A cúpula UE-CELAC deixou uma impressão agridoce. Por um lado, foi marcada por numerosas ausências: só alguns chefes de governo europeus e latino-americanos viajaram para Santa Marta. Por outro lado, o mero fato da cúpula ter sido realizada e da declaração final ter refletido um consenso básico em muitos temas da política internacional já pode ser considerado um êxito. No entanto, essa declaração contribui pouco em termos de novidades substantivas. Nesse sentido, cabe questionar até que ponto essas cúpulas seguem sendo úteis e necessárias para a cooperação entre a UE e a América Latina. O desfecho aparentemente conciliador da cúpula disfarça problemas e desafios mais profundos que persistem na relação birregional.
A IV Cúpula UE-CELAC foi claramente marcada por ausências. Nem Macron, nem Merz, nem Meloni, nem a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, estiveram presentes. No caso dos líderes europeus, pode-se argumentar que sua ausência se deveu à distância e às dificuldades logísticas para chegar a Santa Marta — basta mencionar que o presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, teve que trocar de avião em Barranquilla, pois a pista local não permitia o pouso de sua aeronave. No entanto, ainda mais reveladora é a ausência de vários mandatários latino-americanos. De certo modo, foi Lula quem acabou salvando a imagem de seu homólogo colombiano com sua participação na cúpula. Paradoxalmente, havia mais chefes de Estado latino-americanos na cerimônia de posse do novo presidente boliviano, realizada apenas um dia antes do encontro em Santa Marta. Esse contraste ilustra claramente o limitado poder de convocação do presidente Petro na região.
Existem múltiplos fatores que explicam a limitada participação de chefes de governo europeus na IV Cúpula UE-CELAC em Santa Marta (Colômbia). Em primeiro lugar, a proximidade temporal com a COP-30 em Belém reduziu a disponibilidade de vários líderes europeus, que evitaram prolongar sua estadia na América Latina. No plano político-diplomático, o anfitrião, o presidente Gustavo Petro, gerou reservas em várias capitais europeias devido ao seu estilo pouco diplomático, sua retórica confrontadora e seu confronto com o governo Trump. Foi sintomático que o presidente francês Macron participasse da COP-30 em Belém e não viajasse posteriormente para Santa Marta, embora tenha feito escala no México antes de retornar à França, para dar um novo impulso às relações bilaterais entre o México e a França. Por sua vez, a presidente mexicana Sheinbaum também não compareceu à cúpula UE-CELAC.
Como observou o presidente do Brasil, Lula, em seu discurso de abertura da cúpula: “A América Latina e o Caribe vivem uma profunda crise em seu projeto de integração. Voltamos a ser uma região balcanizada e dividida, mais voltada para o exterior do que para si mesma”. Se observarmos a declaração final da cúpula, percebe-se muito mais desunião no lado latino-americano e caribenho do que no europeu. Enquanto os 27 governos europeus assinaram a declaração conjunta, no lado latino-americano houve dois países que se recusaram a fazê-lo: Nicarágua e Venezuela. No caso da Nicarágua, o governo justificou sua decisão com uma referência explícita ao parágrafo que defende o fim da guerra em curso contra a Ucrânia. Embora a recusa da Nicarágua e da Venezuela em assinar a declaração ilustre o isolamento de ambos os regimes na região, também houve outras vozes dissidentes que refletem a falta de consenso regional e as posições estratégicas divergentes entre os governos latino-americanos.
Sete países — Argentina, Costa Rica, Equador, El Salvador, Panamá, Paraguai e Trinidad e Tobago — se distanciaram do parágrafo 10, que faz referência ao “respeito mútuo e ao pleno cumprimento do direito internacional, inclusive na luta contra o crime organizado transnacional e o tráfico ilícito de drogas”; cinco se afastaram do parágrafo que menciona o “embargo econômico, comercial e financeiro imposto contra Cuba”; e quatro do parágrafo que alude ao conflito em Gaza. Houve também outros desacordos, sendo a Argentina o país com o maior número de observações ao texto consensual, com um total de sete.
Por trás da baixa participação de chefes de Estado na cúpula UE-CELAC surge uma questão mais fundamental: as cúpulas birregionais de alto nível são realmente necessárias? Para que servem? Além da cúpula em si, foram realizados encontros paralelos entre empresários e representantes da sociedade civil. No entanto, esse tipo de atividade também poderia ser realizado sem a necessidade de uma cúpula de chefes de Estado e de governo. O mesmo pode ser dito das reuniões ministeriais em áreas de interesse comum, nas quais não é indispensável — nem necessariamente útil — que todos os governos de ambos os lados do Atlântico participem.
De uma perspectiva europeia, a América Latina, como região, é demasiada heterogênea para que todos os seus países se enquadrem em um mesmo modelo. Com alguns, existem interesses econômicos e estratégicos comuns, enquanto com outros, esses interesses são muito limitados, e as suas políticas podem ser percebidas como contrárias aos interesses geopolíticos e geoeconômicos europeus. Neste contexto, as cúpulas tornam-se frequentemente complicadas e transformam-se num pesadelo para alcançar declarações comuns, que, em última análise, só refletem o mínimo denominador comum.
Seria muito mais eficaz focar o diálogo birregional em parceiros de elevado valor estratégico, bem como naqueles em que existe um amplo consenso sobre questões fundamentais da política internacional. Em tempos de regresso da política de poder, intervenções e ameaças militares, e guerras comerciais, de uma perspectiva europeia, a referência a valores comuns e à virtude do “poder brando” deve ser complementada por uma política centrada nos interesses geopolíticos e na dimensão coerciva do poder, tanto econômico como militar – incluindo a cooperação entre as indústrias de defesa. Desta perspectiva, é oportuno que a Europa amplie e intensifique o seu diálogo de segurança com a América Latina, embora este compromisso não se estenda necessariamente a todos os países da região.
Ademais, faz sentido priorizar parceiros com os quais existam parcerias estratégicas, como México e Brasil, bem como aqueles com acordos de associação bilaterais, como no caso de México e Chile. Também seria conveniente privilegiar o diálogo com organizações regionais que tenham acordos de associação com a UE e uma estrutura institucional mais sólida do que a CELAC, incluindo, num futuro próximo, e segundo se espera, também o Mercosul. Isso pressupõe, como condição, que a UE adote decisões de política comercial que traduzam seu discurso geopolítico e geoeconômico em prática.
Tradução automática revisada por Isabel Lima










