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Bolívia: um país a ponto de explodir

Em meio a uma crise econômica, um tribunal eleitoral desacreditado e uma fragmentação política extrema, a Bolívia caminha para eleições incapazes de resolver as tensões que ameaçam dominar o país.

A Bolívia vive os últimos dias de um processo eleitoral longo, desordenado e turbulento. Se nos perguntarmos em que momento os partidos iniciaram suas campanhas eleitorais, certamente ninguém teria uma resposta. Como nunca antes, o Tribunal Constitucional Plurinacional e o próprio Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) (in)definiram os tempos políticos. Desde o início de 2024, surgiram várias controvérsias judiciais que anularam a candidatura de Evo Morales e deixaram no limbo a do Movimento Terceiro Sistema; foi anulada a personalidade jurídica do Pan Bol e bloqueada a candidatura de um outsider como Jaime Dunn por ter dívidas pendentes com o Estado, apesar de a documentação emitida pela Controladoria Geral do Estado dizer o contrário.

Evo Morales, cuja infinitude no cargo de presidente teve que ser interrompida abrutamente por uma mobilização cidadã, hoje se encontra refugiado em uma zona do Chapare devido a um mandado de prisão por um caso de tráfico de pessoas que o envolve diretamente. No entanto, isso não impediu o líder cocalero de organizar e liderar vários bloqueios de estradas para pressionar e se habilitar como candidato. Essas mobilizações conseguiram, até agora, interromper por mais de 50 dias o fluxo de transporte e causar um prejuízo econômico incalculável. O pior é que nada indica que essa lógica de luta vá parar. Em definitiva, é o estilo de Morales de fazer política.

Por sua vez, o TSE passa por uma profunda crise institucional. Segundo os dados fornecidos pelas pesquisas de opinião pública da LAPOP, este órgão tem apenas 26,8% de confiança, ou seja, tem danificado o maior de seus capitais, sua credibilidade. Seus membros protagonizam disputas internas que não parecem motivadas pela melhoria do órgão eleitoral, mas por decisões que têm a ver com a habilitação ou não de candidatos. Muitas vezes, não se tem cuidado com as formas de civilidade e respeito: em junho de 2025, o membro do TSE Tahuichi Tahuichi Quispe chamou de “burros e idiotas” aqueles que iniciaram um processo criminal contra ele por sua recusa em habilitar os partidos Pan Bol e Frente Para la Victoria para participar das eleições. Nos últimos dias, o máximo representante desse órgão, Oscar Hassenteufel, aparentemente renunciou ao cargo, assediado e cansado das pressões políticas; após várias horas, a notícia foi desmentida e foi dito que ele só havia pedido licença por motivo de doença (da qual ainda não se recuperou).

Se o que dizem as pesquisas tiver algum grau de certeza, a fragmentação vai acabar com a estabilidade política, sempre tão precária no país. A Bolívia tem uma inflação acumulada de 39,4%, a empresa petrolífera estatal YPFB não consegue abastecer o mercado interno de diesel e gasolina, e existe uma diferença de 100% entre o preço do dólar oficial e o do mercado paralelo.

Por sua vez, o governo renunciou a qualquer iniciativa política e dá a impressão de que apenas espera terminar seu mandato. Em 8 de novembro deste ano, Luis Arce entregará o comando a um novo governo que, com pouco poder político (as pesquisas dão ao melhor posicionado uma margem de votação de 21%), tentará assumir políticas de choque que, embora necessárias, gerarão uma onda de descontentamento popular que colocará em risco sua governabilidade.

Hoje, o país vive uma espécie de fim de época, mas sem um horizonte futuro claro. A oposição, embora tenha conquistado a maior parte da preferência eleitoral, não tem uma proposta política capaz de cativar os setores populares ou aqueles que no passado votaram no MAS. Por sua vez, os candidatos provenientes do tronco do MAS, Eduardo del Castillo e Andrónico Rodríguez, não conseguem se separar do peso do mau governo de Arce e das influências do evismo. Rodríguez caiu em sua preferência eleitoral para 6% e del Castillo não consegue superar a barreira dos 3%.

O que configura esse panorama? Por um lado, eleições administradas por um TSE cuja baixa credibilidade dá margem a todas as versões de uma possível fraude. Um governo nacional que deixou de conduzir sua gestão estatal. Uma fragmentação política que fará com que cada um dos partidos fique com uma fatia do bolo do poder político, sem que nenhum deles possa liderar uma política anticrise devido ao seu baixo nível de legitimidade política.

Todo esse panorama faz prever o surgimento de um conjunto de tensões que o processo eleitoral não poderá resolver.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

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Cientista político. Professor e pesquisador da Universidade San Francisco Xavier (Sucre, Bolívia). Doutor em Ciências Sociais com especialização em Estudos Políticos por FLACSO-Equador.

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