Após um cenário que previa um empate técnico, no domingo, 24 de novembro, os uruguaios elegeram seu novo Presidente. Yamandú Orsi, de Frente Amplio, venceu o nacionalista Álvaro Delgado com 49,8% dos votos contra 45,8% de seu adversário. Assim, o país terminou o dia conhecendo seu presidente antes do previsto, com Delgado admitindo a derrota e Luis Lacalle Pou felicitando de imediato seu sucessor e convidando-o a trabalhar em uma “transição ordenada”. Tudo indica que a democracia uruguaia está muito bem de saúde.
Uma vez declarada a vitória da chapa Yamandú Orsi e Carolina Cosse, o Uruguai volta a olhar para a esquerda, em uma mudança que está longe de ser radical em comparação com o que foi alcançado pela administração de centro-direita do nacionalista Lacalle Pou. Diferente das mudanças que ocorrem em muitos países da região, a mudança de sinal político no Uruguai busca gerar consenso entre todos os atores políticos. Em seu primeiro discurso, Orsi reiterou que seria o presidente que “sempre convida ao diálogo nacional”.
No entanto, o modelo de país que Orsi pretende liderar difere da proposta de continuidade em que seu opositor apostava. As bases programáticas de Frente Amplio apostam em focar nos setores populares, os mais insatisfeitos com as transformações liberais da administração anterior. O novo governo defenderá o combate à desigualdade e o reforço do papel do Estado como garantidor dos direitos fundamentais, bem como combater a escalada da violência que ameaça o controle da segurança pública. Esse último ponto, apesar de ser a área mais debatida, não é um problema herdado do governo de Lacalle Pou, mas sim um problema herdado de seus antecessores.
O mea culpa da Coalizão Republicana: falta de confiança?
Embora Delgado tenha apostado na renovação da Coalizão Republicana, liderada pelo Partido Nacional e que contou com o apoio de líderes dos partidos Colorado, Independente, Cabildo Abierto e Ambientalista Constitucional, os esforços não foram suficientes para reter os eleitores. Embora a soma linear dos votos dos partidos da coalizão no primeiro turno tenha sido quase 4% maior do que a obtida por Frente Amplio, o comportamento eleitoral dos uruguaios mostrou que, mesmo com pouca volatilidade, sempre tende a variar.
Em uma entrevista impactante, o ex-candidato do Colorado, Andrés Ojeda, alegou que a fuga de votos de seu partido para a esquerda era um mero relato, não uma realidade. E embora seja difícil saber de onde migraram os mais de 120.000 votos que Frente Amplio obteve entre as duas eleições, está claro que a Coalizão não cumpriu seu objetivo de reter votos.
Desde a implementação do segundo turno das eleições com a reforma Constitucional de 1997, o Uruguai teve de recorrer a esse sistema em cinco ocasiões, com os três principais atores políticos saindo vitoriosos: Partido Colorado (1999), Frente Amplio (2009, 2014 e 2024) e Partido Nacional, inaugurando a Coalizão (2019). Em todas essas eleições, a Frente Amplio participou de um lado e, entre os dois turnos, aumentou sua participação nos votos entre 4% e 9%.
Parlamento novamente nas mãos de uma mulher
Assim como a Torre Executiva terá um novo inquilino, a atual vice-presidente Beatriz Argimón entregará as chaves do Senado à nova vice-presidente, Carolina Cosse. Enquanto Orsi concentrou sua carreira política na administração de departamentos, o currículo de Cosse tem várias seções relevantes. Em virtude de seu perfil técnico, essa engenheira ocupou vários cargos no Executivo durante as presidências de Mujica e Vázquez, primeiro como Presidenta da Administração Nacional de Telecomunicações e depois como ministra de Indústria, Energia e Mineração. No entanto, sua experiência no legislativo é relativamente escassa, tendo assumido o cargo de senadora em fevereiro de 2020 e renunciado no final do mesmo ano após ser eleita prefeita de Montevidéu.
De certa forma, Cosse tem a governabilidade do Senado assegurada, uma vez que Frente Amplio tem maioria no Senado, algo que Argimón não teve durante sua Legislatura. Mesmo assim, a vice-presidência é, sem dúvida, uma área em que os acordos devem ser conciliados, de modo que o principal desafio de Cosse será estabelecer a ordem, praticar a negociação e tentar ouvir.
Dessa forma, o Uruguai culminou de forma excepcional em outra instância cívica, sendo um farol de esperança em um continente tão diverso quanto desigual. A pradaria levemente ondulada é mais uma vez um exemplo internacional de convivência e, sobretudo, de democracia. Lacalle Pou e Argimón entregaram à Orsi-Cosse um país funcional, uma cidadania que confia em suas instituições e na esperança de um futuro melhor. Em 2030, o próximo governo será avaliado, no momento, seguimos admirando as tradições políticas do país.
*Tradução automática, revisada por Isabel Lima
Autor
Internacionalista formado pela Universidade da República. Pós-graduado em Comércio Internacional (Universidade de Montevidéu) e mestre em Ciência Política (Universidade Torcuato di Tella).