Uma região, todas as vozes

L21

|

|

Leer en

Generosidade invisível: o poder da solidariedade

Na América Latina, a generosidade é abundante, mas grande parte dela continua invisível; transformá-la em uma cultura de doação sustentável é fundamental para construir comunidades mais fortes.

Na América Latina, a generosidade está viva. Manifesta-se em gestos cotidianos, redes informais de apoio e atos espontâneos que, muitas vezes, escapam às estatísticas. No entanto, quando se trata de institucionalizar e sustentar uma verdadeira cultura de doar, ainda enfrentamos desafios estruturais, sociais e culturais. Nesse contexto, promover uma cultura de generosidade é uma estratégia fundamental para fortalecer o tecido social e construir sociedades mais equitativas e resilientes.

A consultoria Voices pesquisa há quase três décadas os hábitos solidários na Argentina, onde os primeiros estudos impulsionados pelo Fórum do Setor Social já revelavam, nos anos noventa, uma lacuna entre a disposição para ajudar e a concretização de atos solidários formais. Essa tensão segue vigente. E embora os argentinos se reconheçam como um povo solidário, a cultura da doação sustentada e estruturada ainda não se consolidou.

O mesmo acontece, com suas nuances, no resto da região. O recente relatório “A Generosidade na América Latina e no Caribe” de Giving Tuesday oferece um retrato valioso: 9 em cada 10 pessoas declaram ter feito ao menos uma ação solidária no último ano. Mas esse número cai quando se observa a participação em doações recorrentes, o envolvimento em organizações ou a confiança institucional.

O que não é medido, não é potencializado

Na América Latina, um dos grandes desafios para promover a cultura de doar é a falta de dados sistemáticos. Países como os Estados Unidos ou o Reino Unido contam com observatórios que seguem de perto os comportamentos filantrópicos. Em nossa região, os estudos são mais esporádicos e, muitas vezes, não são articulados entre os setores.

E é aí que entra o valor da pesquisa. Precisamos saber quem doa, o que os motiva, quais barreiras enfrentam, como percebem o impacto de seus atos. Sem essas informações, é difícil elaborar políticas públicas, campanhas de sensibilização ou estratégias de fortalecimento institucional.

Por exemplo, segundo dados dos estudos da Cultura de Dar, cerca de três quartos dos argentinos colaboraram economicamente com ONGs nos últimos 12 meses de algum modo, mas só alguns classificam essas ações como “doações”. Essa dissonância revela que nossas narrativas culturais sobre solidariedade nem sempre estão alinhadas com nossas práticas.

A solidariedade invisível

Na América Latina, grande parte da generosidade ocorre fora dos canais formais. É o que poderíamos chamar de “solidariedade informal”: ajudar um vizinho, cozinhar para alguém, emprestar dinheiro sem esperar retorno, hospedar um familiar. Esses atos geralmente não são considerados “doações” no sentido estrito, mas são pilares invisíveis de nossas comunidades.

Essa característica, profundamente enraizada na cultura latino-americana, tem dois lados. Por um lado, é uma fortaleza que reflete a importância do laço social e a importância da família e dos amigos. Por outro lado, pode dificultar a consolidação de uma cultura de doar organizada, com estruturas que permitam ampliar o impacto, medir resultados e manter a ajuda ao longo do tempo.

Na Argentina, por exemplo, muitos doam uma vez, mas poucos o fazem mensalmente. Essa falta de sistematicidade reduz a capacidade de planejamento das organizações sociais, que precisam de previsibilidade para crescer. Isso também implica que muitas iniciativas dependem mais do entusiasmo do que da sustentabilidade.

O que funciona

Apesar desses desafios, há sinais encorajadores. Sabemos que quando as pessoas têm contato direto com uma causa, seu nível de envolvimento aumenta. Campanhas que mostram o impacto concreto, plataformas que simplificam a doação, modelos de “match” entre empresas e ONGs, tudo isso contribui. E, nesse sentido, o auge das plataformas digitais oferece uma oportunidade inédita para democratizar a participação.

Os relatórios da Cultura de Dar e outras pesquisas também mostram que as novas gerações não estão desconectadas: só precisam de formas mais horizontais, ágeis e alinhadas com seus valores para participar. A colaboração digital, as microdoações, as causas de impacto local e os formatos criativos podem ser aliados importantes.

Ademais, há valores profundamente enraizados na identidade latino-americana que devemos fortalecer: empatia, solidariedade, compromisso comunitário. No lugar de importar modelos estrangeiros, o desafio é construir uma cultura de doar que faça sentido em nossos territórios, nossas histórias e nossas formas de vínculo.

Um convite à ação (e à medição)

Promover uma cultura de doar na América Latina é, em última instância, uma tarefa coletiva. Requer o compromisso de cidadãos, organizações, empresas, mídias e governos. Mas também de dados. Porque o que não se conhece, não se melhora. E o que não se mede, não se visibiliza.

Por isso, a iniciativa Cultura de Dar vem promovendo a articulação entre pesquisa, comunicação e ação. Porque só conhecendo em profundidade nossos hábitos, nossas motivações e nossas resistências é possível projetar estratégias eficazes para fomentar uma cultura solidária sustentável, transparente e transformadora.

Doar não é só um ato individual: é um gesto político, cultural e social. E construir uma cultura de doar é construir uma sociedade mais conectada, mais justa e mais humana.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

Autor

Otros artículos del autor

Diretora da consultoria argentina Voices. Membro do Conselho de Administração da WAPOR Latinoamérica, a seção regional da Associação Mundial de Pesquisa de Opinião Pública.

spot_img

Postagens relacionadas

Você quer colaborar com L21?

Acreditamos no livre fluxo de informações

Republicar nossos artigos gratuitamente, impressos ou digitalmente, sob a licença Creative Commons.

Marcado em:

Marcado em:

COMPARTILHE
ESTE ARTIGO

Mais artigos relacionados