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Os desafios da democracia panamenha em tempos de Trump

Sob a pressão de Washington e acusações sem fundamentos, Panamá cede terreno aos Estados Unidos e rompe acordos importantes com a China, marcando um giro geopolítico no controle do canal inter-oceânico.

A democracia panamenha contemporânea nasceu fortemente condicionada pela invasão norte-americana no final dos anos 1980. Na década de 1990, foi projetada uma nova ordem social que se baseava na reversão do Canal e era impulsionada pelas obras de expansão da rota interoceânica. Após 35 anos, essa ordem foi ameaçada pelo desafio trumpista de se apropriar do Canal, pondo fim a décadas de cooperação interrompida entre o governo norte-americano e o panamenho. A nova lógica de Trump abandona o soft power e recupera as piores lógicas de dominação do passado.

A invasão norte-americana “Operação Causa Justa” derrubou o regime de Noriega em 1989 e, em 1990 forçou a substituição da liderança militar por um governo civil que contava com o apoio da Casa Branca. Dez anos após a institucionalização democrática, o Canal foi revertido e, em 2006, por meio de um referendo, as obras de expansão foram aprovadas, começando, assim, um ciclo de crescimento que transformaria o país e lhe daria o pseudônimo de “Cingapura latino-americana”.

A democracia panamenha tem bons resultados em nível regional segundo índices como Freedom House, Índice de Democracia e Índice de Desenvolvimento Democrático da Fundação Konrad Adenauer, graças, em parte, a um sistema de alternância entre as duas principais formações políticas (PRD e Partido Panameñistas). Essa alternância chegou ao fim com a irrupção da liderança de Ricardo Martinelli.

A partir de 2019, o modelo de crescimento da “Cingapura das Américas” começou a exibir certo esgotamento, marcado pela desaceleração da economia, até 2020, quando ocorreu o grande colapso econômico com uma queda de 17,9% no PIB causada pela pandemia. Após o colapso, alguns dos equilíbrios que haviam sido construídos nas décadas anteriores se romperam e ocorreram os maiores protestos da história democrática: um em 2022 pelo aumento de preços causado pela guerra na Ucrânia e outro em 2023 devido a um contrato de mineração.

Esse sistema político e econômico foi prejudicado por duas falhas estruturais. Uma alta desigualdade que persiste, seguindo a terminologia de Charles Tilly, como pode ser visto nos registros históricos do World Income Inequality Database, e uma alta percepção de corrupção, percebidas pelas pesquisas de opinião. Nesse sentido, ressoam as palavras do magistrado do Tribunal de Contas, Alberto Cigarruista, que chegou a afirmar em 2022, durante um discurso no Comitê de Orçamento da Assembleia, que “neste país todos roubamos”.

Desde as eleições de 2024, o novo governo teve de enfrentar quatro grandes desafios em uma nova geopolítica latino-americana caracterizada pela adoção do hard power pelos EUA como forma de se relacionar com outras nações.

Internamente, o governo panamenho foi obrigado a reformar o sistema previdenciário porque um dos dois subsistemas havia ficado sem contribuintes, o que gerou um grave déficit financeiro. Essa reforma, no entanto, não foi isenta de polêmica e custou ao país uma greve geral. Também internamente, o presidente Mulino tem que resolver o que fazer com o “elefante na sala”, o ex-presidente Ricardo Martinelli, que liderou o partido até ser desqualificado após o início da campanha eleitoral por um caso de corrupção (sendo substituído pelo atual presidente). Martinelli está atualmente asilado na embaixada da Nicarágua.

O terceiro desafio para o governo panamenho é a situação da mina de Donoso, paralisada após uma decisão inconstitucional. Em dezembro de 2024, First Quantum se reuniu com o presidente Trump para buscar mediação, e a empresa de mineração agora paralisou a arbitragem internacional para abrir uma nova fase de diálogo. Dado o estado frágil das contas públicas, é evidente a tentação do governo de reabrir a mina, mas o presidente enfrenta forte oposição, pois, segundo as pesquisas de 2025, mais de 60% da população é contra sua reabertura. Isso será fundamental para manter a estabilidade política do país.

O último grande desafio do governo são as constantes ameaças de Trump. Desde seu discurso de posse, o presidente norte-americano expressou sua intenção de retomar o canal sob a acusação de que a rota interoceânica é controlada pela China, algo que pode ser facilmente contrastado. No entanto, as ameaças surtiram efeito e o governo panamenho rapidamente abandonou os pactos comerciais com a China, como o Pacto da Seda e a terceirização de pessoas deportadas dos Estados Unidos para o Panamá antes de chegarem ao país de destino.

Recentemente, o governo panamenho assinou um polêmico memorando com as autoridades norte-americanas que, segundo alguns críticos, permite aos Estados Unidos instalar três bases militares, aumentar a presença militar na zona do Canal e permitir que navios norte-americanos passem pelo Canal do Panamá gratuitamente, o que é contrário aos tratados de neutralidade. A estratégia submissa do governo, no entanto, não está se mostrando eficaz, pois as ameaças do presidente Trump continuam inabaláveis.

Nesse contexto, é necessário voltar ao multilateralismo e à legalidade internacional. O Canal do Panamá tem um papel crucial no comércio internacional e na logística, um comércio no qual mais de 80% da carga transita por via marítima. O Panamá está exercendo um papel importante no desempenho da ordem econômica mundial e outras nações não devem ignorá-lo.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

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Pesquisador do Centro Internacional de Estudos Políticos e Sociais, AIP Panamá. Doutor em Sociologia e Antropologia pela Universidade Complutense de Madri. Especialista estudos de opinião pública.

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