Em uma prisão em Lima, três ex-presidentes da República dormirão juntos a partir desta noite. Ollanta Humala Tasso, o último chefe de Estado do país andino que concluiu sua gestão (2011-2016), foi condenado a quinze anos de prisão pelo crime de lavagem de dinheiro ao encobrir fundos ilícitos das corruptas empresas brasileiras Odebrecht e OAS, e do regime de Hugo Chávez na Venezuela, para financiar suas campanhas eleitorais de 2006 e 2011.
A presidente do tribunal, Nayko Coronado, que ditou a medida como parte de uma leitura antecipada da sentença, ordenou que Humala, presente na sala de audiências, fosse preso na hora. De Imediato, vários policiais o cercaram e o retiraram do espaço, em uma das imagens que está percorrendo o mundo.
Após a decisão, será mantido no centro penitenciário especial de Barbadillo e acompanhará o ex-presidente Alejandro Toledo, condenado em outubro de 2024 a 20 anos de prisão por conluio e lavagem de dinheiro, e o outro ex-presidente, Pedro Castillo, que enfrenta um julgamento oral no qual o Ministério Público pede 34 anos de prisão por sua tentativa de autogolpe em dezembro de 2022.
Humala, 62 anos, cumprirá sua sentença até 2039, quando completará 76 anos, o que poderá afastá-lo da vida política. Deverá pagar mais de dez milhões de soles (US$ 2,7 milhões) em reparações civis. Com ele, várias pessoas também foram condenadas, inclusive sua esposa, a ex-primeira-dama Nadine Heredia Alarcón. O tribunal também a condenou a 15 anos de prisão, mas ela não compareceu à audiência, alegando problemas de saúde, e quando a polícia foi procurá-la em sua casa, não a encontrou.
Minutos depois, o Ministério das Relações Exteriores do país informou que Heredia entrou na Embaixada do Brasil em Lima e solicitou asilo diplomático, pedindo proteção nos termos da Convenção sobre Asilo Diplomático de 1954, assinada pelo Peru e pelo Brasil. Curiosamente, a esposa de Pedro Castillo, Lilia Paredes, também está buscando asilo, mas no México. O mesmo acontece com a esposa de Alejandro Toledo, Eliane Karp, que, encurralada pela justiça peruana, fugiu para Israel, país com o qual o Peru não tem um tratado de extradição.
A decisão abre um precedente no Peru, ao ser a primeira sentença imposta por aportes ilícitos a uma campanha presidencial, usando um partido político, nesse caso o Partido Nacionalista de Humala, para lavar os fundos. A condenação de Toledo foi por crimes de corrupção no exercício de seu cargo presidencial, assim como a sentença contra o falecido ex-presidente Alberto Fujimori.
Jorge Barata, ex-representante da Odebrecht no Peru, disse aos promotores peruanos em fevereiro de 2017 que sua empresa deu a Humala US$ 3 milhões para sua campanha presidencial de 2011. No julgamento oral, o ex-assessor de Humala, Martin Belaunde Lossio, testemunhou que, em 2006, o dinheiro para a campanha política, que teria chegado a US$ 400.000, foi enviado da Venezuela para o Peru em malas diplomáticas para evitar os controles alfandegários.
Ao finalizar a leitura da sentença, os advogados de defesa reclamaram que os magistrados não levaram em conta uma decisão do Tribunal Constitucional de 2024 que indica que uma pessoa não pode ser presa sem que a sentença seja lida em sua totalidade. Nesse caso, como se trata de uma antecipação de sentença, isso não aconteceu. A leitura integral da sentença ocorrerá em 29 de abril. Tanto Humala quanto Heredia podem recorrer, mas terão de fazê-lo da prisão.
Humala, militar de profissão, ganhou fama em 2000, quando liderou um levante militar em Locumba, na região da fronteira sul de Tacna, contra o regime de Fujimori, juntamente com seu irmão Antauro, que atualmente busca a presidência da República após ser liberto de uma sentença de 25 anos (reduzida para 19 anos) justamente por essa rebelião que matou quatro policiais.
Concorreu à presidência pela primeira vez em 2006 com seu grupo político, o Partido Nacionalista Peruano, que ele fundou um ano antes. Nessa disputa, ele simpatizava muito com o regime ditatorial chavista e defendia ideias radicais de esquerda, sempre usando uma camisa polo vermelha. O medo do público fez com que ele perdesse no segundo turno para o agora extinto Alan García, que acabou conquistando um segundo mandato.
Em 2011, ele tentou novamente com uma coalizão chamada Gana Perú. Dessa vez, conseguiu vencer, diminuindo suas revoluções, usando sempre uma camisa polo branca, distanciando-se do modelo venezuelano e aproximando-se do modelo brasileiro de Luiz Inácio Lula da Silva, em detrimento de Keiko Fujimori.
Foram necessários dez anos para que Humala tentasse voltar à presidência em 2021. No entanto, naquela ocasião, ele obteve apenas 1,6% do apoio popular, ficando em décimo terceiro lugar na contagem de votos válidos. Ele perdeu todo capital político.
Assim, Humala se junta à triste lista de ex-presidentes peruanos condenados ou processados por crimes graves. Hoje em dia, o Peru não sabe se deve comemorar porque seu sistema judicial funciona independentemente de quem seja o acusado, ou se deve se envergonhar da podridão que infesta sua esfera pública às vésperas de uma nova eleição presidencial.
Tradução automática revisada por Isabel Lima