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Geminações China-América Latina: O que são e para onde vão?

As geminações entre localidades chinesas e latino-americanas tornam-se cada vez mais relevantes em um contexto de grande incerteza do sistema internacional, já que esse nível de governo desenvolveu um espaço de intercâmbio multidimensional. Esses acordos, que envolvem o emparelhamento entre povos ou cidades de distintas zonas geográficas e políticas para fomentar o contato humano e os laços culturais, tornaram-se um espaço onde os tomadores de decisão, tanto dos governos centrais quanto locais, podem desenvolver suas relações internacionais com a China, mas também gerar insumos para fortalecer suas próprias políticas para o exterior.

As geminações entre China e América Latina

As relações de irmandade entre os países da América Latina e China passam por dois níveis: o multilateral e o bilateral. O primeiro nível se refere à política externa chinesa e sua ação, que foi destacada nos dois Livros Brancos sobre a América Latina.  Ademais, também atua no âmbito do Fórum de Cooperação entre Governos Locais China-América Latina (Fórum China-CELAC), que está “destinado a promover  a cooperação amistosa entre os governos locais de ambas as partes”.

É lá que o tema das geminações se projeta como parte da política exterior chinesa, embora isso não limite o próprio trajeto entre as localidades. Como afirma o especialista Ignacio Niño, este é um “processo que tem uma dupla natureza: por um lado, são as próprias cidades que se lançam em uma crescente ação internacional. E, por outro lado, a mesma também é encorajada pelas instâncias centrais”.

O segundo nível trata do relacionamento local propriamente dito, a assinatura da geminação e o desenvolvimento das relações em certas áreas temáticas previamente acordadas. No caso da América Latina, elas geralmente estão centradas em temas culturais, de educação, esporte, turismo e comércio, mas também se destaca um crescente interesse pela cooperação científica, ciência tecnologia, bem como o relativo à mineração.

O crescimento do número de geminações entre localidades chinesas e latino-americanas é notório e não escapa à lógica internacional da China com outras regiões. No entanto, o aumento tem sido significativo nos últimos anos. Até 2015 existiam ao menos 147 geminações, passando em 2021 para mais de 200, sem contar os que assinaram uma Carta de Intenção e estão em processo.

Alguns casos têm mostrado aumentos muito significativos, como Argentina (17 para mais de 40), Chile (13 para mais de 30) ou Uruguai (4 para mais de 15). Nos três casos dos países do Cone Sul, a ampla maioria de suas províncias, regiões ou departamentos contam com geminações assinadas. De fato, todos os países sul-americanos com relações diplomáticas com a China contam com ao menos uma geminação, enquanto na América Central e no Caribe destacam-se México e Cuba, e em menor medida Costa Rica, Jamaica, Panamá, Granada e República Dominicana.

As origens das geminações chinesas

As relações entre localidades da China e do exterior tiveram seu primeiro caso em 1973, quando Tianjin se tornou irmã da cidade japonesa de Kobe. Considera-se que essa política se tornou parte da política externa chinesa em geral, tendo como fundamento a coexistência pacífica e sendo um elo com um ator internacional cada vez mais presente no sistema internacional.

As relações de fraternidade das localidades costeiras da China são notoriamente mais desenvolvidas do que as do oeste, sendo essa a “internacionalização” que permite essas localidades a gerar um efeito “spillover” ou um círculo virtuoso, e com ele reproduzir desigualdades, uma questão já alertada pelo governo chinês. Este aspecto tem relação, em grande parte, com o nível de desenvolvimento das províncias costeiras e sua própria diplomacia da cidade.

No entanto, quase todas as províncias e regiões autônomas chinesas contam com alguma geminação com países da região. Isso melhora a relação da América Latina a nível regional no âmbito do Fórum China-CELAC, tornando-se em um espaço de diálogo não só com a China, mas entre os próprios países da região, que além de encontrar pontos em comum a nível regional, também podem ter interesses comuns a nível sub-regional.

* Este texto foi originalmente publicado no site redcaem

Autor

Pesquisador da Cátedra China Contemporânea de FLACSO. Coordenador da Seção Uruguai da Associação Latino-Americana de Estudos Asiáticos e Africanos (ALADAA). Doutorando em Rel. Int. na Univ. del Salvador (Argentina).

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