Coautor Adán Castro Añorve
As principais cidades do mundo estão experimentando um aumento das temperaturas, tanto pelas mudanças climáticas quanto pela falta de áreas verdes e o efeito da ilha de calor. Só em 2023, a Cidade do México sofreu quatro ondas de calor e os golpes de calor, que elevam a temperatura corporal a cerca de 40 graus, podem ser mortais.
Para tentar combater essas ondas de calor, muitas cidades do mundo estão apostando em criar mais áreas verdes, que são espaços com vegetação natural ou induzida na forma de parques, praças ou áreas arborizadas. As áreas verdes têm a capacidade de amortecer as altas temperaturas e, com isso, influenciam diretamente na melhoria da qualidade do ambiente nas grandes cidades.
Na América Latina, 17 cidades levaram adiante projetos de melhoria para manter e ampliar suas áreas verdes, com a cidade brasileira de Curitiba na vanguarda. Outras cidades que se destacam por suas melhorias são Belo Horizonte, Bogotá, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Medellín, Monterrey, Puebla, Porto Alegre, Quito, Santiago e cidades abaixo da média, como Buenos Aires, Montevidéu, Guadalajara e Lima.
Em outras partes do mundo, as áreas verdes, além de amenizar as ondas de calor, também melhoram as condições de vida dos cidadãos, já que oferecem espaços para praticar esportes, melhorar as relações sociais e fortalecer a consciência ecológica. Nova York, por exemplo, tem o Central Park, um dos parques urbanos mais visitados do mundo, com 341 hectares, Barcelona, com o Parque de la Ciudadela, e Madri, com o famoso Parque del Retiro, que é considerado um bem de interesse cultural.
Na Cidade do México, há quase 68 quilômetros quadrados de áreas verdes que cobrem, no total, 4,5% de sua superfície. No entanto, isso não é suficiente para os mais de 9 milhões de habitantes. O Programa de Infraestrutura Verde promovido pelo governo local tem como objetivo vincular e aumentar a conexão entre áreas verdes e corpos d’água; distribuir igualmente os benefícios de serviços à população; garantir a convergência social nesses espaços; e incorporar ações para minimizar impactos e efeitos das mudanças climáticas.
Entretanto, esses esforços não conseguiram visibilizar o problema dos impactos do calor extremo na saúde em áreas marginalizadas. As políticas ambientais e de saúde na Cidade do México parecem estar dissociadas e, embora existam estratégias de adaptação às mudanças climáticas, os planos e programas não parecem focar nos impactos ambientais e na saúde no contexto do aumento das ondas de calor.
Dentro da mesma cidade existem contrastes, tanto térmicos quanto de vulnerabilidade da população. Entre o centro e o leste da cidade, pode haver diferenças de até 3°C durante períodos de temperaturas extremas. Nas zonas centro e oeste da cidade estão as áreas de maior poder aquisitivo, de população menos vulnerável e com maiores superfícies de áreas verdes. No leste da cidade estão as populações de baixo poder aquisitivo, alta porcentagem de população infantil e adultos maiores de 65 anos e com poucas áreas verdes. Nesse marco, a proximidade das populações vulneráveis com as áreas verdes diminuiria os efeitos das ondas de calor.
Enquanto na Cidade do México a média é de 7,5 m2 de áreas verdes por habitante, a recomendação da Organização Mundial da Saúde recomenda uma média de 16,4m², mais que o dobro. Portanto, o conforto térmico ainda está longe de ser alcançado na sexta cidade mais populosa do mundo.
Mapas comunitários
Nesse contexto, uma ferramenta útil para avaliar a eficiência das áreas verdes é a cartografia participativa ou mapeamento comunitário. A elaboração desses mapas ajuda a complementar o conhecimento técnico com os conhecimentos da vida real das pessoas. Trata-se de um processo aberto que capta ideias sobre como se entende o território, seu ambiente, a cultura, os problemas e suas possíveis soluções e nos indica as necessidades dos habitantes.
Um grupo de pesquisadores da Universidade Nacional Autônoma do México está criando mapas participativos para avaliar áreas verdes como amortecedores de ondas de calor na Cidade do México. Também estão avançando na análise de imagens de satélite para mapear a temperatura de zonas com e sem áreas verdes no leste da cidade.
O objetivo do projeto “Consulta e cartografia cidadã sobre áreas verdes e seu papel na saúde pública, caso: calor extremo na Cidade do México” é construir pontes de comunicação entre as agências e a comunidade para melhorar a saúde pública. Dessa forma, pode-se promover a conservação das áreas verdes e melhorar a tomada de decisões dos órgãos públicos, considerando a opinião da população com base em mapas participativos.
Assim, com a participação ativa da academia, do governo local envolvido em programas de áreas verdes e dos cidadãos com o mapeamento comunitário, é possível identificar os pontos vermelhos de vulnerabilidade e planejar melhor as áreas verdes e os serviços de atenção à saúde. Tudo isso tornará possível enfrentar melhor as ondas de calor cada vez mais frequentes na Cidade do México.
*Este texto é um produto do Programa Clima, Meio Ambiente e Saúde + Migração desenvolvido pelo Instituto Interamericano de Pesquisas sobre Mudanças Globais IAI e pela América Latina21.
Adán Castro Añorve é professor de Saúde Pública na Faculdade de Medicina (UNAM-México). Médico especializado em métodos estatísticos, com estudos de mestrado em Ciências da Complexidade, modelagem e inteligência epidemiológica, análise de dados de saúde e emergências de saúde.