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Subestimamos o impacto da mudança climática na educação

Co-autora Carole Faucher

Além de devastar o gado, as colheitas, as casas – em essência, as fontes de renda e as condições de bem-estar das pessoas – os furacões são especialmente cruéis com a educação. Danificam e destroem a infraestrutura escolar, equipamentos e material didático, e as consequentes inundações e deslizamentos de terra impedem o acesso de professores e alunos às escolas. Na sequência, as escolas são muitas vezes utilizadas como refúgios, levando a uma interrupção ainda maior das aulas. Os números são espantosos: em 2016, o furacão Matthew danificou 300 escolas no Haiti; em 2021, Eta e Iota afetaram 76 escolas na Nicarágua e 340 na Guatemala.

A mudança climática está provocando fenômenos meteorológicos mais frequentes e graves, e 2022 não é exceção. Como exemplo, em 2020, a temporada de furacões mais ativa da história do Atlântico, apresentou 30 tempestades com nome, incluindo 14 furacões, dos quais sete se tornaram furacões importantes. As tempestades nunca vêm sozinhas; nesse mesmo ano, elas coincidiram com o pico da pandemia de Covid-19, que deixou 170 milhões de estudantes sem um de cada dois dias efetivos de aula em mais de dois anos na região. O impacto no comparecimento e, portanto, nas conquistas de aprendizagem, são sem precedentes, assim como o aumento das taxas de deserção. Calcula-se que a perda equivale a 1,5 anos de aprendizagem.

O impacto do calor extremo sobre o desenvolvimento das crianças

Ainda assim, espera-se que fenômenos relacionados com a lenta mudança climática sigam sendo produzidos na América Latina e no Caribe, como o aumento das temperaturas da superfície e dos oceanos, e da frequência e intensidade das ondas de calor e secas. Mas os tomadores de decisão desconhecem a repercussão do calor extremo no desenvolvimento das crianças desde o momento em que estão no ventre materno e, durante os anos escolares, em sua capacidade de concentração nas aulas e em seu bem-estar geral. Tudo isso significa que completar a educação secundária, um determinante chave das oportunidades de vida, tornou-se mais difícil.

Ao mesmo tempo, devemos considerar que a escola deve ser algo mais do que um lugar de aprendizagem; deve proporcionar um espaço para que os estudantes desenvolvam conexões sociais e emocionais, como destacado na recentemente publicada Avaliação Internacional de Ciência e Educação Baseada em Evidências (ISEE). Entretanto, embora este relatório da UNESCO afirme que a mudança climática tem o potencial de debilitar a coesão e interação social, não identifica explicitamente como. À luz disso, é crucial que todos concordemos que, sem infraestrutura escolar ou acesso físico às escolas, os estudantes têm menos oportunidades de criar relações através das quais podem florescer.

O marco das Escolas Promotoras de Saúde (EPS) da OMS impulsionou apropriadamente a noção de que a política e os programas educacionais devem prestar atenção ao entorno físico da escola. lamentavelmente, o enfoque da EPS nunca decolou realmente na América Latina e no Caribe, apesar do fato de que em uma alta porcentagem das escolas, o acesso às necessidades mais básicas, como água potável, saneamento e higiene, segue sendo extremamente limitado.

Ademais, embora a EPS proporcione um enfoque teórico útil, sua suposição é que existe uma infraestrutura escolar – ainda que básica – onde um único professor ou uma equipe de diretores, pessoal e professores podem trabalhar para criar um senso de comunidade e empoderamento para alcançar a mudança. Mas há poucos indícios de que a região esteja ao menos debatendo sobre como será o futuro das escolas na atual situação de emergência da mudança climática.

Como em uma guerra, uma vez que a região segue lutando para se recuperar da pandemia de Covid-19, estradas e caminhos, e as instalações escolares pequenas e grandes, seguirão sendo arrasados junto com os meios de subsistência e fontes de renda. Depois de testemunhar como os governos da América Latina e do Caribe tiveram grandes dificuldades para adaptar-se às mudanças durante a pandemia, por exemplo, negligenciando a criação de outras opções de aprendizagem e socialização, como podemos esperar que os tomadores de decisões e de políticas imaginem um futuro diferente e viável para as escolas que aborde seriamente a crise da mudança climática que se desenvolve diante de nós?

Mudança climática: um grande obstáculo para as escolas

Embora as escolas enfrentem diversos obstáculos na região, a mudança climática pode representar o maior deles ao ameaçar os próprios fundamentos de como pensamos que uma escola deveria ser. Uma edificação que se encontra no coração de uma comunidade comprometida com as novas gerações, onde os pais querem que seus filhos estejam seguros e felizes. De fato, um dos atos mais corajosos de resistência na América Latina e no Caribe consistirá cada vez mais em proteger o direito dos estudantes de permanecerem fisicamente na escola.

Não há uma vacina ou uma máscara, ou uma medida igualmente concreta para ajudar os estudantes a continuar sua educação quando as escolas devem enfrentar a extraordinária magnitude dos acontecimentos relacionados à mudança climática. Revitalizar as visões sobre a educação exige transgredir os limites tradicionais de compreensão e planejamento educacional. Os governos e atores-chave no âmbito da educação na América Latina e no Caribe estão dispostos a dar o passo adiante?

Carole Faucher é antropóloga da Moray House School of Education and Sport, da Universidade de Edimburgo. Ela é pesquisadora afiliada da Cátedra UNESCO em Saúde e Educação Global e assessora sênior do Conselho Consultivo do Centro Nórdico para Transformação de Conflitos. 

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Consultora científica e política do IAI (Instituto Interamericano de Pesquisa sobre Mudanças Globais) e membro do Conselho Internacional da Sociedade Global sobre Migração, Etnicidade, Raça e Saúde.

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