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A China expande sua presença na Guiana

Em julho de 2023, em sua reunião com Xi Jinping durante os 31º “Jogos Universitários Mundiais” de Chengdu, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, expressou seu “apreço” pelo novo marco estratégico da China para promover sua “comunidade de destino comum”: sua Iniciativa de Desenvolvimento Global, sua Iniciativa de Segurança Global e sua Iniciativa Civilizacional Global. Isso ressalta uma renovada onda de compromisso e influência chinesa na Guiana. Ali, cujo governo havia anunciado em fevereiro de 2021 sua intenção de abrir um escritório comercial em Taiwan antes que a pressão da China o obrigasse a voltar atrás em poucas horas, reafirmou a fidelidade da Guiana à política de “uma só China”.

Em matéria comercial, Ali anunciou a intenção da Guiana de aprofundar sua participação, em julho de 2018, na Iniciativa chinesa do Cinturão e Rota (em inglês: Belt and Road Initiative, BRI), mediante a negociação da assinatura do “Plano de Cooperação BRI” da China, incluindo a vinculação da estratégia de desenvolvimento 2030 da Guiana à BRI.  Ali também se comprometeu a estabelecer um “Grupo de Trabalho de Investimento e Cooperação Econômica” Guiana – China para avançar nos projetos chineses no país.

As relações bilaterais entre os dois países se aprofundaram após a descoberta e a exploração de mais de 25 bilhões de barris de petróleo recuperável nas águas territoriais da Guiana por um consórcio liderado pela Exxon-Mobil. Isso impulsionou o crescimento do PIB em mais de 25% ao ano e atraiu novos recursos tanto do setor petrolífero quanto de investidores externos. A China National Offshore Oil Company (CNOOC) entrou como parceira de 25% no consórcio liderado pela Exxon.

Mas mesmo antes dessa relação, a China já estava profundamente comprometida com a Guiana. Desde o início do século XXI, a presença chinesa no país tem sido visível por meio de empresas como Bosai Minerals Group, China Railway Road, China Harbour Engineering Corporation (CHEC), Beijing Construction Group ou Eddie Boyer’s National Hardware.

No setor de segurança, o gigante asiático fez doações para os serviços de segurança da Guiana, presenteando uma aeronave de transporte militar Y-12 para a Força de Defesa da Guiana, seguida por 31 veículos e outros itens doados em 2017.  Nesse mesmo ano, também doou US$ 2,6 milhões em carros de polícia, motocicletas e outros equipamentos.

Embora a China tenha enfatizado o crescimento do comércio com a Guiana, o novo influxo de petróleo da Guiana tem se refletido até agora mais em compras do que em vendas. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), os 17 milhões de dólares em exportações da Guiana para a China em 2022 foram, na verdade, 4 bilhões de dólares a menos do que em 2019, o ano anterior em que seu petróleo começou a entrar em operação. No entanto, suas importações durante esse período quase dobraram, passando de US$ 218 milhões em 2019 para US$ 372 milhões em 2022.

Em outubro de 2022, a China e a Guiana assinaram um acordo de serviços aéreos, abrindo caminho para voos diretos das companhias aéreas chinesas para a Guiana, mas a expansão mais visível tem sido os projetos que suas empresas ganharam à medida que a Guiana construiu sua infraestrutura comercial e pública.

No setor de construção, a China Harbour Engineering Corporation (CHEC) tornou-se um ator dominante, com uma expansão de US$ 100 milhões do antigo hotel Pegasus de Guiana, além da construção de uma segunda propriedade Marriott, entre outras propriedades e obras de infraestrutura e mineração.

Em 2022, a China Railway First Group, outro conglomerado chinês, recebeu um contrato de US$ 184 milhões para a expansão do sistema ferroviário e rodoviário da Costa Leste. Olhando para o futuro, o governo de Ali também está em negociações para financiar até US$ 600 milhões em vários projetos rodoviários.

Além das infraestruturas rodoviárias, os chineses também estão interessados em projetos de energias renováveis, como o projeto eólico e solar de Hope Beach.  Além disso, a China State Construction and Engineering (CSCE) e a China Dailan estudaram a construção de um porto de águas profundas em Berbice, no leste do país, onde a empresa canadense CGX construiu instalações para apoiar o setor de petróleo.

No setor de petróleo, o investimento chinês tem sido mínimo, além da participação da CNOOC na coalizão liderada pela Exxon que desenvolve o bloco Stabroek. Mesmo assim, o governo de Ali convidou empresas petrolíferas com sede na China para participar da licitação de 14 novos blocos petrolíferos.

Nos setores das telecomunicações e vigilância, a Huawei estabeleceu uma posição dominante no país. O governo de Ali contratou a Huawei para expandir seus sistemas de vigilância em todo o país, levantando preocupações sobre problemas de segurança de dados e privacidade para os guianenses.

Em nível governamental, o embaixador da China na Guiana, Guo Haiyan, tem procurado ativamente construir relações com os guianenses, inclusive financiando um “Parque da Amizade China-Guiana” na margem oeste do rio Demerara. A China também expandiu sua formação de médicos guianenses por meio de “equipes de ajuda médica” chinesas.

O governo de Ali, favorável aos Estados Unidos, não pretende “escolher” entre os Estados Unidos e a China. Os Estados Unidos tampouco estão em condições de “superar” a China… embora a grande diáspora guianense radicada no país e o enorme, embora indireto, papel dos Estados Unidos no setor petrolífero da Guiana sejam importantes bases de influência.

* Este texto foi publicado originalmente no site da REDCAEM

Autor

Professor e pesquisador sobre América Latina no Instituto de Estudos Estratégicos do Exército dos Estados Unidos. Membro da Rede China e América Latina: Rede Enfoques Multidisciplinares (REDCAEM).

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