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As campanhas eleitorais violentas são uma tendência mundial?

Há cada vez mais países cujos processos eleitorais são acompanhados por sequestros, ataques e assassinatos. Os candidatos não devem só se preocupar com os votos; agora devem procurar chegar vivos às eleições.

Em um clima tenso de agitação política, o Equador celebrava suas adiantadas eleições presidenciais de 2023. No entanto, a atenção do mundo estava focada nos coletes à prova de balas que os candidatos vestiam. De fato, os coletes e os guarda-costas pessoais foram a marca registrada da campanha eleitoral em um país assolado pelo narcotráfico e pela violência.

Medidas similares deveriam ter sido implementadas em países como México, Japão e Alemanha, onde as últimas campanhas eleitorais também expõem altos níveis de violência. Podemos observar um aumento preocupante no número de ataques, sequestros, assassinatos e ameaças sofridos por candidatos, simpatizantes políticos ou familiares durante as campanhas eleitorais. Estamos diante de uma nova tendência que ameaça a democracia?

Em 9 de agosto de 2023, o aspirante à presidência do Equador, Fernando Villavicencio, foi assassinado na saída de um ato político. Segundo o Relatório de Observação da Violência Política elaborado pelo Observatorio Ciudadano de Violencia Política (OCVP), da Asociación MEGA e da Friedrich-Ebert-Stiftung do Equador, entre 2022 e 2023 houve 88 ataques contra pessoas vinculadas à política. Na Colômbia, 325 vítimas de violência eleitoral foram registradas durante o ano eleitoral, segundo o relatório sobre violência político-eleitoral da Fundación Paz & Reconciliación (Pares).

No México, o período eleitoral abriu e fechou com assassinatos. No mesmo dia em que as campanhas municipais começaram, em abril de 2024, a candidata a prefeita Gisela Gaytán foi morta a tiros. Há horas da votação, o candidato a prefeito de Cutzeo, Israel Delgado Vega, foi morto a tiros na porta de sua casa. Segundo a Consultora Integralia, de setembro de 2023 a 1º de maio de 2024, 208 aspirantes ou candidatos foram vítimas de violência no país, incluindo 29 assassinatos. Quando se consideram funcionários, ex-funcionários, políticos, familiares ou colaterais, o número mais do que dobra, chegando a 560 agressões e 195 assassinatos. Em 28 de maio, a chefe da Secretaria de Segurança e Proteção ao Cidadão, Rosa Icela Rodríguez, confirmou que oficialmente foi resgistrado o assassinato de 8 candidatos, 4 pré-candidatos e 10 aspirantes a algum cargo até aquela data. No entanto, consultoras privadas como Data Cívica registraram 30 candidatos ou pré-candidatos assassinados em 2024. Esses números confirmam esse processo eleitoral como o mais violento da história do país. 

No entanto, é ingênuo pensar que esses níveis de violência político-eleitoral se limitam só à nossa região: podemos encontrar vários países que atravessam esse problema. Em julho de 2022, o então primeiro-ministro do Japão, Shinzō Abe, foi assassinado a tiros durante uma campanha parlamentar. Menos de um ano depois, em abril de 2023, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, teve de ser evacuado de emergência após uma explosão durante uma atividade eleitoral. Esse país, de fato, tem um histórico impressionante de ataques e assassinatos de líderes e candidatos. No mesmo continente, em 2023, as Filipinas atravessou as eleições locais mais violentas da história do país, com o assassinato de 19 ativistas políticos durante o mês d campanha. 

Na Europa, a violência também está presente na atual campanha eleitoral parlamentar. Na Ale0manha, em 3 de maio, o principal candidato social-democrata, Matthias Ecke, foi brutalmente atacado enquanto pendurava cartazes eleitorais. Dias depois, a candidata Yvonne Mosler também foi agredida e ameaçada. Na verdade, a violência física ou verbal contra funcionários ou representantes eleitos duplicou em cinco anos no país europeu e, nesses meses de 2024, já foram registrados 22 ataques a políticos. Soma-se a isso a tentativa de assassinato contra o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, e vários ataques e ameaças contra candidatos e apoiadores políticos na França, Espanha e Países Baixos. 

Com esse panorama, cabe perguntar o que está por trás desses níveis crescentes de violência político-eleitoral e se isso reflete uma tendência que está se naturalizando no cenário internacional. Nos países observados, essa tendência responde a vários fatores. Na América Latina, podemos observar que esses eventos estão ligados principalmente a crises de violência e insegurança desencadeadas por gangues narcocriminosas, quadrilhas, cartéis e máfias. Somam-se a isso os níveis crescentes de clientelismo, corrupção e polarização política na região. Enquanto isso, na Europa, os ataques eleitorais estão majoritariamente relacionados à polarização política extrema e ao ressurgimento do fanatismo e das facções extremistas. Enquanto isso, em países asiáticos, como o Japão, descobrimos que a violência política está ligada a ataques isolados ou orquestrados pela máfia. Nas Filipinas, por sua vez, é causada por conflitos entre clãs rivais que dominam diferentes regiões do país.

Sem dúvida, a violência eleitoral responde a diversos fatores e, embora muitos deles sejam compartilhados ao redor do mundo, não há um fator que, sozinho, seja suficiente para entender o aumento desse fenômeno. Essa situação desafia os governos e o próprio sistema democrático ao dificultar os processos eleitorais e questionar sua capacidade de responder às preocupações da sociedade, muitas delas relacionadas aos desencadeantes dessa violência política. A suspensão ou o adiamento de eleições devido aos níveis de conflito e violência política é motivo de alarme. Os processos eleitorais estão em perigo? As democracias podem permanecer estáveis nessas condições? 

A realidade mostra que a maioria das regiões do mundo enfrenta uma escalada de violência durante seus processos eleitorais que coloca em risco democracias cada vez mais frágeis. O desafio para a sociedade e o governo é identificar e aprimorar maneiras de a democracia lidar com essa tendência e eliminá-la.

Autor

Licenciada en Relaciones Internacionales por la Universidad Católica de Salta. Asesora política del Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires. Miembro Centro de Estudios Estratégicos de Relaciones Internacionales (CEERI).

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