas de homicídios que variam de 10 a 30 por 100.000 habitantes. Em geral, ultrapassam 200 homicídios por ano, e estes concentram-se especialmente nas áreas marginais das áreas metropolitanas de cidades como Guadalajara e Monterrey, ou em bairros da Cidade do México como Iztapalapa ou Cuauthémoc, entre outros.
O terceiro cenário se encontra em zonas onde a presença do Estado não é forte ou constante e onde a dinâmica de confronto entre grupos do crime organizado faz com que as taxas de homicídios superem os 50 por 100 mil habitantes. Esse contexto se encontra especialmente em áreas rurais de municípios de Michoacán, Guerrero, Oaxaca e, mais recentemente, em diferentes municípios de Sinaloa e Tabasco.
Finalmente, o quarto cenário é aquele onde o crime organizado tem o controle do território e o Estado não tem presença efetiva. Nesses espaços, há índices moderados e baixos de violência homicida, mas presume-se que haja um número significativo de desaparecidos e que os cidadãos estejam sujeitos ao controle social e político dos criminosos. Isso ocorre especialmente em Tamaulipas, Veracruz e regiões do sudeste mexicano, como Tabasco, Chiapas, Campeche e as comunidades rurais de Quintana Roo.
Um Estado falido?
No caso dos dois primeiros cenários, a presença importante do Estado torna inadequado apontar a fraqueza estatal; no entanto, é muito claro que a resposta do Estado tem sido claramente ineficiente para controlar a violência. Até o momento, as diferentes estratégias de gestão da insegurança fracassaram no México.
Quanto ao terceiro e quarto cenários, pode-se abrir o debate sobre se, nesses casos, podemos falar de um Estado falido e como ele deve se fortalecer para recuperar a governabilidade democrática efetiva. A falta de policiais profissionais, bem pagos e confiáveis em nível local, e a aposta em uma resposta militarizada à violência tornam muito difícil gerenciar essas situações, pois não há presença nem inteligência efetiva no território.
O quarto cenário é particularmente delicado porque demonstra que os indicadores de homicídios não são determinantes para saber se o crime organizado tem controle efetivo sobre a população. E sem um conhecimento profundo do terreno, é muito difícil saber se estamos diante de uma zona livre de violência ou diante de uma zona controlada por grupos do crime organizado.
Persistência da violência
A violência tem persistido ao longo dos anos em amplas zonas do país e se desloca pontualmente, conforme algum conflito eclode ou algum acordo é alcançado. Ela está presente em todo o território nacional, mas, para ser interpretada, deve ser analisada com atenção no nível local. Os esforços das autoridades para maquiar os números de homicídios em todo o país não conseguem ocultar sua importante dimensão e impacto, que, além disso, se complica com o aumento do número de desaparecidos, que em 2015 não chegava a 4.200 e em 2024 ultrapassou 13.200.
As questões para os próximos anos centram-se em saber se a estratégia da atual administração de Claudia Sheibaum dará resultados (até ao momento, não se vislumbra uma mudança na tendência) e quais são os efeitos das leis antiterroristas aprovadas pelos Estados Unidos.
O que acontecerá se os Estados Unidos obrigarem a suspender o pagamento de extorsões, alegando que elas representam uma colaboração com atividades terroristas?
Tradução automática revisada por Isabel Lima










