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HispanTV Jornalismo, propaganda ou desinformação?

HispanTV, o primeiro meio de comunicação iraniano em espanhol cumpre dez anos. Isto tem sido um feito, pois foi apontado por infringir os regulamentos do YouTube, Facebook e Twitter e as suas contas nestas plataformas foram encerradas mais de três vezes desde 2018. Segundo o governo de Teerão, isto deve-se ao monopólio capitalista norte-americano que procura censurar e acabar com a liberdade de expressão dos meios de comunicação independentes. Enquanto que para os Estados Unidos, a rede iraniana é um instrumento de propaganda e desinformação contra o seu governo e aliados em todo o mundo. Apesar disso, o Irã conseguiu adaptar-se, desenvolvendo estratégias para estar presente na rede, mantendo assim uma audiência fiel na região.       

A fundação deste meio tem tido como objetivo acompanhar a política externa iraniana, que procura ampliar o conhecimento do públcio em audiências estrangeiras sobre sua cultura e ações políticas, a fim de contestar as narrativas sobre o Irã dos meios ocidentais convencionais. Normalmente, a criação de tais agências de comunicação alinhadas com os objetivos políticos dos Estados é denominada como soft power ou diplomacia cultural, uma vez que servem para projetar positivamente o país no estrangeiro.

Contudo, os meios de comunicação criados por Estados não democráticos são analisados sob o conceito de poder afiado, porque o conteúdo que produzem é considerado propagandístico e procura desinformar através de bots e cyborgs – contas automatizadas e outras pagas – para disseminar uma narrativa particular no debate virtual.  

Propaganda, desinformação e adaptação 

Segundo o The Institute for National Strategic Studies (INSS), dos Estados Unidos, a linha editorial político-religiosa da HispanTV caracteriza-se por fortes críticas aos Estados Unidos e a Israel, enquanto se destaca com relevância as revoluções bolivariana e iraniana, pois nenhuma das duas coincide politicamente com a potência norte-americana.  Além disso, o Center for a Secure Society identificou que a HispanTV difunde os valores e tradições iranianas, mostrando a “amabilidade e simpatia dos muçulmanos”.

Além disso, segundo o estudo da organização norte-americana, o meio produz conteúdos positivos sobre os governos no poder dos seus países aliados, tais como Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela. 

Segundo a organização norte-americana DFRLab, devido à manipulação dos serviços do Facebook, em 2019 foram encerradas 131 contas, 23 páginas, quatro grupos e 14 contas do Instagram, uma vez que faziam parte de uma operação de desinformação iraniana focada na Argentina, Equador, Bolívia, Brasil, México, Peru e Venezuela. Nela, foram difundidas mensagens negativas sobre os Estados Unidos, Arábia Saudita e Israel e foi divulgado conteúdo sobre as revoltas sociais e problemas migratórios na América Latina.

Do mesmo modo, ao final de 2020, quando foi assassinado Mohsen Fakhrizadeh, líder do programa nuclear iraniano, foi identificada no Twitter uma suposta disseminação anormal deste conteúdo na região, uma vez que as contas que apoiam a HispanTV se caracterizam por não ter um número significativo de seguidores. No entanto, esta informação chegou rapidamente a diferentes tipos de audiências, de acordo com o trabalho do INSS.  

Apesar das acusações, a estratégia de adaptação do meio iraniano para seguir na rede é notável, especialmente no YouTube, onde políticos ou jornalistas com um certo grau de reconhecimento são utilizados para garantir a audiência e, portanto, o sucesso do seu conteúdo. Fort Apache y Detrás de la verdad têm sido os seus programas de maior sucesso, pois contam com a participação do político espanhol Pablo Iglesias Turrión, ex vice-presidente da Espanha, e do jornalista mexicano Roberto de la Madrid.

O segundo componente consiste em alojar o conteúdo em canais alternativos ao canal principal da HispanTV, agora conhecido como Nexo Latino. Ao fazê-lo, são capazes de mitigar a perda de informação, o que já aconteceu anteriormente devido ao encerramento das suas contas nas redes. Inclusive, o Irã chegou a desenvolver a sua própria versão do YouTube chamada Urmedium, onde a censura ocidental é inexistente. 

Jornalismo ou informação enviesada?

Em suma, o conteúdo jornalístico da HispanTV é certamente controverso. Para alguns especialistas, não é mais do que uma empresa midiática gerida pelo governo para difundir propaganda iraniana com informação anti-semita e contra o “imperialismo Yankee”. Por conseguinte, a remoção do seu conteúdo é apenas uma consequência natural das suas ações.

Contudo, para os seus seguidores nas redes sociais é um dos poucos bastiões do jornalismo que ainda existem na rede, pois ousa questionar narrativas hegemônicas e por isso permanece constantemente no olho do furacão.

Para além de interpretações, a HispanTV conseguiu fazer incursões na audiência latino-americana através de duas grandes áreas temáticas, a cultura iraniana e os assuntos políticos internacionais, apresentados sob o lema: conteúdo objetivo e verdadeiro. No entanto, esta é uma espada de dois gumes para qualquer meio de comunicação, estatal ou privado, uma vez que obedecem a uma linha editorial específica, e a HispanTV não é exceção.

A sua tradição política afetará inevitavelmente a apresentação do seu conteúdo, que procurará constantemente favorecer o governo iraniano e os seus aliados. Um exemplo disto foi a renúncia do jornalista Roberto de la Madrid, quando encontrou diferenças irreconciliáveis com a perspectiva exigida para tratar da queda do voo comercial ucraniano 752 pelo exército iraniano em 2020.

*Tradução do espanhol por Giulia Gaspar.

Autor

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Professor adjunto da Universidad de la Salle (Bogotá). Mestre em Estudos Internacionais pela Universidad de los Andes. Membro do Programa de Treinamento 360/Digital Sherlocks Training Programme (DFRLab) para combater a desinformação.

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