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Sistemas de alerta precoce, um salva-vidas da saúde global?

A mudança climática, resultado da atividade humana e evidenciada por fenômenos como ondas de calor, chuvas intensas, secas, contaminação atmosférica e da água, gera repercussões significativas na saúde pública. A experiência empírica e a observação científica dos últimos anos mostraram como esses eventos provocados pelas mudanças climáticas não só provocam perdas econômicas consideráveis na região, mas também resultam na lamentável perda de dezenas de milhares de vidas.

Segundo um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), o número de mortes relacionadas ao calor extremo em pessoas maiores de 65 anos aumentou 70% em duas décadas. Ademais, a variabilidade da chuva impacta a disponibilidade e a qualidade da água doce, o que aumenta a contaminação e facilita a propagação de doenças. Essas mudanças climáticas também podem agravar a desnutrição e a subnutrição ao dificultar a produção de alimentos. Segundo o relatório da OMM, o número de pessoas com insegurança alimentar aumentou em 98 milhões em 2020, em comparação com o período de 1981 a 2010.

A contaminação do ar, responsável por 7 milhões de mortes prematuras a cada ano, gera problemas respiratórios, cardiovasculares e dermatológicos, bem como um impacto negativo na saúde ocular. Ademais, as condições de calor promovem a liberação de alérgenos, o que aumenta as doenças respiratórias. Esses riscos afetam principalmente mulheres, crianças, idosos, minorias étnicas, comunidades desfavorecidas e pessoas com problemas de saúde preexistentes.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), projeta-se cerca de 250.000 mortes adicionais por ano entre 2030 e 2050 devido aos efeitos das mudanças climáticas. Diante desse cenário socioambiental, quais são as medidas que poderiam ser implementadas para mitigar esses riscos e minimizar seus impactos na sociedade?

Como se adaptar: os sistemas de alerta precoce

Uma das medidas para enfrentar os efeitos da mudança climática é o desenvolvimento de sistemas de alerta precoce, comumente utilizados para a gestão de riscos de desastres. Há governos que emitem alertas sobre ondas de calor acompanhados de recomendações para prevenir seus efeitos à saúde, como o “sistema de alerta precoce por temperaturas extremas” da Argentina.

Os sistemas de alerta precoce monitoram as informações climáticas e criam indicadores com o objetivo de fornecer dados para facilitar a tomada de decisões e a formulação de estratégias e políticas públicas. No âmbito da saúde, um indicador é uma medida utilizada para descrever e monitorar uma característica de saúde em uma população. Por exemplo, pode ser a taxa de mortalidade por doenças respiratórias ou a quantidade de hospitalizações devido ao calor.

Frequentemente, a informação sobre clima, meio ambiente e saúde são apresentadas de forma fragmentada, em diferentes escalas temporais e espaciais, o que dificulta seu acesso e utilização. Por exemplo, suponhamos a intenção de investigar como a temperatura do ar afeta os casos de dengue em uma época específica do ano. Apesar de termos dados diários de temperatura, é comum que os casos de dengue não sejam relatados como dados públicos ou abertos com a mesma periodicidade. A falta de dados detalhados dificulta identificar quando os casos de dengue aumentaram e estabelecer uma correlação com a variação de temperatura. Isso apresenta desafios tanto na comunicação entre os provedores e usuários de dados quanto no desenvolvimento de políticas eficazes de saúde pública.

É crucial contar com sistemas de informação robustos e amplos, com dados confiáveis, precisos e atualizados. No Cone Sul, vários profissionais da gestão pública, da sociedade civil e da academia, com pesquisas no campo de ciências da saúde, ciências sociais e ciências da atmosfera, estão desenhando uma plataforma digital focada em cinco áreas problemáticas específicas: saúde gestacional, doenças crônicas, saúde ocupacional, segurança da água e sistemas alimentares. Essa plataforma, cujo desenvolvimento envolve vários institutos de pesquisa do CONICET e da Universidade Nacional de Córdoba, a Universidade de Buenos Aires e a Universidade de São Paulo, a Fundação Interamericana do Coração da Argentina e o Serviço Meteorológico Nacional, entre outros, busca integrar informações sobre clima, meio ambiente e saúde, promovendo a participação ativa dos usuários na criação de indicadores pertinentes.

Com a futura implementação da plataforma, busca-se impulsionar a coleta de dados e a criação de indicadores para fortalecer um sistema integrado de vigilância e monitoramento em nível regional. Esse sistema será orientado à tomada de decisões baseada em evidência. Assim como o Google Maps fornece informações variadas sobre os distintos aspectos, essa plataforma fornecerá indicadores que conectam clima, meio ambiente e saúde em um formato ágil e acessível para a gestão de risco e o planejamento sanitário.

Autor

Graduada em Ciências Atmosféricas pela Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da UBA, Argentina. Pós-graduação em Comunicação Pública de Ciência e Tecnologia. Professora da UBA, Escola de Ciências do Mar e do Centro Regional de Formação da SMN.

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