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O impacto da liderança feminina com sotaque latino nas Nações Unidas

Em 2026, a ONU terá a oportunidade histórica de eleger pela primeira vez uma mulher como Secretária-Geral, rompendo com 80 anos de exclusão. A América Latina conta com líderes qualificadas que podem trazer legitimidade, igualdade e uma liderança transformadora.

Em 2016, fui candidata ao cargo de Secretária-Geral da ONU. Naquela época, era consenso que, após 70 anos de existência da organização, já era hora de uma mulher ocupar esse cargo. Éramos sete candidatas, com perfis e trajetórias diversas, todas muito capazes e sérias aspirantes. No total, competiram sete mulheres e seis homens — e, no final, foi um homem o eleito. É claro que António Guterres era um candidato com muitos méritos, qualidades e experiência. Só lhe faltava ser mulher, que era justamente o que muitas e muitos esperávamos da ONU como um passo à frente em seu compromisso com a igualdade de gênero.

Depois desse momento, juntamente com outras duas colegas candidatas, Helen Clark e Irina Bokova, fundamos a GWL Voices, com o propósito de destacar o quanto era e é estratégico, eficaz e democrático renovar as lideranças no sistema. Hoje, somos quase 80 mulheres líderes do âmbito multilateral analisando anualmente os dados da representação das mulheres em cargos de liderança do sistema multilateral, com a avaliação dos olhos de nossa vasta experiência no sistema, e neste artigo venho falar sobre algo muito concreto, a próxima eleição para o Secretariado-Geral das Nações Unidas e nossa campanha “Madam Secretary General”.

A ONU foi construída sobre ideais de igualdade. Sua Carta começa com “Nós, os povos”, e não “Nós, os homens”. Declara explicitamente que “homens e mulheres têm os mesmos direitos”, palavras moldadas, em parte, por mulheres visionárias da América Latina em 1945, como Bertha Lutz, Minerva Bernardino e Amalia de Castillo Ledón, que promoveram a igualdade de gênero nos textos fundadores. As mulheres estavam prontas para liderar a ONU naquela época, e continuam prontas hoje.

É evidente e urgente a necessidade de uma liderança transformadora, e isso significa abrir as portas para quem historicamente foi excluído. Incorporar uma perspectiva diferente que esteve ausente por muito tempo, 80 anos, nada menos. As mulheres se destacam por saber escutar, construir pontes, resolver problemas e se concentrar no impacto. Cuidam das instituições enquanto impulsionam a mudança e gerenciam os recursos com eficácia. Essas não são qualidades abstratas — são habilidades que as mulheres aplicam todos os dias em seus lares, empresas e governos, e é hora de levá-las ao cenário global.

Em um momento em que os desafios globais surgem de formas que nunca imaginamos, em que a tentação de competir e lutar por todos os espaços é crescente, a liderança com uma nova perspectiva é crucial. Uma liderança que, a partir da firmeza de suas convicções, consiga construir com base na cooperação e em soluções que beneficiem a grande maioria. E o que poderia ser mais transformador para as Nações Unidas do que, pela primeira vez em sua história, ter uma mulher à frente? Uma Secretária-Geral permitiria que a população mundial se veria plenamente representada e traria um estilo de liderança que o sistema multilateral precisa urgentemente em um mundo mergulhado em tensões crescentes.

Então, por que não? A pergunta não é se uma mulher pode liderar a ONU, mas como sua liderança pode impulsionar uma mudança real. Não esperamos que uma só mulher conserte um sistema de 80 anos da noite para o dia — não se trata de encontrar uma super-heroína. Mas sabemos que a mudança sistêmica começa com uma liderança diferente, e isso implica romper com o ciclo de sempre nomear os mesmos tipos de líderes com as mesmas perspectivas.

Recuperar a legitimidade significa alinhar a liderança da ONU com os valores que promove: igualdade, representatividade e justiça. E isso começa por abrir, de uma vez por todas, a porta para que uma mulher assuma a liderança. Portanto, a pergunta deveria ser: “Por que não escolher uma excelente candidata que, além disso, reforce a legitimidade da ONU, pondo fim à exclusão de metade da população?”

Em 2026, as Nações Unidas têm uma nova oportunidade de quebrar barreiras e eleger, pela primeira vez em sua história, uma mulher como Secretária-Geral. Com uma possível rotação regional que favorece a América Latina, várias mulheres líderes altamente qualificadas da região poderiam assumir esse cargo. Seria uma excelente maneira de concretizar as palavras daquelas visionárias que influenciaram a Carta Fundacional.

Vamos fazer história. Vamos dar à ONU a liderança que ela nunca teve, mas que precisa mais do que nunca. O momento é agora.

*Este texto faz parte da colaboração entre a Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e a Latinoamérica21 para a divulgação da plataforma Voces de Mujeres Iberoamericanas. Conheça e junte-se AQUI à Plataforma.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

Autor

Susana Malcorra é presidente e cofundadora da GWL Voices. Foi CEO da Telecom Argentina e chefe de gabinete do secretário-geral da ONU. Foi ministra das Relações Exteriores e Culto da Argentina e reitora da Escola de Assuntos Globais e Públicos da IE University.

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