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O que a política deve encarar na questão ambiental

Os problemas na questão ambiental têm relação direta com um sistema de vida baseado no crescimento constante. Embora a academia alerte há décadas que já alcançamos os limites do uso de recursos no planeta, o aumento do consumo segue sendo a medida do êxito.

A fragilidade do nosso entorno somente aparece nas manchetes quando ocorre uma catástrofe ou uma interrupção no fornecimento. Assim que se restaura a “normalidade”, voltamos a esquecer a crise e suas possíveis lições. No entanto, as turbulências não vão parar.

Política e conflitos ambientais

É inevitável repensar os modelos de desenvolvimento de nossas sociedades e incorporar a questão ambiental à agenda política. A afetação de ecossistemas indispensáveis à vida humana está documentada, e prevê-se eventos climáticos extremos mais frequentes e mais intensos. As longas secas seguirão inundações, como pode ser visto, por exemplo, em regiões da Itália. Aumentará a frequência dos enfrentamentos pelo acesso à água escassa, como ocorre no México. As explorações de recursos como lítio exigirão enormes quantidades de energia e água. A política não deve correr atrás dos problemas. Aparecerão conflitos que não poderão ser remendados. É necessário antecipar as crises que virão.

Os partidos políticos devem chamar os problemas por seu nome e trabalhar em estratégias sustentáveis para enfrentá-los. Haverá crise hídrica, os recursos considerados infinitos se esgotarão e novas pandemias serão possíveis. Se os problemas não forem encarados a tempo pelas instituições políticas, se os partidos democráticos não forem capazes de liderar, as propostas autoritárias e populistas ganharão apoio.

Chaves para a política ambiental

Algumas chaves para os partidos políticos e sua aproximação de uma gestão ambiental responsável:

  • Gestão de risco
    A mudança climática se manifesta com fenômenos climáticos extremos. Isso não deveria ser uma surpresa. Não é viável propor políticas baseadas na disponibilidade de recursos e na estabilidade climática que não existirão no futuro. Os partidos políticos devem incorporar cenários de risco e de escassez como parte de sua oferta eleitoral. A economia na utilização de água e energia deve fazer parte de seus planos de governo. Para trabalhar esses temas de forma sólida, recomenda-se incluir referências no tema.
  • Custos ambientais

A necessidade de internalizar os custos ambientais dos empreendimentos econômicos não é novidade. Meio século após a Conferência de Estocolmo, nenhum partido político pode desconhecer os princípios do desenvolvimento sustentável. O confronto entre economia e meio ambiente é estéril. Não faz sentido um empreendimento que melhora o PIB à custa de danos ao ecossistema em que é realizado. O desafio para os partidos políticos é conciliar a criação de atividade e emprego com a preservação de serviços ecossistêmicos dos quais dependemos. Por exemplo, a preservação de áreas úmidas e florestas ribeirinhas não é uma atividade idealista, mas faz parte do planejamento estratégico da gestão de recursos hídricos.

  • Transição energética

A energia proveniente de combustíveis fósseis não é viável em médio prazo. O Acordo de Paris compromete os Estados a reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa. Isso implica um esforço contínuo na mudança de infraestrutura e nos hábitos de consumo. Em um futuro nada distante, já não será possível utilizar veículos com esses combustíveis fósseis. Aprofundar e acelerar a transição energética é parte inevitável da agenda política.

  • Cidadania

Os partidos devem evitar a promessa fácil baseada em falsas suposições. O mundo será cada vez mais complexo e disruptivo. As mudanças climáticas provocarão a aparição de doenças que afetarão os cultivos e as pessoas. A maior ocorrência de eventos extremos colocará à prova infraestruturas caras, por exemplo, devido ao aumento do nível do mar. Essas situações exigem um intercâmbio maduro com os cidadãos, não só com eleitores e consumidores. São necessários cidadãos conscientes no uso de recursos, em particular, água e energia. Os partidos devem incentivar essa atitude e habilitar o debate construtivo entre os interesses a curto prazo e a responsabilidade pelas gerações futuras.

  • Diálogo com a ciência

Para poder implementar políticas sustentáveis, é necessário levar em conta o conhecimento sobre o funcionamento dos ecossistemas. Não é possível nem esperado que todo político seja especialista em temas ambientais e de energia. Portanto, o diálogo com a academia deve fazer parte da rotina de comitês partidários dedicados ao tema. O diálogo com a ciência, para avançar para uma política baseada em evidências, deve fazer parte da formação de jovens líderes políticos. Isso também se aplica à atividade legislativa, que deve sempre envolver a participação de especialistas.

Os partidos políticos são indispensáveis para a democracia. O avanço do populismo e de lideranças carismáticas não é uma opção. Os partidos políticos têm a legitimidade do voto e respondem perante o eleitorado por sua gestão.

Entretanto, os partidos não devem responder só aos seus eleitores. Como gestores da coisa pública, também são responsáveis pelo bem-estar de gerações futuras. Não é eticamente aceitável implementar políticas às custas dos que virão. Por isso, o desafio é grande, não há tempo a perder.

*Este texto foi publicado originalmente no Diálogo Político.

Autor

Coordenador de projetos da Fundação Konrad Adenauer, escritório de Montevidéu. Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade da República do Uruguai. Graduado na Fachhochschule für Druck (Stuttgart, Alemanha).

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