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O governo do Equador declara guerra ao terrorismo

Um mês após o início do governo de Daniel Noboa Azín, os últimos acontecimentos de insegurança e violência testam sua capacidade de administrar uma imensa crise, além de uma economia quebrada. Esses são dois testes para o presidente mais jovem da história do Equador, que chegou à presidência de forma meteórica após um curto período na Assembleia Nacional. Apesar de um contexto desfavorável, Noboa goza de grande popularidade e apoio nessa guerra declarada contra o crime organizado.

Em menos de dois dias, as quadrilhas criminosas que operam sob o patrocínio de cartéis e alianças da Colômbia e do México assumiram o controle das prisões, detiveram guardas penitenciários como reféns, o homem mais perigoso do país, conhecido como Fito, escapou da prisão, assim como o principal suspeito do atentado contra a vida da procuradora-geral Diana Salazar, o capitão Pico. Simultaneamente, ocorreram eventos terroristas em várias cidades, incluindo a explosão de carros-bomba e a tomada de jornalistas e funcionários administrativos como reféns por várias horas em um canal público de televisão.

Esse coquetel de eventos terroristas levou o presidente a decretar estado de emergência e a declarar imediatamente um alerta de segurança máxima no país: conflito armado interno e declarar guerra a quadrilhas bem identificadas. Isso nunca havia acontecido antes em uma democracia. A gravidade da situação fez com que todas as forças políticas representadas na Assembleia cerrassem fileiras e declarassem seu apoio ao governo, permitindo que policiais e militares desfrutassem de anistia e indulto em caso de autodefesa e defesa da população na luta contra terroristas. A comunidade internacional também apoiou Noboa, com declarações dos governos dos Estados Unidos, da União Europeia e dos países fronteiriços da Colômbia e do Peru.

Breves pinceladas da insegurança

O problema da insegurança e da violência nos níveis atuais não tem precedentes no Equador, mas não surgiu de repente. A força demonstrada pelas facções terroristas nos últimos dois dias é prova de um processo que vem ocorrendo há vários anos, durante os quais elas conseguiram estabelecer uma estrutura nacional e um modelo de negócios que gira em torno das drogas. Uma estrutura com capacidade logística, recrutamento de milhares de jovens para suas fileiras e uma estratégia para se infiltrar no Estado de forma eficiente, cooptando áreas-chave do sistema judiciário, da Assembleia, dos governos locais e das forças da lei e da ordem, conforme demonstrado pelas investigações da Procuradora-Geral, Diana Salazar, no caso Metástasis.

Historicamente, o Equador esteve no meio de dois conflitos armados que estremeceram o tecido social da Colômbia e do Peru. A fronteira compartilhada com o primeiro foi sistematicamente violada pelos guerrilheiros das FARC e, no caso do segundo, o Sendero Luminoso e seu credo ideológico se tornaram um catecismo para alguns grupos indígenas radicais. Apesar disso, os surtos de insegurança não atingiram os níveis atuais, quando a percepção é a mesma. No entanto, havia vários sinais que prenunciavam um fim catastrófico. Quando o governo colombiano bombardeou um acampamento das FARC no Equador em 2008, a Comissão de Inquérito determinou que os guerrilheiros haviam contribuído para a política equatoriana. A partir desse momento, a conversa sobre narcopolítica começou a se espalhar.

A resposta à pesquisa do Latinobarómetro sobre “com que frequência você se preocupa com a possibilidade de ser vítima de um crime violento” no Equador oferece algumas pistas. Em 2011, 43% da população respondeu que sim, esse número subiu para 49% em 2013, caiu para 30% em 2015 e subiu novamente para 43% em 2023. Em outras palavras, os níveis atuais de preocupação são os mesmos de 12 anos atrás, no entanto, os tipos de delito, sua frequência e quantidade aumentaram, assim como o número de mortes violentas por 100.000 habitantes. Agora registram-se 40, o que coloca o Equador entre os países mais violentos do mundo.

Entre os anos de 2018 e 2023, enquanto a percepção dos cidadãos de serem vítimas de crimes violentos teve um aumento, a satisfação com a democracia caiu e a insatisfação com o desempenho econômico aumentou. É possível afirmar que a população avalia mal a democracia em ambientes de insegurança, e essas percepções ocorrem em um contexto de crise econômica.

As medidas adotadas pelo presidente Daniel Noboa só podem ser avaliadas a médio e longo prazo, pois o desmantelamento de grupos terroristas não pode ser feito em um curto período de tempo. Além de conquistar apoio político interno, o governo precisa de recursos, planejamento e equipamentos confiáveis para combater dois fenômenos: a infiltração de narcotraficantes no Estado e os golpes diários desferidos por criminosos comuns a serviço de grandes interesses transnacionais. Nesse sentido, a tese de que a luta contra um problema transnacional requer apoio regional e global está ganhando cada vez mais força.

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Cientista político e comunicador. Coordenador geral de pesquisa do Instituto de Altos Estudios Nacionales - IAEN (Quito). Doutorado em Ciências Sociais pela FLACSO-Equador. Últimos livros (2020): "En el ojo del huracán. Lei de Comunicação no Equador".

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