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Pedro Castillo se afasta dos radicais

Na tarde de quarta-feira, 6 de outubro, o Presidente Castillo anunciou em uma breve mensagem aos peruanos que aceitava a renúncia – que na realidade foi solicitada – de seu Primeiro Ministro, o radical de esquerda Guido Bellido. Assim, terminava uma das gestões mais curtas e controversas da vida política peruana a menos de 100 dias do início do novo governo.

Guido Bellido não foi a primeira baixa do governo, mas diferente de Héctor Bejar, o ex ministro das relações exteriores, ele teve que renunciar devido a pressão de grupos radicais de direita. Em apenas três meses, o ex-Primeiro Ministro desgastou a paciência de todos, já que inclusive chegou a conspirar nas comunicações internas entre os parlamentares contra as nomeações do Presidente.

Bellido foi eleito congressista pelo Perú Libre, mas com sua nomeação como ministro ele se tornou o colaborador mais importante do presidente para liderar a política geral do governo, uma espécie de segundo homem para Castillo. E embora seu poder político lhe desse todo o direito de exigir mais espaço para seus quadros no governo, no seu curto tempo como ministro ele desenvolveu uma agenda diferente das necessidades e objetivos do governo.

Além disso, ao nomear pessoas carentes de habilidades mínimas para o exercício da função pública no lugar de nomes que poderiam contribuir para a construção de um governo sólido, ele transformou estes dois primeiros meses em um martírio para o governo, que foi permanentemente assediado pela oposição.

Diferenças com Castillo

Entre tantas urgências e dificuldades, Bellido se dedicou a promover uma agenda política baseada na ideologia, em vez de se concentrar em assuntos mais concretos de política pública. E sua ambição o levou a buscar notoriedade em assuntos que desconhecia. Esta inexperiência contribuiu para que a oposição mais radical ganhasse mais espaço no Congresso, levando os moderados a se manifestarem a favor da demissão do ministro do trabalho Iver Maraví, outro titular radical próximo ao líder do Peru Libre, Vladimir Cerrón.

Sem uma maioria simples no Congresso e sem controle da agenda parlamentar, o governo se via obrigado a buscar uma estratégia de articulação mais ampla que dialogasse com outras forças políticas, sobretudo com os parlamentares mais moderados, para impulsionar mudanças. No entanto, ao contrário do discurso do presidente, que se colocou desde o início a favor de uma postura equilibrada, a de Bellido era ousada e agressiva apesar da debilidade de seu partido, que tem apenas 37 dos 130 assentos.

O grande problema das plataformas radicais quando chegam ao governo – sejam elas de esquerda ou de direita – é a dificuldade de traduzir seus discursos ideológicos em soluções concretas e políticas públicas. Portanto, as agendas ideológicas tendem a ser conflituosas, genéricas, repetitivas e carentes de conteúdo. Isto levou Bellido e seus apoiadores a perderem uma grande oportunidade de contribuir com propostas concretas para o governo.

As fissuras no governo

Para além do fato da saída de Bellido, as diferenças entre alguns ministros deixaram fissuras que se projetam dentro da própria bancada governista, que parece estar dividida entre aqueles que apoiam a moderação de Pedro Castillo e aqueles que buscam uma mudança mais radical.

Se a ala mais radical da bancada governista não assume a fraqueza de seu governo e insiste em resolver demandas ligadas a um imperativo moral, ao invés de estratégico, existe a possibilidade de que a bancada do governo possa se romper. Se for assim, os radicais poderão ficar cada vez mais isolados.

Diante de tal desordem no governo, a boa notícia é que a última pesquisa da Ipsos mostra que 77% dos peruanos acreditam que o presidente não deve ser destituído do seu cargo. No entanto, a oposição mais radical no Congresso insiste em aprovar leis para diminuir as prerrogativas do presidente, como a que procura limitar o uso da questão da confiança pelo executivo, proibindo que ela seja levantada sobre reformas constitucionais ou temas de competência do Congresso.

Talvez seja a hora das diversas forças legislativas também se disporem a isolar, de uma vez por todas, os radicais de direita para melhorar o clima político e permitir que o governo se concentre em enfrentar os desafios deixados pela pandemia no país.

*Tradução do espanhol por Maria Isabel Santos Lima

Foto de Presidencia de la República del Perú

Autor

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Cientista político. Professor e pesquisador associado da Universidade Federal de Goiás, (Brasil) Doutor em Sociologia pela Univ. de Brasília (UnB). Pós-doutorado na Univ. de LUISS (Italia). Especializado em estudos comparativos sobre a América Latina.

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