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Dia Mundial do Meio Ambiente: 50 anos após sua criação

Coautora María Inés Carabajal

Devido aos efeitos negativos na saúde da população humana (e demais seres) que se tornaram evidentes nos anos sessenta, em 1972 iniciaram-se as primeiras conversas internacionais acerca do meio ambiente na Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano, também denominada de Cúpula da Terra. No mesmo ano, o Clube de Roma elaborou um estudo para analisar as repercussões da atividade econômica vinculada à Guerra Fria no “meio ambiente humano”. Nesse relatório, foi mencionado pela primeira vez que o crescimento pode ter limites e foi posto em discussão os problemas relacionados à população, à tecnologia, aos recursos naturais e ao meio ambiente.

A partir dessa primeira Cúpula da Terra, o interesse da comunidade internacional pela poluição e seus efeitos na biosfera foi crescendo. Em dezembro do mesmo ano, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foi criado com o objetivo de estabelecer uma agenda ambiental global a fim de incorporar a dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável e, em 2015, as Nações Unidas adotaram 17 objetivos globais de Desenvolvimento Sustentável para enfrentar a pobreza, proteger o planeta e alcançar a paz e a prosperidade. 

A ONU define o desenvolvimento sustentável como “a satisfação da geração presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades”.  E para contribuir com as tarefas do PNUMA, em 1973 foi estabelecido o dia 5 de junho como o Dia Mundial do Meio Ambiente.

Resultados até agora e desafios

Nos últimos 50 anos, os desafios ambientais nos levaram a uma encruzilhada como nunca antes na história dos seres humanos. A natureza está deixando de ser esse espaço seguro para a vida na terra, e a pegada humana no planeta levou a uma crise sem precedentes, marcada pelo Antropoceno, pelas mudanças climáticas, pela poluição e pela perda de biodiversidade, entre outras importantes transformações. 

Nos últimos anos, os relatórios do painel de especialistas em mudanças climáticas alertaram sobre a urgência de reduzir as emissões de gases de efeito estufa para aplacar o aumento da temperatura e as consequências que isso pode trazer. A comunidade científica, por sua vez, vem alertando há décadas sobre esses processos, especialmente sobre a necessidade de fazer mudanças nos estilos de vida, que devem se basear no desenvolvimento, no crescimento e na expansão, e de buscar padrões de consumo mais responsáveis. 

Entretanto, essas mensagens não permearam as esferas políticas com o grau necessário de responsabilidade, compromisso e urgência. Portanto, 50 anos após a criação do Dia Mundial do Meio Ambiente, é fundamental que a humanidade amplie a imaginação e a disposição para pensar de maneira coletiva algumas alternativas ao desenvolvimento atual.      

Paradigmas emergentes para repensar a crise ambiental 

Os desafios atuais não podem ser abordados sob as mesmas perspectivas e práticas que nos trouxeram até aqui. Portanto, é necessário abrir-se para paradigmas de vida alternativos.

Nesse sentido, diferentes propostas têm surgido no centro das comunidades indígenas e por parte de quem habita os territórios mais isolados, que são quem encabeça as demandas por justiça climática, social e ambiental. Devemos considerar essas perspectivas como propostas legítimas para transformar nosso vínculo com a natureza e as formas de habitar o planeta. 

O sistema capitalista, ao longo de sua história, tem mantido uma relação utilitária com a natureza, e o planeta tem sido uma fonte de extração de recursos naturais em que o preço é definido pelo mercado. Isso é evidente na América Latina, onde a colonização trouxe uma lógica de mercantilização da terra, de seus componentes e inclusive das comunidades humanas que a habitam.

A discussão sobre o valor/preço da natureza é cada vez mais predominante nas arenas da diplomacia internacional, onde se debate os melhores caminhos para evitar o avanço dos seres humanos sobre a natureza. Entretanto, para muitos povos indígenas, originários, camponeses e locais, a natureza é um sujeito de direitos não só porque sustenta nossas vidas, mas também porque seu cuidado é parte de vínculos de reciprocidade e harmonia entre as comunidades e a Mãe Terra

Esses avanços são evidentes nas Constituições de Bolívia e Equador, que, partindo de marcos institucionais e jurídicos, buscam transformar os marcos ético-políticos e mostrar outras formas de se relacionar com a Mãe Terra, baseadas na interconexão, na interdependência e no respeito.

Diante da crise ambiental que atravessamos, essas perspectivas adquirem maior relevância e é urgente incluí-las, a fim de abrir um novo horizonte de possibilidades para repensar a forma como habitamos o mundo. Basicamente, essas propostas demandam abordar as necessidades reais dos povos, considerando uma dimensão territorial para manter a vida em todas as suas expressões e avançar para uma justiça ambiental e social. Também buscam ampliar as lideranças e incluir setores historicamente excluídos e suas visões indígenas/originárias, como a de Mãe Terra, que tem raízes na percepção do mundo em que predomina o equilíbrio entre os humanos e a terra. 50 anos após o Dia Mundial do Meio Ambiente e diante de uma crise ambiental cada vez mais evidente, entendemos que as respostas aos problemas ambientais devem considerar propostas que partam de territórios, comunidades e grupos historicamente excluídos, e que a crise deve ser abordada em sua dimensão política de justiça. Muitos desses temas serão analisados no Congresso de Pesquisa e Inovação em Sustentabilidade 2023 (SRI), a maior reunião transdisciplinar do mundo, que ocorrerá em junho no Panamá.

María Inés Carabajal é professora e doutora em Antropologia pela Universidade de Buenos Aires (UBA). STeP Fellow do Instituto Interamericano de Pesquisas sobre Mudanças Globais (IAI). Especialista nas dimensões humanas do clima e das mudanças climáticas no Antropoceno.

Autor

Ingeniera Ambiental con especialidad en Cambio Ambiental y Desarrollo Internacional e interés en el interfaz Ciencia-Política. Miembro de OWSD Bolivia y actual IAI STeP Fellow en el Belmont Forum.

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