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México: radiografia hemerográfica de um mês de campanha

Em 1º de março, começaram oficialmente as campanhas para a presidência do México. No entanto, a disputa iniciou no verão com pré-camapanhas e com ações flagrantemente violadoras das leis eleitorais.

Em 1º de março, começaram oficialmente as campanhas para a presidência do México. Enfatizo a palavra oficialmente porque aqueles de nós que acompanham de perto a política mexicana sabem que a corrida presidencial começou no verão passado com pré-campanhas que não eram de fato pré-campanhas e, em resumo, com ações que flagrantemente violaram as leis eleitorais vigentes. Desde então, grande parte da agenda dos meios de comunicação tem sido dedicada à cobertura das atividades daqueles que agora são formalmente candidatos à presidência da república: Claudia Sheinbaum, Xóchitl Gálvez e Jorge Álvarez Máynez.

Na Universidade Autônoma de San Luis Potosí, nos propusemos a criar um laboratório de monitoramento dos meios de comunicação para organizar e sistematizar um banco de dados de informações jornalísticas sobre as campanhas presidenciais publicadas por seis meios de comunicação nacionais (El Universal, Reforma, La Jornada, El Sol de México, Milenio e Excélsior) e cinco internacionais (El País, DW, France 24, The New York Times e BBC). O objetivo é compilar informações úteis para estudiosos de processos eleitorais, em qualquer um de seus aspectos, bem como para o público em geral.

Após o primeiro mês de campanha, a equipe do laboratório identificou 1.777 peças jornalísticas relacionadas ao processo eleitoral atual, com o jornal El Universal se destacando em sua cobertura, com 39% de todo o universo de notícias observado, seguido de perto por La Jornada (17%) e Reforma (16%). Na amostra dos meios internacionais, observamos que as eleições mexicanas não se destacam (pelo menos até agora) entre os principais tópicos das edições em espanhol dos portais selecionados, que em março deram mais atenção às eleições venezuelanas e à crise política no Haiti.

Quanto à cobertura por candidatos, os resultados mostram que a candidata pró-governo Claudia Sheinbaum é a que recebe mais notícias (44%), seguida por Xóchitl Gálvez (36%) e Jorge Álvarez Máynez (19%). Nesse ponto, é importante destacar que a figura do presidente López Obrador tem um peso jornalístico relevante, já que os jornais noticiaram suas constantes intervenções no processo eleitoral, apesar de suas restrições legais. O laboratório identificou 96 artigos que faziam alusão aos pronunciamentos do presidente sobre as campanhas em andamento, o que representaria 12% do número total de notícias que trataram exclusivamente das candidaturas. Por outro lado, chama a atenção o fato de o Instituto Nacional Eleitoral, como árbitro da disputa, ter recebido mais cobertura em termos de número absoluto de matérias do que o candidato que está atrás nas pesquisas.

Outro aspecto que vale a pena considerar são as questões de campanha. É bem sabido que, na maioria das democracias modernas, as campanhas eleitorais tendem a girar em torno de uma questão que articula o eixo da discussão política pelo poder. No caso mexicano, em contraste com processos mais próximos no tempo, isso ainda não parece estar muito claro. Em outras palavras, apesar de os principais problemas nacionais (como insegurança, corrupção e saúde) terem sido identificados, os artigos de imprensa são muito heterogêneos em termos das propostas de campanha em si, seja porque os jornais se concentram estritamente na descrição dos eventos de campanha, seja porque os candidatos se mostraram mais inclinados a articular narrativas do que a gerar propostas. Nesse sentido, é digno de nota, por exemplo, que com relação à agenda dos jovens, um setor muito importante do eleitorado, a imprensa incluiu apenas oito artigos sobre a oferta para eles, o que representa apenas 0,45% da cobertura jornalística.

Mas talvez a característica mais marcante desse primeiro mês de cobertura seja o fato de que a campanha mexicana parece ser caracterizada por um alto nível de opinião política e editorial. Nessa categoria, encontramos 405 artigos, representando uma em cada cinco publicações nos meios selecionados. Entre o universo de colunas de opinião observadas, o laboratório detectou duas coisas que consideramos importantes destacar: a) que na proporção de colunistas há uma diferença de 2,6 artigos escritos por homens para cada mulher; e b) que entre os 10 principais escritores de opinião há apenas uma mulher. Isso reflete, de certa forma, a tendência de masculinização da política, em que os homens monopolizam o espaço, nesse caso, dos comentários políticos.

Por fim, outro fato que vale a pena destacar tem a ver com a produção de charges políticas, em que vale a pena observar que pouco mais da metade das charges publicadas em março (54%) foram publicadas por moneros (caricaturistas) que apoiam a 4T, como Hernández e El Fisgón.

Em suma, esse primeiro mês da campanha mostra que o fluxo de notícias da campanha é muito amplo, embora não tanto em nível internacional, que a cobertura é muito heterogênea quanto aos tópicos, que há uma forte propensão para a opinião política e redação editorial e, nesse sentido, há uma predominância acentuada de canetas masculinas sobre as femininas.

O boletim completo pode ser acessado em:  https://www.uaslp.mx/Paginas/General/6810

Autor

Professor e pesquisador na Universidade Autónoma de San Luis Potosí (México). Membro do Sistema Nacional de Investigadores (CONACYT). Doutor em Estudos Latino-Americanos pela Universidade de Salamanca.

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