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Narco: o jogador a ser vencido nas eleições mexicanas

As pesquisas de intenção de voto presidencial no México estão provavelmente 90% centradas em ver quem está na frente: Claudia Sheinbaum, a virtual candidata da coalizão Juntos Hacemos Historia, ou Xóchitl Gálvez, que carrega as bandeiras dos partidos aglutinados em torno da coalizão Frente Amplio por México. E, nessa lógica, cada uma delas busca todos os dias, por meios convencionais, ganhar simpatia e se instalar no imaginário como a virtual vencedora de uma disputa que ocorrerá na próxima primavera, ou seja, dentro de nove meses, o que é muito tempo de espera, e a política democrática, como sabemos, é inconstante, especialmente em regiões capturadas pelo crime organizado. É justamente esse ator que se perfila como o inimigo a ser vencido. 

Embora não seja um ator convencional na luta eleitoral, está em campanha como só ele sabe fazer, através da violência em suas várias manifestações. E a captura direta de amplos segmentos do território nacional permite constatar que pode ter um resultado em termos eleitorais. Como aconteceu em 2021 ou muito antes, essa captura poderia se repetir no controle de eleitores e, portanto, provocar resultados com ganhadores e perdedores. Até agora, nada leva a supor que não intervirá quando os incentivos para isso são cada vez maiores. 

Deve-se lembrar que o crime organizado vai além da imagem de assassinatos de aluguel que estamos acostumados a ver no noticiário de Azucena Uresti, e é algo mais complexo que atinge economias de escala na maioria dos estados da federação. As ações do crime organizado estão destinadas a gerar maior poder aos cartéis e proteger a economia paralela, a lavagem de dinheiro que é filtrada diariamente para a economia formal. 

O problema subjacente é que a economia gera interesses políticos e é quando as figuras dos cartéis buscam se infiltrar no processo eleitoral, desde a fase de definição dos candidatos até que eles se tornem os vencedores da votação.  

Eles estão, então, investindo parte de sua capacidade de violência para obter um benefício maior na representação política e na integração dos gabinetes dos três níveis de governo. Portanto, quem controla essa economia armada tem a capacidade de influenciar a política institucional. 

Logo, o que temos é que a disputa de Sheinbaum e Gálvez é mediada por essa terceira parte em discórdia que tem razões poderosas (ilegítimas) para tentar influenciar as eleições federais e locais. E estão fazendo isso. 

Essa é a característica distintiva das chamadas narcocracias, que têm nas figuras do crime organizado um protagonista que, ao menos, tenta ser decisivo na escala política e burocrática para seu próprio interesse ou para a simples prestação de serviços diretos. Quando isso ocorre no México, ou em qualquer outro país, as rotinas eleitorais são as custas das ações que esse ator das sombras impõe à classe política e à sociedade civil. 

Nos estados da federação, quando os partidos políticos conduzem seus processos internos, campanhas e operações no dia da eleição, o que deveria fazer parte da normalidade democrática é brutalmente prejudicado pelo assassinato, agressão, perseguição ou sequestro de quem aspira a um cargo e são mal vistos pelo cartel no estado ou na região. 

Isso, que é uma anomalia em uma democracia, está por trás do espetáculo dantesco que vemos todos os dias em qualquer parte do país, com maior ou menor brutalidade, e que muitos olham com a simplicidade de que é “coisa de narcos”, o que não nos permite ver o contexto de suas ramificações na política.

E quando vemos sua dimensão que, em termos de números, neste sexênio já atingiu cerca de 170.000 homicídios dolosos e 35.000 desaparições forçados, é menor do que a de dois ou mais candidatos à presidência.

Esses grupos têm maior visibilidade e o dom da onipresença, já que lhes deixaram crescer quando, em condições normais, seria racional que o espaço público fosse cenário do jogo democrático. Mas não, quem alcança a maior visibilidade, os melhores tempos na mídia, infelizmente são os atores da antipolítica que transitam livremente em veículos militarmente equipados pelas avenidas, ruas e estradas e exibem todo o seu poder de reação. 

Portanto, a atenção do cidadão está nesse lado, e as declarações das candidatas à presidência não têm nenhum impacto porque estão completamente ausentes dessa realidade, que todos veem pelo canto dos olhos.

No México, estamos às vésperas das eleições presidenciais de maior risco, porque não está em jogo só a presidência da República ou o Congresso da União, mas também quem acabará ganhando essa disputa, se os candidatos convencionais ou os do crime organizado, que já sabemos o que significará para o país. Ou, pior, no final do jogo, como o país será montado e quais atores tomarão as decisões nos próximos seis anos. 

Em suma, os ares que sopram não são os de melhoria democrática, mas de um autoritarismo sui generis do crime que já assola boa parte do país e está provocando, como nunca, o deslocamento de populações às zonas urbanas ou à fronteira norte buscando refúgio do perigo.

Alguém adverte que o que não for feito hoje em termos de contenção acabará tendo um impacto no resultado das chamadas maiores eleições da história de nosso país.

Que alguém avise que o que não for feito hoje em termos de contenção acabará impactando o resultado da chamada maior eleição da história de nosso país.

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Professor da Universidade Autônoma de Sinaloa. Doutor em Ciência Política e Sociologia pela Universidade Complutense de Madri. Membro do Sistema Nacional de Pesquisadores do México.

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