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Os sistemas de alerta precoce reduzem em 30% os danos de um desastre natural

Diante da iminência de um desastre natural iminente, como furacão, enchente ou tsunami, um alerta com apenas 24 horas de antecedência pode reduzir os danos em 30%. De fato, em comparação com países com sistemas de alerta precoce, os países com baixa cobertura têm uma mortalidade oito vezes maior porque as pessoas e as autoridades não podem tomar decisões informadas com antecedência. A experiência tem demonstrado que os sistemas de alerta precoce são uma solução confiável, além de econômica, para proteger a vida das pessoas e dos meios de subsistência frente a desastres naturais.

O que é um Sistema de Alerta Precoce e por que é importante?

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), um sistema de alerta precoce (SAP) combina a vigilância, o prognóstico e a predição de ameaças com a avaliação de riscos de desastres, a comunicação e as atividades preparatórias. Um SAP permite que indivíduos, comunidades, governos e empresas adotem medidas preventivas para reduzir o risco de catástrofes antes que ocorram eventos perigosos.

O planeta está se aquecendo em um ritmo mais rápido do que em qualquer outro momento da história, o que está causando desastres mais frequentes e mais graves, de modo que esses sistemas estão adquirindo cada vez mais relevância. Nesse marco, em março de 2022, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, lançou a iniciativa global Alertas Precoces para Todos (EW4All, sigla em inglês), que visa garantir que o mundo inteiro esteja protegido por sistemas de alerta precoce até o final de 2027.

A implementação de Sistemas de Alerta Precoce Multiameaças (MHEWS, sigla em inglês) pode salvar vidas e, ao mesmo tempo, evitar e minimizar perdas e danos. Esses sistemas proporcionam um retorno dez vezes maior sobre o investimento e, de acordo com relatórios de agências da ONU, os países com baixa cobertura de SAP têm cinco vezes mais pessoas afetadas por desastres do que os países com alta cobertura.

Para por cifras no assunto, segundo estimativas da Comissão Global de Adaptação da ONU, um investimento de US$800 milhões na instalação de sistemas de alerta precoce em países em desenvolvimento poderia evitar perdas anuais entre US$3 bilhões e US$16 bilhões. Como três em cada quatro pessoas no planeta têm um telefone celular e a maioria tem acesso a redes de banda larga, a comunicação dos alertas é garantida.

Os sistemas de alerta precoce são integrados por diferentes componentes interligados, em que, uma vez emitido o alarme, há um órgão público encarregado de dar instruções de evacuação e fornecer facilidades como comida e abrigo para os afetados. Portanto, após receberem o aviso, as etapas seguintes são ativadas, dependendo do nível da catástrofe e do quanto a pessoa foi afetada. Esses sistemas contam, ademais, com um sistema de governança dedicado à reconstrução de infraestruturas para as etapas posteriores ao desastre.

A elaboração e aplicação de estratégias locais de redução de riscos de desastres aumentaram desde a aprovação, pelos países membros da ONU, do Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres, que estabeleceu sete metas globais em 2015 para reduzir os riscos de desastres e as perdas ocasionadas pelos desastres. No entanto, até o momento, só metade do mundo (52%) está coberta por um sistema de alerta precoce, segundo o Estado global dos sistemas de alerta precoce de ameaças múltiplas de 2023, apresentado durante a COP28 em Dubai. Embora só 101 países tenham sistemas avançados de alerta, o número duplicou desde 2015, quando só 46% dos países menos desenvolvidos e 39% dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento tinham esses sistemas de alerta.

O que torna um Sistema de Alerta Precoce eficaz?

Um sistema de alerta eficaz deve detectar diferentes ameaças que podem ocorrer de forma independente, simultânea ou em cascata. Ademais, deve abranger desde a detecção do perigo até a ação precoce, incluindo o fornecimento de mensagens de advertência compreensíveis e processáveis. E, por fim, deve ser centrado nas pessoas para que possam atuar a tempo e de forma adequada, a fim de reduzir os possíveis danos.

Portanto, é essencial que os serviços de alerta disponham de mais e melhores dados de serviços meteorológicos, climáticos e hidrológicos. Para a saúde, é necessário dispor de informação e serviços climáticos adaptados em face do aumento de fenômenos meteorológicos extremos, da má qualidade do ar, das variações nos padrões das doenças infecciosas e da insegurança alimentar e hídrica. De fato, quase três quartos dos Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais (SMHN) fornecem dados climáticos ao setor de saúde, mas seu uso é limitado. Menos de um quarto dos Ministérios da Saúde a nível global dispõem de um sistema de vigilância sanitária que utilize informações meteorológicas para monitorar riscos à saúde sensíveis ao clima.

Ainda assim, um estudo recente mostrou que a simples melhora da precisão dos prognósticos meteorológicos não se traduzirá em melhores resultados para as pessoas vulneráveis. De fato, a maioria das catástrofes hidrometeorológicos mais mortíferas e custosas deste século foi prevista com antecedência, mas as maiores lacunas, e onde havia oportunidades de melhoria, estavam na comunicação e na capacidade de resposta. Portanto, é essencial que o projeto e a implementação de qualquer MHEWS adote um enfoque integrado e centrado nas pessoas. 

Nesse marco, durante a fase de implementação da iniciativa global de Alertas Precoces para Todos, impulsionada pela ONU, a atenção tem se centrado em 30 países mais vulneráveis a nível global e em atividades complementares a serem desenvolvidas em outras nações. No caso da América Latina e do Caribe, foram selecionados seis dos países mais expostos ao risco: Antígua e Barbuda, Barbados, Equador, Guatemala, Guiana e Haiti.

No ano passado, os eventos extremos meteorológicos e climáticos tiveram um impacto significativo em todos os continentes, com grandes inundações e aumento dos rios, ciclones tropicais e episódios de calor extremo e seca, com consequentes incêndios florestais. A temporada de incêndios florestais no Canadá superou em muito todas as anteriores e provocou graves episódios de contaminação por fumaça, sobretudo em zonas densamente povoadas, e o incêndio mais letal do ano ocorreu no Havaí, onde foram registradas ao menos 99 mortes.

2023 foi o ano mais quente já registrado e é provável que o efeito de aquecimento do atual episódio do El Niño intensifique ainda mais o calor em 2024. Isso causará ainda mais fenômenos meteorológicos extremos que destruirão mais vidas e meios de subsistência. Portanto, devemos atentar e trabalhar para que todos os países tenham Sistemas de Alerta Precoce Multiameaças que permitam tomar decisões informadas e a tempo, de forma a mitigar os efeitos adversos. Os SAP não são um luxo, mas uma ferramenta rentável que salva vidas e reduz perdas econômicas.

Autor

Meteoróloga y Coordinadora Técnica de Servicios en la Oficina Regional de la Organización Meteorológica Mundial (OMM) para las Américas con sede en Asunción, Paraguay.

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