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Joe Biden devolve o favor a López Obrador

Em 10 de novembro de 1975, o representante do México, Emilio Rabasa, votou na Assembleia Geral da ONU a favor da Resolução 3379, que definia o sionismo como uma forma de racismo. A raiz do voto do governo de Echeverría, a liderança econômica judaica dos Estados Unidos declarou um boicote turístico – indústria que se encontrava em plena expansão – ao México, que esvaziou as praias de estrangeiros.

Como presidente, Echeverría havia adotado um discurso esquerdista ou melhor, de acordo com os tempos, terceiro mundista, e abraçava todas as causas revolucionárias, ainda que internamente perseguisse os membros da guerrilha urbana e rural. O conceito de Terceiro Mundo, recordemos, aparecia em meios acadêmicos e políticos, no marco da bipolaridade estadunidense-soviética.

O presidente mexicano estava prestes a terminar seu mandato e aspirava a ser o líder do chamado Terceiro Mundo e dessa forma alcançar a Secretaria Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, estava longe de alcançar qualquer uma das posições.

Pelo contrário, aquele voto contra os interesses judeus trouxe sérios danos à indústria mexicana como consequência de uma advertência de viagem (travel advisory) aos estadunidenses que pretendiam fazer turismo de inverno no México. Foi relativamente simples, pois os chamados tour operadores – muitos deles dirigidos por empresários judeus – simplesmente inseriram uma falsa taxa de ocupação total na indústria hoteleira mexicana nos sistemas de venda, esvaziando assim os principais destinos turísticos do país. Isto representou uma das piores crises para nossa atividade turística.

Um remake da crise turística de 70?

Recentemente, o Presidente Andrés Manuel López Obrador explodiu a chamada Cúpula das Américas ao advertir que se “nem todos os países da região fossem convidados, ele não compareceria”. Ele foi seguido por outros mandatários e o chanceler Marcelo Ebrard arrematou o gesto em Los Angeles, reafirmando a posição de López Obrador. A cúpula acabou sendo um fiasco, e após dias de reuniões não se chegou a nenhum grande acordo político nos temas essenciais.

Alguns dias após a repudiação mexicana, o Departamento de Estado dos Estados Unidos lançou uma dura ofensiva contra o governo mexicano, através do chamado a seus cidadãos para que evitem viajar para o México. E, se o fizerem, que tomem medidas de segurança por causa do ambiente violento.

A convocação é por tempo indeterminado, dada a situação de violência em todo o país, diz o documento, com exceção dos estados de Campeche e Yucatán, que têm maiores garantias. Entretanto, para chegar a eles, é inevitável passar por áreas de risco e para não ir mais longe, basta ver a violência em Quintana Roo e Chiapas.

Não faltam razões ao Departamento de Estado estadunidense para advertir a seus cidadãos do perigo que existe quando se transita pelo país, dado os constantes atos de violência e a escassa capacidade de reação das forças de segurança do Estado como consequência, em parte, de uma política de segurança dissuasora de “abraços e não balas”.

Mas face à indelicadeza do presidente, é inevitável imaginar que o governo dos Estados Unidos esteja respondendo ao governo mexicano, e a primeira medida explora precisamente o ponto fraco deste governo: a insegurança.

Mas para além de apontar as debilidades do governo, a medida afeta a atividade turística, uma das fontes mais importantes de ingresso de divisas. E não seria surpreendente que, se esta é a lógica da reação ao desdém, muito em breve novas medidas possam afetar outras áreas, como as remessas substanciais que os cidadãos enviam ao México e pelas quais o presidente agradece, como se se tratasse de um apoio ao seu projeto político da 4T.

Até quando durará esta advertência de viagem?

Que o Departamento de Estado estadunidense tenha emitido esta advertência de viagem complica a situação, pois coloca medo aos potenciais turistas de seu país que fazem planos para os próximos meses e desta maneira poderiam terminar voltando-se para destinos mais seguros.

Esta medida surge num contexto em que inclusive, uma intensa campanha do governo dos Estados Unidos há anos tenta dissuadir aos estadunidenses que deixem de viajar aos estrangeiro e solidariamente o façam em seu país para manter essas divisas dentro de suas fronteiras. 

Por outro lado, a economia dos Estados Unidos já mostra sinais de debilidades – falta de crescimento e uma inflação galopante – e isto traz uma contração do consumo. Nestas circunstâncias, um dos gastos que cai mais rapidamente é o do turismo.

Em suma, o desdém do Presidente López Obrador e o seu interesse pela liderança política na América Latina – como Echeverría Álvarez tentou fazer há cinquenta anos entre os países do chamado Terceiro Mundo – tem consequências. A primeira delas é o alerta de viagem, que diante de um contexto global complexo poderia desencorajar muitos estadunidenses a viajar para o México, afetando assim gravemente a indústria turística nacional. E com o passar dos meses, o governo estadunidense poderia tomar novas medidas que afetem a economia mexicana.

De momento, nos círculos do governo não está sendo feita a leitura correta e se interpreta esta nova medida como uma decisão injusta “entre amigos”. Inclusive, o presidente da câmara morenista do destino turístico de Mazatlán chegou ao ponto de censurar que “os Estados Unidos têm mais violência”. Isto mostra-nos mais uma vez que os presidentes devem ler melhor as mensagens dos seus adversários e, acima de tudo, escolher bem as suas batalhas.

Em conclusão, na política frequentemente não há coincidências. Geralmente, uma ação provoca uma reação e ainda mais, quando essa ação é uma disputa pelo espaço de uma liderança poderosa. A história do México demonstra isto e, quase sempre, perdemos quando se trata de jogar “venciditas” com o nosso vizinho do norte.

*Tradução do espanhol por Giulia Gaspar.

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Professor da Universidade Autônoma de Sinaloa. Doutor em Ciência Política e Sociologia pela Universidade Complutense de Madri. Membro do Sistema Nacional de Pesquisadores do México.

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