A poucos dias das eleições gerais de 30 de novembro, Honduras avança para um evento histórico marcado por um nível de incerteza sem precedentes. O cenário eleitoral em Honduras não se resume a uma corrida presidencial, é uma prova de fogo para a maturidade democrática da nação centro-americana, onde a tensão, a polarização e as advertências de fraude ganharam protagonismo. Nas últimas semanas, o país tem buscado um equilíbrio frágil entre a esperança de mudança e o risco de repetir episódios de violência política do passado.
Transformações do mapa partidário
O cenário político hondurenho foi reconfigurado. O tradicional bipartidarismo ficou para trás; hoje, a disputa se concentra em uma corrida acirrada, onde três figuras estão virtualmente empatadas, segundo as pesquisas mais recentes. A governista Rixi Moncada representa o Partido LIBRE e busca assegurar a continuidade do projeto iniciado pela presidente Xiomara Castro. Sua campanha enfatiza a continuidade: consolidar as reformas sociais, fortalecer o papel do Estado e mobilizar uma base de esquerda que vê nesta candidata uma oportunidade para impulsionar transformações há muito adiadas.
Na oposição, a disputa é igualmente acirrada. Salvador Nasralla, candidato do Partido Liberal, conseguiu se posicionar em primeiro lugar em várias pesquisas. Seu estilo comunicativo direto e sua insistência em “mudar de rumo” conectam com um eleitorado desiludido com as elites políticas e castigado pela insegurança, a precariedade econômica e a falta de oportunidades. Sua mensagem atrai quem busca sancionar os responsáveis pela deterioração institucional e socioeconômica acumulada na última década.
O terceiro ator-chave é Nasry Asfura, do Partido Nacional, que tenta recuperar a credibilidade após os anos turbulentos associados à administração de Juan Orlando Hernández. Sua aposta envolve reivindicar sua experiência em gestão municipal e apresentar-se como um candidato pragmático, capaz de “ordenar a casa” e devolver a estabilidade. Embora seu partido esteja sofrendo um desgaste profundo, sua base segue relevante em um país onde as lealdades políticas tradicionais ainda prevalecem.
Este empate técnico entre três figuras com bases de apoio sólidas e estilos de campanha muito distintos alimenta um ambiente política tenso. A possibilidade de que o resultado final dependa de margens mínimas aumenta o risco de que qualquer um dos candidatos alegue irregularidades em caso de derrota. Em Honduras, onde os desafios aos processos eleitorais anteriores derivam em conflitos abertos, essa ameaça não é pequena. Na reta final da campanha, o discurso de fraude tem aumentado, alimentado pela desconfiança mútua entre os partidos, críticas constantes à autoridade eleitoral e um ecossistema digital repleto de desinformação.
Uma autoridade questionada
As dificuldades do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) estão no cerne dessas tensões. A instituição enfrenta críticas por sua falta de autonomia, conflitos internos e um orçamento insuficiente que limita sua capacidade técnica. As eleições primárias de março revelaram sérios problemas: falhas logísticas, atrasos na entrega de materiais, erros nas listas de eleitores e falhas no sistema biométrico. Esse acúmulo de dificuldades corroeu ainda mais a confiança pública e gerou alarmes na comunidade internacional.
Em meio a esse clima, três dos cinco candidatos à presidência assinaram um “Acordo Democrático para a Defesa do Voto”. Nasry Asfura (Partido Nacional), Salvador Nasralla (Partido Liberal) e Mario Rivera (Partido Democrata Cristão de Honduras) se comprometeram a proteger as urnas nas seções eleitorais, evitar a manipulação dos resultados e agir como “guardiões do voto”. O acordo, promovido pela Plataforma Cidadã Defensores de Honduras, busca assegurar uma apuração transparente. Além do seu valor simbólico, reflete a necessidade de os atores políticos demonstrarem responsabilidade em um entorno extremamente frágil.
Os alertas do exterior também não passaram despercebidos. Especialistas das Nações Unidas publicaram uma declaração a poucas semanas das eleições, pedindo garantias de eleições “livres, justas e transparentes”. Também expressaram preocupação com o clima de polarização, os ataques contra a imprensa, a redução do espaço cívico e o uso de retórica hostil que poderia desencadear episódios de violência. O Secretariado-Geral da OEA, por sua vez, instou que as eleições fossem realizadas “na data estabelecida e nas melhores condições possíveis”, uma declaração que revela preocupações sobre possíveis tentativas de interferir no calendário eleitoral.
Problemas subjacentes: uma democracia sob pressão
Entretanto, os problemas cotidianos da população ficaram quase totalmente à margem do debate eleitoral. Insegurança, desemprego e o alto custo de vida continuam sendo as principais preocupações dos cidadãos, mas as campanhas dedicaram pouco tempo a formular propostas concretas para lidar com essas urgências. O predomínio de acusações mútuas suplantou o conteúdo programático, reforçando a sensação de que a política hondurenha está presa em uma lógica de confronto permanente.
O contexto eleitoral também se cruza com desafios estruturais: altos níveis de violência, um frágil Estado de Direito, um prolongado estado de exceção que permite prisões sem ordem judicial e uma deterioração geral das garantias democráticas. Assim, as eleições ocorrerão em um país que enfrenta simultaneamente uma crise de confiança nas instituições, um sistema partidário em transformação e uma população profundamente desiludida.
Um país em uma encruzilhada
Honduras chega, portanto, às urnas em um ponto de inflexão. Dois caminhos possíveis parecem se perfilar. O primeiro, e mais desejável, implica uma participação massiva, fiscalização transparente e um resultado apertado, porém aceito por todos os atores. O segundo caminho, porém, abre as portas para uma nova crise de legitimidade que poderia aprofundar a instabilidade política e econômica, comprometendo ainda mais a capacidade do Estado de responder às necessidades mais urgentes de seus cidadãos.
A maturidade democrática de Honduras será posta à prova em 30 de novembro. Em última análise, a estabilidade dependerá tanto da responsabilidade dos líderes políticos quanto da pressão cidadã e internacional para garantir que o resultado seja respeitado. Em um país onde a democracia tem sido historicamente frágil, cada voto contará, mas ainda mais crucial será a capacidade coletiva de aceitar o veredicto das urnas.
Tradução automática revisada por Isabel Lima










