As migrações geram grandes transformações sociais. Essas mudanças, especialmente em países que recebem fluxos migratórios maciços em curtos períodos de tempo, muitas vezes acabam levando a situações complexas em torno de temas como a adaptação cultural ou o emprego. A migração venezuelana na Colômbia tem impactado fortemente em vários aspectos da sociedade colombiana e implica em grandes desafios. No entanto, ao contrário do que muitos acreditam, os números disponíveis não parecem indicar que os migrantes venezuelanos tenham afetado significativamente as oportunidades de emprego dos colombianos, exceto no setor de trabalhos informais de baixa qualificação.
Venezuela e Colômbia têm uma longa história de movimentos populacionais. Na segunda metade do século XX, centenas de milhares migraram para a Venezuela em busca de trabalho e de oportunidades de progresso. No final do século passado, a região de Norte de Santander e Santander do Sul (Cúcuta e Bucaramanga) alcançou um bom desenvolvimento como fontes de alimentos e produtos manufaturados para o mercado venezuelano. A migração permanente provavelmente diminuiu, mas se criou um tecido empresarial e um mercado de trabalho que atravessou fronteiras (sem que os governos intervissem, exceto em casos muito especiais). Na última década, porém, o fluxo se inverteu e uma maré de venezuelanos cruzou a fronteira em busca de uma vida melhor. O movimento migratório ao longo dos anos tem sido tão significativo que hoje não se sabe ao certo quantos dos imigrantes recentes são venezuelanos e quantos são colombianos ou descendentes de ex-emigrantes que retornam ao país.
O que se sabe é que o fluxo migratório tem aumentado de maneira considerável desde 2013. Algumas fontes dizem que, entre 2013 e 2017, o número de venezuelanos quadruplicou, ultrapassando meio milhão. De acordo com o Departamento Nacional de Estatísticas da Colômbia (DANE), em 2019 já eram 1,77 milhões, mais do que o tamanho de Barranquilla, a terceira maior cidade da Colômbia (1,27 milhões de habitantes). A pandemia, entretanto, não apenas freou a migração, mas gerou um fluxo inverso com a redução de 41.000 venezuelanos em um ano.
O retorno dos venezuelanos devido à falta de oportunidades devido à pandemia parece indicar que pelo menos uma parte deles é sensível às mudanças econômicas e/ou políticas nos dois países. As recentes medidas do governo colombiano para permitir que os venezuelanos obtenham a cidadania em um curto período de tempo provavelmente vai acelerar os processos migratórios, mas não necessariamente os libertará do status de imigrante.
Por outro lado, a população migrante é, em média, significativamente mais jovem que a população colombiana. De acordo com o DANE, quase seis em cada dez venezuelanos têm menos de 25 anos, em comparação com pouco mais de quatro em cada dez entre os colombianos. Além disso, quase um quarto dos venezuelanos têm 10 anos de idade ou menos.
Os imigrantes e o mercado de trabalho
O efeito da migração venezuelana sobre o mercado de trabalho colombiano não é fácil de avaliar já que não há dados ou estudos suficientes. Entretanto, é possível apresentar algumas hipóteses baseadas no que é conhecido. Claramente, esta nova população constitui um aumento na oferta laboral e possivelmente terá efeitos econômicos sobre os níveis de emprego e remuneração. Mas é também um fator de aumento da demanda por bens e serviços que gera expansão de mercado e oportunidades para expansão da produção.
Para entender o impacto no mercado de trabalho, é necessário levar em conta o fato de que quase um quarto dos migrantes tem 10 anos de idade ou menos e, portanto, não participa do mercado de trabalho. Além disso, segundo dados da Migración Colombia, apenas 44% são imigrantes regulares, o que implica que a grande maioria está nos setores informal e de baixa produtividade.
Em geral, os imigrantes venezuelanos, especialmente os recentes e pouco qualificados, têm estado localizados relativamente perto da fronteira, especialmente nas cidades de Cúcuta, Barranquilla, Cartagena, no departamento de La Guajira e nas áreas costeiras do norte. No entanto, uma boa proporção chegou a Bogotá (a quase 600 quilômetros de distância). Em termos de ocupação, eles são predominantemente empregados em serviços pessoais que requerem pouca qualificação, como salões de beleza e cabeleireiros, entregas a domicílio e comércio informal.
A única pesquisa estatística econômica conhecida sobre o efeito dos migrantes da Venezuela foi feita no Equador, onde o peso relativo da imigração em relação à população do país é semelhante ao da Colômbia (cerca de 3%) e as características dos migrantes são semelhantes. O estudo “The Labor Market Effects of Venezuelan Migration in Ecuador” conclui que, no caso do Equador, não se pode encontrar nenhum efeito significativo da migração no mercado de trabalho em geral, mas se observa uma redução na qualidade do emprego e da renda entre os jovens com baixos níveis de educação. Dadas as semelhanças, é possível que algo semelhante esteja acontecendo na Colômbia.
Foto de Carlos Felipe Pardo
Autor
Economista. Consultor de organismos nacionais e internacionais. Especializado no mercado de trabalho, gênero e discriminação. Professor de várias universidades no Canadá e na Colômbia. Doutor pela Universidade de Toronto.