A Colômbia tem sido atormentada pelo conflito interno desde sua independência. A ausência do Estado nas regiões mais remotas, aliada à desigualdade estrutural, permitiu que grupos armados ocupem os espaços abandonados pelo poder central, deixando a população civil presa em meio a interesses conflitantes. A precariedade na satisfação das necessidades básicas tornou-se a norma, refletindo a fraqueza de um Estado que não consegue garantir condições de vida dignas aos seus habitantes.
Diante da ineficácia dos governos em abordar essas problemáticas, a cooperação internacional surgiu como um instrumento chave para mitigar o sofrimento humano e compensar a ausência estatal. Organizações multilaterais, ONGs e governos estrangeiros implementaram projetos que vão desde a recuperação de solos erodidos até o fortalecimento da democracia e a construção da paz. Esses esforços demonstraram a importância do apoio internacional na solução dos desafios sociais da Colômbia.
Conscientes dessa realidade, os sucessivos governos colombianos recorreram à ajuda externa para reduzir as lacunas sociais, especialmente de seu principal parceiro comercial, os Estados Unidos. Desde a criação da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), em 1961, Bogotá e Washington estreitaram seus laços mediante projetos conjuntos destinados a reduzir as desigualdades em um país assolado por conflitos armados. A USAID financiou programas de capacitação econômica, governança regional, agricultura sustentável e impacto ambiental, desempenhando um papel fundamental em regiões onde o Estado tem pouca ou nenhuma presença.
Abandonados à sorte
Após as recentes declarações do presidente Donald Trump, expressando a ambivalência entre os objetivos dos programas da USAID e os interesses nacionais dos EUA, surge a pergunta sobre o que o futuro reserva para as comunidades beneficiadas pelos projetos desenvolvidos na Colômbia. Durante o período de 2018–2024, o país recebeu cerca de 1,2 bilhão de dólares, destinados a financiar projetos focados em assistência humanitária, tornando o país o principal destinatário de ajuda externa na América Latina e no Caribe.
Atualmente, a Colômbia vive uma profunda crise de ordem pública, especialmente nas áreas de fronteira. O recrudescimento da violência por parte de grupos armados que disputam o controle de rendas criminosas e pelo poder absoluto em áreas estratégicas para o desenvolvimento de atividades criminosas levou ao deslocamento forçado de milhares de pessoas que buscam salvaguardar sua integridade em meio ao abandono estatal. Diante dessa situação, o fluxo de recursos financeiros e de pessoal altamente qualificado da agência estadunidense permitiu a mitigação dos efeitos de uma crise que o Estado colombiano não conseguiu enfrentar.
Casos como o de Tumaco, um município localizado na costa do Pacífico, onde foram desenvolvidos programas para proteger os direitos humanos e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes, são um exemplo claro da importância de ter um aliado estratégico em zonas de conflito. Entretanto, a saída da USAID do país e a eventual desintegração de sua estrutura organizacional deixam um vácuo difícil de ser preenchido. Para as comunidades locais, a presença da agência estadunidense se tornou a única esperança que pode lhes proporcionar condições de vida dignas.
E agora?
Após a revisão exaustiva da USAID por Washington, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, anunciou a decisão da Casa Branca de cancelar oficialmente 83% de seus contratos atuais. Essa é uma decisão sem precedentes para uma entidade que beneficiou as comunidades mais vulneráveis em todo o mundo por mais de sete décadas. A falta de continuidade das iniciativas locais pode levar a um ressurgimento de atividades ilícitas e a um aumento da violência, além da probabilidade de que os ganhos sociais tendam a se desintegrar sem assistência externa.
Esse cenário levanta uma questão fundamental: até que ponto a cooperação internacional poderia ser uma solução duradoura ou substituir o papel do Estado? Isso nos leva a pensar na necessidade de implementar reformas estruturais para tratar dos problemas domésticos, criando sinergias com os atores internacionais e assumindo um papel mais ativo na sustentabilidade dos projetos. Isso garantiria que os benefícios adquiridos não desaparecessem com a saída ou a desintegração dos doadores, como vem ocorrendo com a USAID.
O foco principal agora deve ser a elaboração de políticas públicas que maximizem o impacto de longo prazo dos projetos. Dessa forma, a assistência humanitária poderia ser vista como uma ação complementar para evitar o sofrimento humano e não como um substituto para os deveres constitucionais. A interrupção das operações da USAID na Colômbia aponta para uma verdade incômoda: a cooperação internacional pode beneficiar as comunidades no curto prazo, mas nunca assumirá as responsabilidades do Estado.
Tradução automática revisada por Isabel Lima