Na América Latina inicia-se um ciclo eleitoral e, dependendo dos resultados desse ciclo, a classificação de crédito de alguns países pode estar em dificuldades. A consolidação fiscal em curso continua sendo um desafio para muitos governos, que continuam a enfrentar um contexto de baixo crescimento econômico e menores receitas fiscais, especialmente as relacionadas com os baixos preços das commodities, o que dificulta ainda mais a contenção da atual dinâmica de crescimento da dívida na região.
Estão previstas eleições presidenciais nos seguintes países: Brasil, Colômbia, Costa Rica, México, Paraguai e Venezuela. Em todos, menos na Venezuela, os mandatos terminam e novos chefes no executivo chegarão. As eleições serão de particular importância para a futura definição de classificações de crédito em países que mantêm uma perspectiva negativa – ou uma perspectiva negativa como dizem na indústria. Os países que vão realizar eleições e manter uma perspectiva negativa são precisamente as duas potências: Brasil e México.
No Brasil, a saga sem fim dos escândalos de corrupção que envolveu quase toda a classe política do país – sendo o próprio presidente Temer o mais recentemente implicado – aumentou a incerteza, o que pode levar a um maior grau de conflito nas eleições. É por isso que na maior economia da região será necessário emergir uma forte liderança política que possa continuar a impulsionar reformas econômicas para melhorar as perspectivas de crescimento e saneamento das finanças públicas do gigante econômico do sul.
as negociações do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) são uma grande fonte de incerteza política
Enquanto isso, o lento crescimento econômico e a fraqueza institucional do México, juntamente com a crescente incidência de crimes e um aumento percebido da corrupção, reduziram substancialmente a popularidade do presidente Peña Nieto e as chances de seu partido (o PRI) vencer a eleição presidencial novamente. Da mesma forma, as negociações do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) são uma grande fonte de incerteza política, dada a complexidade do tema e a importância de seus resultados para o futuro da economia.
O ciclo eleitoral será igualmente importante na Costa Rica e em El Salvador, pois resta saber se os resultados eleitorais nesses países ajudam a quebrar a paralisia política que levou a cortes em suas classificações de crédito nos últimos seis meses. Além disso, são possíveis futuros movimentos negativos nas notações de crédito para estas economias, dado que muitas iniciativas de reforma fiscal estão ainda pendentes.
Na Venezuela, onde a atividade econômica está em colapso e há sérios riscos sociopolíticos, as eleições presidenciais estão programadas para dezembro de 2018. A situação permanece tensa e enquanto o regime de Maduro busca reduzir as distorções já graves – introduzidas na economia há vários anos – uma mudança de governo buscaria uma mudança profunda na política econômica. Em ambos os casos, a solvência soberana da Venezuela é uma grande preocupação e a probabilidade de cair na inadimplência da dívida permanece muito alta. Enquanto isso, na Colômbia, a perspectiva para sua classificação de crédito é estável. No entanto, a consolidação fiscal pode ser comprometida como resultado do fraco crescimento econômico e de alguns dos obstáculos observados até agora na implementação do acordo de paz com as FARC.
As agências internacionais de crédito que irão monitorar de perto o ciclo eleitoral na região esperam que a transição para o poder seja tranquila, com a possível exceção da Venezuela. De acordo com as agências, as próprias eleições não afetam as classificações dos países se não forem acompanhadas de grandes mudanças nas políticas económicas. Por exemplo, se houver mudanças notáveis nas políticas econômicas na Argentina, Brasil ou México, isso pode afetar seus perfis de crédito. Por outro lado, se os resultados das eleições na Costa Rica e em El Salvador pusessem fim ao impasse político, isso poderia ajudar seus perfis de crédito. Por enquanto, as seguintes administrações do Chile e da Colômbia enfrentarão desafios significativos para alcançar a consolidação fiscal, o que é fundamental para a definição da trajetória futura de qualificação desses países.
Foto de payorivero em Trend Hype / CC BY-NC-ND
Autor
Economista. Analista de mercado e investimento sustentável em Dow Jones. Possui Pós-graduação em Economia e Negócios Internacionais na Faculdade de Economia da Hochschule Schmalkalden (Alemanha).