A poucos dias do primeiro debate entre candidatos à presidência do México, o que podemos esperar? Uma deliberação sólida com argumentos sobre os principais problemas que afetam os mexicanos? Ou confrontação, banalização e ataques constantes?
O ideal seria a deliberação de propostas que propiciem o diálogo entre os interlocutores. No entanto, como vimos, os debates não são debates. O debate de 2018, por exemplo, é lembrado por frases como “Necessitamos apertar a mão de quem rouba no serviço público”, do candidato independente Jaime Rodríguez Calderón, o El Bronco, ou “São uns hipócritas”, de Ricardo Anaya Cortés, da coalizão Por México al Frente, ou “Ricky Riquín Canallín”, como o chamou Andrés Manuel López Obrador, do partido Morena. Mais do que debates, os candidatos nos oferecem brigas e momentos incômodos.
Em seu livro Alegato por la deliberación pública, Raúl Trejo Delarbre destaca que a decadência do debate público faz com que os candidatos se preocupem mais com respostas do que com propostas. Além disso, as redes sociodigitais influenciam a substituição do discurso por dados.
As fake news e o algoritmo não só marcaram o processo eleitoral, mas a agenda nacional e internacional, e isso pode ser outra limitação que restringe a deliberação. Agora, a crise não é só do diálogo, mas também da escuta e da observação diante a infodemia e a espetacularização que obscurece os argumentos, a troca de ideias, o consenso e o dissenso.
Nas campanhas eleitorais que começaram em 1º de março, vimos todos os tipos de recursos que os candidatos se valem para obter proximidade, empatia e preferência de voto, mas esses esforços são insuficientes diante dos problemas glocais.
Sobre esse último ponto, por exemplo, em um ato de campanha, Xóchitl Gálvez, candidata da coalizão Fuerza y Corazón por México, firmou o “pacto de sangue” picando-se no dedo e assinando uma promessa em papel de não eliminar os programas sociais. Por sua vez, a candidata do partido governista, Claudia Sheinbaum Pardo, disse no início da campanha “que a corrupção continue”, e se corrigiu com “que a transformação continue”. E Jorge Álvarez Máynez, do partido Movimiento Ciudadano (MC), que foca sua proposta em temas de segurança, afirmou em sua narrativa de campanha que “em 90 dias daria a volta por cima”, o que, aliás, não o favorece.
Nesse contexto, parece que se não há desqualificação, não há debate. Mas se há desqualificação, cria-se um vácuo de comunicação em que a forma vence a substância. É por isso que os debates são usados pelos candidatos para se posicionarem nas pesquisas e saírem “vitoriosos”. Por isso, é comum que, ao concluir o debate, todos se declarem vencedores sem refletir sobre o conteúdo de sua intervenção e seu possível impacto no termômetro social.
Embora em matéria eleitoral nada tenha sido dito, é assim que abordamos o primeiro debate, que será realizado no dia 7 de abril na sede do Instituto Nacional Eleitoral (INE). Algo peculiar é que, pela primeira vez, as perguntas dos cidadãos serão selecionadas através de redes sociodigitais, o que o instituto chamou de “Formato A”.
O segundo debate ocorrerá em 28 de abril nos Estudios Churubusco com um “Formato B”, com perguntas feitas pelos cidadãos, e o terceiro e último será em 19 de maio no Centro Cultural Universitario Tlatelolco às 20h. Como vemos, todos ocorrerão na Cidade do México.
Nesse sentido, apesar de alguns acertos, como a incorporação de perguntas do público através de redes sociodigitais, é necessária a deliberação, mais substância e talvez menos forma. Embora a sociedade exija propostas, respostas e ações próximas à sua realidade, a verdade é que a chamada “guerra suja” entre os candidatos segue vigente.
Por isso, os três debates são obrigatórios. Mais do que um espetáculo similar a uma luta de boxe em que ganha o que conecta mais nocautes, o que precisamos é de um debate de altura e de um diálogo com a sociedade que responda aos desafios que o país enfrenta. E agora ainda mais, já que essa disputa é histórica: dos três concorrentes, duas são mulheres que lideram as pesquisas. Se os resultados as favorecerem, será a primeira vez que o México terá uma presidenta mulher que terá de resolver temas emergentes como insegurança, crise migratória, meio ambiente, corrupção, violência de gênero, pessoas desaparecidas, etc. Embora não sejam questões novas, elas se aprofundaram, portanto o debate e a deliberação são a oportunidade de mostrar outras formas de fazer política e abandonar estratégias desgastadas.
Complacência, superficialidade e ataque são as características de nossos debates presidenciais, e com eles perdemos o que importa: as propostas. Mas devemos nos perguntar: deliberação ou confronto? Descobriremos nas próximas edições.
Autor
Doutora em Pesquisa em Comunicação pela Universidade Anáhuac, México. Professora da Universidad Anáhuac e da Universidad Panamericana, Cidade do México.