50% da população mundial vive em áreas urbanas. Isto pode não parecer muito, mas quando nos damos conta de que este dado do Banco Mundial oculta enormes disparidades regionais, nossa imagem mental muda. Países como Peru e México têm cerca de 80% de sua população congregada em meios urbanos, enquanto casos extremos como o do Uruguai ultrapassam os 90%.
Ao nos aproximarmos do ano 2025, em nossa região, o mundo urbano crescerá a um ritmo de 11%, enquanto que o rural, 1%. Estamos num momento em que as condições de vida nesses entornos, marcadas pelos profundos processos de digitalização e as mudanças na realidade laboral provocadas pela pandemia de COVID-19, representam uma oportunidade de adaptação a novas formas de vida. Trata-se de novos formatos laborais impulsionados pelo crescimento de indústrias desterritorializadas, sejam do tipo start-up ou de empresas consolidadas, que buscam talento em todo o mundo.
A competitividade entre cidades para atrair investimentos
Com processos eleitorais municipais em diferentes países da América Latina, uma questão de interesse vital para os futuros prefeitos é como transformar a cidade latino-americana em um hub que atraia talentos e permita impulsionar a nova economia de empreendimento digital. Neste contexto, um assunto chave é a busca desta transformação são os indicadores de êxito, aspecto muitas vezes esquecido em qualquer administração local.
Segundo o city competitiveness index, da consultora KPMG, uma boa forma de comparar as localidades é distribuindo a competitividade de uma cidade em termos de dimensões. É notório que o Brasil e o México são os únicos países considerados no estudo, e sua principal dimensão destacada é o custo da mão-de-obra
Tijuana, Monterrey, Guadalajara, Cidade do México e São Paulo são muito mais baratas ao contratar do que qualquer outra cidade da América do Norte, por exemplo, como Quebec, Vancouver ou Toronto no Canadá. México e Brasil contam, além disso, com cidades onde o custo para contratar pessoal qualificado é, em média, menos da metade.
As cidades latino-americanas, por outro lado, estão muito atrás da América do Norte em outros aspectos relevantes, como o pagamento de impostos. Em São Paulo, por exemplo, os impostos médios para montar uma operação empresarial são ainda mais altos do que aos de Nova Iorque. Da mesma forma, as cidades mexicanas são consideravelmente mais caras para pagar impostos do que as cidades canadenses, e estão em pé de igualdade com cidades dos Estados Unidos como Chicago e Portland.
No custo da energia e serviços, nós latino-americanos também não somos competitivos. Em São Paulo o custo da eletricidade e da água é mais alto do que em Nova Iorque, por exemplo, e Guadalajara é mais cara do que Seattle. Nos custos de transporte, esta assimetria em relação às cidades do norte é ainda mais acentuada, devido aos altos custos de transporte de bens na região.
Este ano, o México e o Peru realizaram eleições subnacionais. Desses dois países, apenas o México aparece no referido ranking de competitividade nas cidades. Entretanto, é impressionante que uma cidade como Lima, a capital do Peru, com mais de 11 milhões de habitantes, não possa oferecer ao mundo nenhuma dimensão específica que lhe daria uma posição competitiva. O prefeito praticamente eleito, Rafael López Aliaga, viralizou durante a campanha com o slogan “Lima, potência mundial”. Nada poderia estar mais distante da realidade. Deveria ser-lhe consultado quais serão os indicadores que abordará para cumprir com esta visão.
As cidades norte-americanas e europeias estão entre as mais competitivas do mundo na atualidade e é provável que conservem sua vantagem até 2025, apesar das preocupações sobre o envelhecimento da população, infra-estrutura, endividamento e crescimento lento.
É improvável que a América Latina mude esta situação, além do custo de contratação de pessoal, se não empreender projetos público-privados para melhorar outros aspectos desejados pelas empresas para contratar em nossas cidades. Neste marco, seria impressionante se algum prefeito proponha, por exemplo, um programa ambicioso de capacitação em habilidades de programação ou outras afins, juntamente com a cooperação do governo nacional ou com empresas privadas interessadas em gerar condições para melhorar as capacidades de mão de obra local, além de um benefício específico de uma delas.
Escapar da armadilha dos rendimentos médios implica mudar a base sobre a qual se assenta a economia de nossas cidades. Essa base são as habilidades de nossa população economicamente ativa, que deveria ser formada nas habilidades que o mundo atual requer como a programação, a automatização de processos mediante algoritmos, o desenvolvimento de inteligência artificial, entre outras. A tarefa é imensa e o tempo passa, o qual nos afasta da janela de oportunidade para melhorar nossa posição.
*Tradução do espanhol por Giulia Gaspar
Autor
Graduado em Comunicação para o Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do Peru. MBA na Escola de Negócios do Pacífico. Trabalhou como consultor em várias instituições estatais, em agências de comunicação e organizações sem fins lucrativos.