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Após 30 anos de negociações, chegou a hora de concretizar o acordo entre UE e Mercosul

Após três décadas de idas e vindas, a UE e o Mercosul finalmente chegam a um acordo histórico que promete reconfigurar o mapa econômico e geopolítico entre a Europa e a América do Sul.

Após quase três décadas, as negociações do acordo entre a União Europeia e o Mercado Comum do Sul (Mercosul) avançaram e as duas partes chegaram a um acordo em dezembro de 2024 em Montevidéu. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, viajou pessoalmente para a cerimônia de assinatura no Uruguai. Embora se espere que a proposta da Comissão Europeia seja apresentada aos seus Estados-Membros antes do final do ano, teme-se que possam passar vários anos antes que o acordo entre em vigor.

O Acordo de Associação UE-Mercosul seria um dos maiores acordos comerciais da história e abrangeria quase 800 milhões de pessoas. O bloco do Mercosul inclui Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Além disso, Chile, Equador, Guiana, Colômbia, Peru e Suriname têm o status de membros associados.

Quando o acordo for implementado, seu peso econômico e geopolítico será enorme. Em um momento em que a Organização Mundial do Comércio (OMC) parece impotente e a imprevisibilidade das políticas de Donald Trump está corroendo as parcerias tradicionais, o Mercosul é uma janela para o esperado crescimento econômico da Europa. O acordo reforça a relação tradicional entre a UE e o Mercosul de uma nova maneira e aponta a base normativa do sistema internacional: que em algum lugar ainda há fé na cooperação.

O acordo de associação assinado em Montevidéu não precisa da aprovação dos parlamentos de todos os Estados-Membros da UE, bastando uma maioria qualificada. Por outro lado, está sendo proposto um acordo comercial provisório, cujo objetivo é colocar em vigor a cooperação comercial e isenta de impostos o mais rápido possível. Ademais, partes do acordo de associação podem ser aplicadas provisoriamente e, se o acordo final for ratificado, ele substituirá o acordo provisório.

O acordo liberaliza mais de 90% do comércio entre a UE e os países do Mercosul. Na prática, facilitará diretamente o acesso aos produtos e serviços das empresas europeias nos grandes mercados da América do Sul ao eliminar a maioria das tarifas existentes. As tarifas aplicadas pelos países do Mercosul (de 35% para automóveis, de 14 a 20% para máquinas e equipamentos) continuam altas e, além disso, existem muitas outras barreiras ao comércio nos países da região. Os círculos industriais alemães, em particular, veem oportunidades valiosas nos mercados protegidos de Brasil e Argentina. O acordo também facilita e amplia a participação da indústria europeia nos processos de contratação pública, como os que permitiram uma posição sólida da indústria finlandesa de celulose em países como Uruguai e Brasil.

Ao mesmo tempo, a cooperação do Mercosul no tema das matérias-primas contribuirá aos esforços da UE para romper suas atuais dependências energéticas. O acordo também ajudaria a frear a perda de influência da Europa na América Latina e, ao menos em parte, a contrariar a crescente presença da China na região.

O Mercosul não tem estado isento de problemas, mas o desejo de seus países de ter acesso privilegiado ao mercado europeu tem sido, em certo sentido, o que tem mantido o bloco unido. Para a agricultura brasileira, o acordo não oferece só vendas isentas de impostos, mas também um aumento de reputação: exportar para a UE significa abrir um dos mercados alimentares mais exigentes do mundo, bem como, possivelmente, um alívio político nas disputas pela desflorestação da Amazônia e os problemas de segurança alimentar.

Os opositores europeus ao acordo, por sua vez, usam a estrutura do tratado como argumento para tentar — novamente — atrasar ou impedir sua entrada em vigor. Embora pareça haver um claro apoio de vários membros da União Europeia ao acordo, os países agrícolas do centro e do sul da Europa, em particular, historicamente se opõem a qualquer tipo de acordo comercial. Além disso, agricultores, sindicatos de trabalhadores e ambientalistas organizaram protestos na França, Irlanda, Áustria e Polônia para alertar sobre a concorrência desleal, os riscos alimentares e os estragos na Amazônia.

Para acalmar os críticos, a Comissão Europeia propôs várias medidas: um fundo de mil milhões de euros para os agricultores, uma redução gradual das tarifas, a proteção de mais de 350 marcas e protocolos adicionais sobre o desenvolvimento sustentável.

Para a Europa, a parceria com o Mercosul impulsionaria o crescimento econômico e daria uma vantagem em áreas como o uso sustentável dos vastos recursos naturais da América Latina. Para a América do Sul, o acordo daria nova vida ao frágil bloco. Se a Europa deixar passar esta oportunidade, pode acabar por transformar o acordo com o Mercosul numa “mesa bamba”.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

Autor

Professor de Estudos Regionais e Culturais, Universidade de Helsinque.

Pesquisador de doutorado no Programa de Doutorado em Mudanças Políticas, Sociais e Regionais do Instituto de Ciências da Sustentabilidade de Helsinque (HELSUS), Finlândia.

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