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Para onde vai a cooperação da União Europeia na América Latina?

Com o encerramento da USAID, surge um vácuo que gera a oportunidade para que projetos europeus ganhem protagonismo na região.

Embora haja preocupação com a ausência da União Europeia (UE) em ocupar o espaço deixado pela USAID na América Latina, isso não significa que não existam janelas de oportunidade para fortalecer os laços entre as duas regiões. Em julho de 2023, por exemplo, a Comissão Europeia anunciou um investimento de 45 bilhões de euros para aprofundar e fortalecer as relações. Segundo o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), entre os temas da agenda de cooperação foram mencionados projetos que “vão desde a produção de hidrogênio limpo, matérias-primas críticas ou a ampliação da rede de cabeamento de dados de alto desempenho, até a produção de vacinas mais avançadas”.

A agenda da UE na América Latina e no Caribe tem como principais objetivos o combate às mudanças climáticas e o incentivo às energias renováveis, o fortalecimento dos serviços digitais, a eletromobilidade e a atribuição de um novo papel aos recursos naturais, por meio da transferência de tecnologia e do fortalecimento da indústria agrícola. No entanto, há alguns obstáculos para que essa cooperação se aprofunde de forma adequada.

Comércio existente
A América Latina e o Caribe e a União Europeia mantêm uma relação estreita. Segundo dados do CAF, a UE é o terceiro parceiro comercial mais importante da região, atrás dos Estados Unidos e da China. Além disso, o velho continente é a principal fonte de investimento estrangeiro direto, com um estoque acumulado estimado em 800 bilhões de euros para 2023. Nessa época, as empresas europeias haviam investido mais na América Latina e no Caribe do que seus pares da China, Japão, Rússia e Índia juntos. Isso demonstra que as relações atualmente não apenas estão em bom estado, como também têm um potencial significativo de crescimento.

Ainda segundo a mesma instituição, em 2022 o comércio total de mercadorias entre a UE e a América Latina foi de 293,09 bilhões de euros. Isso equivale a 4,8% das importações de fora da UE e a 5,8% do total das exportações para fora do bloco. Além disso, entre 2013 e 2022, houve um aumento de 59% nas importações e de 37% nas exportações entre as duas regiões. Isso evidencia um rápido crescimento nas relações comerciais.

O processo também foi acompanhado por uma relação relativamente equilibrada, já que o superávit da UE foi de somente 5 bilhões de euros. Esse valor é muito menor se comparado com os Estados Unidos, que em 2023 tiveram um superávit comercial com a região de 27,15 bilhões de dólares. Para a China, o valor no mesmo ano foi de 33 bilhões de dólares. Por isso, a UE possui uma legitimidade importante na região ao oferecer uma relação comercial e econômica mais equilibrada do que seus concorrentes. Assim, é importante analisar onde estão focados os projetos de investimento e cooperação na América Latina.

A América Latina nos investimentos da União Europeia


Estas são apenas algumas das iniciativas de investimento por parte da UE na América Latina e no Caribe anunciadas em 2023.

Na América do Sul, na Argentina há projetos vinculados à transmissão de energia, programas de desenvolvimento rural, mobilidade sustentável, transição energética — especialmente em hidrogênio verde — assim como em matérias-primas críticas, melhor gestão de resíduos e apoio a pequenas e médias empresas para a economia verde. O foco no Brasil está em projetos de energia renovável, modernização dos sistemas de saneamento e água, iniciativas de proteção às florestas tropicais e apoio a pequenas e médias empresas em tecnologias verdes. Por sua vez, no Uruguai, o investimento será direcionado a água e saneamento, impulso à mobilidade urbana elétrica e produção de hidrogênio. E no Chile, a União Europeia se concentrará na produção de hidrogênio, transporte e produção de combustível neutro em carbono.

Mais ao centro do continente, na Colômbia o foco está na economia sustentável, e-mobilidade e no esforço para alcançar 85% de conectividade digital da população até 2026. Para a Costa Rica, as prioridades são projetos de saúde, e-mobilidade e títulos verdes. E no Panamá, a União Europeia se concentrará em projetos de transição energética, descarbonização do Canal, transformação digital, setor biofarmacêutico e vacinas.

Dificuldades
Apesar disso, há uma falta de alinhamento entre as necessidades e as soluções entre as partes. Isso não apenas dificulta os projetos mencionados anteriormente, como também aqueles voltados ao apoio à criação de empresas de inovação na América Latina e no Caribe. Segundo um relatório da Fundação EU-LAC, há uma desconexão importante entre os objetivos claros dos atores do ecossistema de inovação e a compreensão do que os empresários pretendem alcançar. Da mesma forma, o acesso limitado a reuniões internacionais tem dificultado a criação de relações sustentáveis e oportunidades de contato. Além disso, a desconexão entre preocupações e necessidades das potenciais contrapartes resulta em soluções pouco significativas e ineficazes, incapazes de abordar essas questões com eficácia.

Em segundo lugar, na América Latina e no Caribe há uma lacuna de talentos em temas como sustentabilidade, internacionalização de indústrias e indústria digital, o que limita a capacidade de ação e inovação da região. As barreiras linguísticas também afetaram a geração de parcerias entre a União Europeia e a América Latina e o Caribe, que poderiam viabilizar a transferência desse conhecimento.

Em terceiro lugar, a diferença entre os marcos normativos da UE — com um enfoque mais preventivo e estruturado — e os da América Latina e Caribe — muito mais flexíveis para promover temas de inovação e menos fixos no longo prazo — faz com que os investimentos, tanto em dinheiro quanto em tempo, às vezes se tornem exaustivos.

Aproveitar a oportunidade
A União Europeia e a América Latina e o Caribe ainda têm muito potencial de crescimento. Não apenas em temas econômicos e comerciais, mas também em cooperação internacional. Adicionalmente, há uma clara intenção por parte do velho continente de aumentar seus níveis de cooperação, mesmo que não consiga ocupar o vazio deixado pela USAID.

No entanto, é importante considerar que existe uma série de riscos operacionais que afetam a eficácia e o nível de cooperação e investimento entre as partes. Dessa forma, se a América Latina e o Caribe quiser aproveitar os investimentos da UE, deverá trabalhar para reduzir essas dificuldades. Caso contrário, a UE poderá perder o interesse na região e a América Latina e o Caribe perderá uma oportunidade de ouro para diversificar suas fontes de cooperação internacional.

*Tradução automática revisada por Janaína da Silva

Autor

Graduado em Relações Internacionais pela Universidade Javeriana, possui mestrado em Estudos Latino-Americanos por Oxford e mestrado em Economia Política Internacional pela LSE. É consultor sênior de relações públicas na IDDEA Comunicaciones.

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