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México: a recontagem midiática da corrida eleitoral

Na era da sociedade em rede, apostar no respeito, na empatia e na sensibilidade deve ser uma das premissas básicas do próximo presidente, ou seja, promover a comunicação para a diversidade.

De acordo com o Instituto Nacional Eleitoral (INE), os três debates presidenciais transmitidos pela televisão antes das eleições no México tiveram audiências recordes. O primeiro foi assistido por 11,8 milhões de pessoas, o segundo por 13,7 milhões e o terceiro por 11,6 milhões. Como se pode ver, apesar de seu formato desgastado, o segundo debate foi o mais através da mídia tradicional.

No ecossistema digital, destaca-se a força das redes sociais como difusoras de informação. Somente no Facebook, o primeiro debate teve um alcance de 7.578.465, 4.209.012 reproduções e 529.414 reações. No Tiktok, 310.313 foi o alcance, 3.300.000 impressões e 3.409.559 reações. No X foram 576.339 de alcance, 378.245 reproduções, 208.517 impressões e 43.321 reações. Além disso, o YouTube teve 15.655 reproduções em maia, 23.090 em nahuatl, 40.760 em tsotsil e 217.117 em língua de sinais mexicana, sem esquecer as perguntas que os cidadãos fizeram por meio dessas redes.

Entretanto, essa interação com a mídia ocorreu em um contexto de violência que moldou a forma como as pessoas assistiram à disputa eleitoral. A Data Cívica informou que, durante o período eleitoral de 2023-2024, 105 aspirantes, pré-candidatos e candidatos sofreram algum tipo de ataque violento do crime organizado. Desses, 31 foram assassinados, somando-se os casos ocorridos nos dois últimos dias das campanhas. Além disso, a Red Rompe el Miedo, da Data Cívica, documentou até 2 de junho, dia da eleição, 33 casos de violência contra a imprensa durante a jornada eleitoral.

Essa violência, que não é exclusiva do sexênio ou da corrida eleitoral, se expande na mídia a ponto de se dizer que a mídia dominante dessa época determinou a maneira como as pessoas interpretaram sua realidade. A reflexão de Marshall McLuhan está aninhada na frase “o meio é a mensagem”.

A prevalência do meio e não da mensagem que apela ao diálogo cria um entrelaçamento do qual vale a pena avaliar alguns aspectos positivos e negativos. Entre os aspectos positivos estão a visibilidade das injustiças, a defesa dos direitos humanos e a elevação das vozes. Os aspectos negativos foram a polarização da opinião pública ou a promoção do medo. Hashtags como #NarcoPresidenteAMLO #XochitlNarcoSatanica que circularam nas redes são um exemplo que influenciou a conversa.

A prevenção da violência se refere à chantagem, à lei do gelo, a ignorar, desqualificar, ofender, humilhar em público e à crítica agressiva como um sinal amarelo de alerta. Se alinharmos esse parâmetro com o que vimos nos debates, os candidatos ultrapassaram os limites que permeiam e prejudicam a vida cotidiana.

O vai-e-vem, as acusações, as desqualificações e os dados não comprovados serão lembrados por memes e vídeos de tiktok como as formas mais gentis de política na era da informação e da desinformação diante de campanhas sufocantes e vozes de coerção que permearam a mídia tradicional e digital.  

Embora a violência seja estrutural, a maneira como Gálvez e Sheinbaum disputaram a corrida para ganhar a preferência eleitoral, com estratégias e táticas eleitorais baseadas na guerra suja, prejudica a coesão social e normaliza a violência à medida que ela permeia a mídia.

Embora o público adira ou se distancie, quando os dados inundam as redes sociodigitais, entramos em uma câmara de eco que implica um consumo de mídia tendencioso, pois o algoritmo nos mostra apenas mensagens com as quais ele acredita que concordaremos ou que se encaixam em nossas crenças e descarta outras.

Na era da sociedade em rede, apostar no respeito, na empatia e na sensibilidade deve ser uma das premissas básicas do próximo presidente, ou seja, promover a comunicação para a diversidade. Abrir a conversa com mulheres, migrantes e mães buscadoras é parte obrigatória da agenda do governo.

Paradoxalmente, o determinismo tecnológico é mais relevante do que nunca porque tem um impacto maior ou menor em nossas opiniões e reações, de modo que, no relato da mídia sobre a disputa eleitoral, pode-se dizer que o meio foi a mensagem em uma aldeia global na qual a violência reinou em todas as suas expressões.

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Doutora em Pesquisa em Comunicação pela Universidade Anáhuac, México. Professora da Universidad Anáhuac e da Universidad Panamericana, Cidade do México.

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