Uma região, todas as vozes

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Da sala de aula ao ministério: como o Chile está integrando a voz das crianças na governança digital

O Chile avança na governança digital ao incorporar a participação ativa de crianças na tomada de decisões, levando suas vozes da sala de aula para as políticas públicas.

O que um laboratório escolar, um centro de dados de última geração e um conselho formal de meninos, meninas e adolescentes têm em comum? A resposta é cada vez mais clara: as infâncias digitais têm a capacidade de trazer visões novas e fundamentadas e incidir em decisões que marcarão seu futuro.

Em 30 de junho de 2023, o Ministério de Ciência, Tecnologia, Conhecimento e Inovação do Chile (MinCiencia) criou o primeiro Conselho de Meninas, Meninos e Adolescentes (CNNA, sigla em espanhol), com 16 representantes; o CNNA será renovado este ano e terá representatividade de todas as regiões e garantirá a paridade de gênero.

Este marco vai além do simbolismo: reconhece que os “nativos digitais” não só consomem tecnologia, mas também podem elaborar políticas mais sustentáveis e inclusivas. Eles compreendem intuitivamente os riscos e oportunidades do ambiente digital e, mais importante, querem ser ouvidos, representar suas ideias e ser um fator de mudança na tomada de decisões políticas.

Com essa iniciativa, o Chile dá um passo firme no cumprimento do artigo 12 da Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, que estabelece o direito das crianças de expressar sua opinião em todas as questões que as afetam.

E não faltam motivos: a infraestrutura digital do país cresceu de forma exponencial, com uma capacidade instalada de centros de dados que passou de 35 MW em 2013 para 198 MW em 2023. Prevê-se que este número triplique em cinco anos. Para enfrentar este auge, o Governo submeteu o Plano Nacional de Centros de Dados a consulta pública. Também lançou em 2021 a Estratégia de Desenvolvimento e Transferência Tecnológica para as Mudanças Climáticas (EDTTCC), orientada à neutralidade de carbono em 2050, e um marco metodológico que integra atores estatais, sociedade civil e ciência. Mas nesses processos, as vozes das meninas, meninos e adolescentes (NNA, sigla em espanhol) têm estado ausentes.

Os NNA de hoje são nativos digitais, cuja socialização e aprendizagem ocorreram em entornos hiperconectados.

Um relatório da UNICEF de 2021 estimou que um em cada três usuários da internet é menor de idade e destacou a necessidade de incorporar suas perspectivas para equilibrar os riscos e oportunidades da era digital. Não se trata de ceder decisões complexas, mas de aproveitar sua experiência direta: eles conhecem melhor do que ninguém as lacunas de acesso, as falhas de privacidade e os limites e possibilidades da inteligência artificial. Sua participação não é só um direito, é uma oportunidade para enriquecer a elaboração de políticas públicas.

O Chile, ao formalizar um conselho de NNA, dá um exemplo regional; ademais, começou a institucionalizar essa participação também através do programa Explora do MinCiencia, que há 30 anos promove a socialização do conhecimento e o pensamento crítico na comunidade educacional e que, em 2025, completará 30 anos desde sua criação.

Quem afirma que “as crianças não têm maturidade suficiente” tendem a subestimar o poder de uma boa metodologia participativa. A experiência da Finlândia demonstra que, com formação e acompanhamento adequados, crianças e adolescentes podem contribuir de forma rigorosa e eficaz. Um exemplo é o projeto RuutiBudjetti, que desde 2013 ampliou o orçamento participativo da cidade de Helsinque para o âmbito juvenil, permitindo que maiores de 12 anos propusessem e votassem o uso de fundos públicos. Longe de ser um caso isolado, a Finlândia institucionalizou espaços de co-design com jovens, mostrando que a combinação de preparação técnica e apoio especializado gera propostas criativas e viáveis.

Para que outros países possam seguir o exemplo do Chile, é necessário avançar na criação de espaços reais de participação para os NNA em setores-chave como energia, uso de dados ou mudança climática. Esses espaços devem assegurar uma representação diversificada, por regiões, gênero e condições socioeconômicas, e contar com metodologias adaptadas às suas idades e contextos.

Isso implica oferecer workshops prévios de formação técnica em linguagem acessível, combinados com pesquisas virtuais e diálogos presenciais moderados por especialistas. De fato, o próprio Ministério da Ciência do Chile começou a institucionalizar essa lógica participativa em seu Plano de Ação 2024-2032, no âmbito da Lei nº 21.430 de Garantias e Proteção Integral dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Mas não basta ouvi-los: suas propostas devem ser formalmente incorporadas em políticas públicas, leis-quadro e relatórios oficiais, e deve ser publicado com transparência o quanto das sugestões dos NNA é realmente implementado. Ademais, esse impulso pode ser ampliado se forem construídas redes internacionais de conselhos juvenis, articulando esforços entre ministérios da ciência da América Latina, Europa e América do Norte para compartilhar experiências, metodologias e projetos conjuntos.

Essas ações não são só necessárias, mas perfeitamente viáveis. O Chile já demonstrou que é possível convocar e estruturar um conselho de crianças e adolescentes com apoio institucional. A Finlândia, por sua vez, provou que investir na formação e participação juvenil gera resultados concretos em termos de transparência e bem-estar coletivo.

O que ambos os casos evidenciam é que as crianças não são simples destinatárias de políticas públicas, mas agentes com saberes próprios, preocupações legítimas e direitos a exercer. Incorporar suas vozes não só enriquece os processos de tomada de decisão, mas também traz criatividade, legitimidade democrática e uma visão de longo prazo.

O futuro tecnológico e climático está sendo definido neste momento. E é possível que seus protagonistas mais visionários ainda não tenham completado 18 anos. Estamos dispostos a ouvi-los?

*As autoras agradecem à Dra. Alexandra Mallett, professora associada da Escola de Políticas Públicas e Administração (SPPA) da Universidade de Carleton, por suas contribuições.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

Autor

Mestre em Comunicação e Ciência Política. Responsável por engajamento público e relações com a mídia no Ministério da Ciência, Tecnologia, Conhecimento e Inovação do Chile.

Cientista interdisciplinar com foco em tecnologias emergentes e educação científica. Fundadora do Ciencia Sí, um projeto de comunicação científica pública. Especialista em diplomacia científica e atualmente pesquisadora do Centro de Diplomacia Científica do IAI.

Doutoranda em Estudos de Ciência e Tecnologia pela Universidade York, Canadá. Possui uma bolsa de estudos em Política Científica e Tecnológica (STeP) do Instituto de Pesquisa sobre Mudanças Globais (IAI).

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