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Peru homenageia Fujimori, o ex-presidente condenado por crimes contra a humanidade

Além das percepções e paixões em torno de sua figura e do indulto humanitário que recentemente permitiu-lhe sair da prisão, o fato é que foi condenado por corrupção, tráfico de armas, desvio de dinheiro e graves violações aos direitos humanos.

As eternas discussões sobre o êxito das medidas econômicas e antiterroristas de Alberto Fujimori não acabaram, mesmo que sua vida tenha chegado ao fim. Sua presença na política peruana, desde 28 de julho de 1990, quando surpreendentemente chegou ao poder, marcou o país andino, que está dividido eleitoral e socialmente em dois, entre os que são fujimoristas e os que são anti-fujimoristas.

Além das percepções e paixões em torno de sua figura e do indulto humanitário que recentemente permitiu-lhe sair da prisão, o fato é que foi condenado por corrupção, tráfico de armas, desvio de dinheiro e graves violações aos direitos humanos, pelos massacres de Barrios Altos e La Cantuta.

Por esses últimos casos, em 2009, a Câmara Penal Especial da Suprema Corte o considerou responsável como “autor mediato”, uma qualificação dada à quem, sem executar diretamente o crime, o realiza através de intermediários com perfeito conhecimento e instrumentalização dos meios para perpetrar os atos.

O delito foi homicídio qualificado com dolo, lesão corporal grave e sequestro qualificado. Durante o julgamento, também ficou estabelecido que foi responsável pelo sequestro do jornalista Gustavo Gorriti e do empresário Samuel Dyer. Ambos foram mantidos nas masmorras do Serviço de Inteligência.

Após o veredicto, Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão. Essa foi a primeira vez na história da América Latina que um ex-presidente foi julgado e condenado em seu próprio país por tais crimes contra a humanidade, que violam o Direito Penal Internacional.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) qualificou o caso Barrios Altos como graves violações de direitos humanos e o caso La Cantuta como crimes contra a humanidade.

Os assassinatos foram realizados por membros do Grupo Colina, um destacamento de inteligência e esquadrão da morte liderado pelo Major do Exército Santiago Martín Rivas que, sob o controle e as ordens de Fujimori, eliminou civis suspeitos de serem terroristas em meio à guerra antissubversiva contra organizações como o Sendero Luminoso e o MRTA (Movimento Revolucionário Tupac Amaru).

O primeiro dos eventos, ocorrido em 3 de novembro de 1991, consistiu no assassinato de 15 pessoas em uma casa localizada na área de Barrios Altos, no centro de Lima, muito próximo ao Palácio do Governo. Essas pessoas participavam de uma pollada, uma festa familiar ou amigável realizada no Peru em que se vende comida para arrecadar fundos com um fim em particular, e foram surpreendidas por indivíduos encapuzados e armados que invadiram a casa. Depois de ordenar que se deitassem no chão, atiraram neles sem hesitar.

Uma das pessoas mortas era uma criança de apenas 8 anos. Além dos mortos, outras quatro pessoas ficaram gravemente feridas. Os atiradores eram membros do Grupo Colina, que confundiram a reunião com uma festa secreta de membros do Sendero Luminoso.

O segundo caso remonta a 18 de julho de 1992, três meses após o autogolpe por meio do qual Fujimori dissolveu o Congresso e interveio em todas as instituições públicas do país para se manter no poder. Naquele dia, nove estudantes e um professor da Universidade Nacional de Educação Enrique Guzmán y Valle, mais conhecida como La Cantuta, foram sequestrados durante a madrugada e posteriormente desapareceram, também por membros do Grupo Colina.

Os restos mortais de dois deles foram encontrados cobertos de cal em covas clandestinas localizadas em Cerro Santa Rosa, no distrito de Lurigancho-Chosica, enquanto o corpo do professor Hugo Muñoz Sánchez foi queimado, dificultando sua identificação. Após uma denúncia pública feita pelo então congressista Henry Pease, os corpos foram desenterrados, cremados e transferidos para novos túmulos clandestinos no distrito de Cieneguilla, longe da cidade. Os restos mortais de cinco vítimas ainda não foram encontrados.

Segundo o relatório final da Comissão da Verdade e Reconciliação, criada em julho de 2021 durante o governo de transição de Valentín Paniagua para investigar crimes e violações de direitos humanos ocorridos entre maio de 1980 e novembro de 2000 pelo Estado e grupos terroristas, esse tipo de ataque foi uma prática sistemática e generalizada de execuções arbitrárias e desaparecimentos forçados como parte da estratégia antissubversiva.

Fujimori, segundo a justiça nacional e internacional, foi a mente por trás desses ataques sangrentos. Após sua morte em 11 de setembro, aos 86 anos, o atual governo decidiu homenageá-lo, segundo o protocolo oficial para o funeral de um ex-presidente.

 O tempo julgará seu lugar na história.

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Jornalista peruano especializado em Política. Mestre em Comunicação Corporativa pela Universidade de Barcelona. Graduado em Jornalismo e Audiovisual com experiência em apresentador de TV, comunicação social e corporativa.

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