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A nova “onda rosa” latino-americana e as relações com a China

As recentes eleições na Colômbia ratificaram uma tendência que vem se manifestando na América Latina desde 2018: o retorno ou a chegada ao poder de governos progressistas. Apesar desta mudança política, as dificuldades econômicas que a América Latina vem enfrentando desde meados da última década estão longe de serem superadas. As tendências à concentração de renda e o aumento da pobreza, que haviam sido invertidas durante a “onda rosa”, voltaram, reforçadas pelos efeitos da pandemia de COVID-19 e da guerra na Ucrânia. Neste contexto, a integração regional e o papel da China na região são dois desafios fundamentais.

Uma “segunda onda rosa”, sob o signo da moderação

Desde 2018, com a vitória de Andrés López Obrador no México, surgiu uma “nova onda rosa”, que se completa com a chegada ao poder de governos progressistas na Argentina, Bolívia, Chile, Peru, Equador, Honduras, Colômbia e, possivelmente, Brasil em um futuro próximo.

Até o momento, este segundo ciclo mostra uma diferença em relação à experiência anterior: sem as condições externas positivas do início do século e sob o legado de uma estrutura produtiva desintegrada, os governos não parecem estar empreendendo grandes projetos transformadores.

De fato, além da redução da pobreza e das melhorias distributivas do ciclo 2002-2015, as modalidades de geração de excedentes, principalmente a extração de rendas primárias ou a intensificação de atividades de baixo valor agregado, débeis nos vínculos produtivos e na inovação tecnológica, permaneceram praticamente inalteradas. Sim, se modificou parcialmente a apropriação desse excedente, através de melhorias nos ingressos salariais diretos e indiretos e, menos intensamente, seu destino, já que a fuga de capitais deu um salto desde a crise de 2008. 

Em um cenário externo desfavorável, os governos deste segundo ciclo progressivo enfrentam o duplo desafio de fazer o que já fizeram – melhorar a distribuição dos rendimentos e ampliar direitos – e, ao mesmo tempo, fazê-lo de forma distinta, não apenas incidir na apropriação do excedente, mas também em sua geração. 

Até o momento, dadas as circunstâncias, a moderação econômica tem prevalecido através de políticas monetárias e fiscais prudentes, após o choque de gastos durante a pandemia. Aparecem na agenda modificações no sistema tributário para dotá-lo de maior progressividade. Enquanto isso, as aspirações de modificar a matriz produtiva parecem ter sido arquivadas, no marco de uma aposta pela intensificação de atividades extrativistas primárias. 

A necessidade de divisas conspira assim contra a redefinição dos mecanismos de obtenção desses recursos. Não só a intensificação de atividades primário-extrativistas tem a desvantagem de implicar menores redes produtivas locais ou regionais do que outras tarefas, mas também tem sido questionada por seu impacto ambiental. Nesta tendência, torna-se de maior importância a presença da China, a potência ascendente que mais investe nelas. 

Os desafios da integração e a potencialidade da China

Nesta perspectiva aberta pelos governos progressistas, reemerge a aposta pela integração. O restabelecimento dos organismos de coordenação que foram deixados de lado durante o período de governos conservadores aparece como uma primeira resposta. Também a novidade do México como uma potencial peça central. Entretanto, a falta de coordenação entre os países ainda prevalece, um aspecto que ficou evidente nas estratégias diante da pandemia.

O desafio da integração está geopoliticamente ligado a um contexto no qual a China e sua capacidade de investimento, financiamento e implantação comercial marcam um novo cenário. A iniciativa do Cinturão e Rota, lançada por Pequim, reúne 21 países latino-americanos. Entretanto, esta possibilidade surge em um momento em que a própria China decidiu não conceder empréstimos à região desde 2020, no marco de seu próprio processo de desaceleração econômica e a crescente rivalidade com os Estados Unidos

Embora a iniciativa Cinturão e Rota possa abrir oportunidades para o desenvolvimento da infra-estrutura na região, requer uma estratégia coordenada onde as complementaridades regionais sejam aprimoradas. Haverá uma estratégia comum desta vez?

* Este texto foi originalmente publicado no site da REDCAEM

*Tradução do espanhol por Giulia Gaspar

Autor

Profesor e investigador en el área de Economía y Tecnología de FLACSO-Argentina. Doctor en Desarrollo Económico por la Universidad Nacional de Quilmes. Becario de posdoctorado en el Instituto de Historia Económica Paul Bairoch, de la Universidad de Ginebra.

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