Nos últimos anos, uma das tendências mais acentuadas da política na América Latina e nos Estados Unidos é a grande polarização de opiniões, emoções e ideias. Em alguns países, essa polarização política é tão extrema que beira os sentimentos de ódio irracional e divide até as famílias. Já não se discute projetos de desenvolvimento e iniciativas para solucionar os problemas de uma visão pública, só se desqualifica de forma irracional e odiosa o contrário, os que pensam diferente. Qual é a origem disso?
Tradicionalmente, a opinião pública era formada mediante uma combinação de comunicação “boca a boca” entre as pessoas e informações transmitidas através dos meios de comunicação tradicionais, como televisão, rádio e jornais. Essa é sua origem. Era um processo do qual nem todas as pessoas participavam, só a minoria que tinha acesso a informações e opiniões nos meios de comunicação. Basicamente, portanto, a opinião pública foi formada nas classes urbanas mais ricas e, depois, essa opinião se espalhou pelo interior do país para as massas menos instruídas. Nesse contexto, os meios de comunicação tradicionais e os dirigentes políticos tinham imenso poder para influenciar as pessoas, que geralmente eram pouco informadas sobre assuntos públicos.
Agora as coisas são diferentes. Houve três mudanças globais que alteraram as regras do jogo em relação à formação da opinião pública e deram origem a uma crescente polarização política. A primeira mudança é a penetração das redes sociais. Até mesmo os cidadãos mais pobres agora se informam através de uma ou mais redes sociais. No caso de Honduras, um dos países mais pobres do continente, mais de 80% de seu povo se informa pelo Facebook ou WhatsApp. Os mais políticos e ávidos por notícias agora usam o X (antigo Twitter), e os jovens usam Instagram e TikTok. O imediatismo das redes sociais agora a tornou a principal fonte de notícias. De início, isso é visto como positivo, já que mais gente tem a possibilidade de se informar sobre o que acontece em sua comunidade e no mundo.
Uma segunda transformação na opinião pública foi gerada pelos algoritmos que utilizam todas as redes sociais (com exceção do WhatsApp). O que esse algoritmo faz é filtrar para a pessoa só a informação com a qual concordou previamente, fazendo com que reforce suas opiniões, sem considerar novas ideias ou argumentos. Ao fazer isso, a pessoa rapidamente passa a ter opiniões polarizadas que não permitem o debate. Eventualmente produz-se o que é chamado em inglês de confirmation bias, ou seja, a ratificação de suas crenças em tudo o que veem nas redes sociais. Em resumo, isso faz com que as pessoas formem opiniões extremas.
O terceiro – e mais danoso – fator que polarizou a opinião pública no mundo é o crescimento descontrolado de fake news. As notícias não se originam mais exclusivamente de veículos de notícias, mas qualquer pessoa pode postar algo que se torna notícia. Com frequência, as pessoas postam deliberadamente notícias falsas e, na grande maioria dos casos, os consumidores de notícias acreditam em quase tudo o que leem ou veem em suas redes sociais. Isso é particularmente verdadeiro na política, o que reforça seu ódio por certas ideologias, partidos ou líderes políticos.
Em resumo, a perigosa polarização política que vivemos em muitos países tem suas raízes principalmente nestes três fatores: o crescimento das redes sociais como a principal fonte de informações para as pessoas, o algoritmo usado pelas redes sociais e o crescimento imparável das fake news no mundo político. Muitos falam de pós-verdade, da relatividade de tudo etc.; a verdade é que o debate de ideias morreu na disputa política para dar espaço à extrema emotividade e ao ódio visceral. Nesse novo contexto, não é raro encontrar autoritarismos, golpes de estado, desqualificações sem sentido, fraudes eleitorais e violência política. É a total desnaturalização da política, já que a política em si deveria ser a discussão respeitosa de ideias. Eventualmente, essa polarização política extrema pode levar ao fim da democracia.
Autor
Politólogo y investigador en opinión pública. Fundador, presidente y CEO de Le Vote International y Le Vote Honduras.