A participação das igrejas evangélicas ou neopentecostais na política latino-americana cresce dia a dia e alimenta as facções políticas da extrema direita para promover sua agenda conservadora. Seja através de seus próprios candidatos ou apoiando líderes que pensam da mesma forma, elas definem eleições e pressionam a tomada de decisões, graças ao seu poder retórico que canaliza a desesperança para a política.
A associação entre religião e política não é nova. Historicamente, a Igreja Católica tem estado vinculada a partidos conservadores ou ultraconservadores, bem como a movimentos como “Tradição, Família e Propriedade” que surgiram na década de 1960 e estavam ligados às ditaduras do Cone Sul. A religião católica também tem estado presente através da democracia cristã, que em alguns países alcançou a presidência. E mesmo na esquerda, desde o Concílio Vaticano II, o movimento da Teologia da Libertação teve uma grande influência. Hoje, o catolicismo ainda está presente na retórica política de muitos países latino-americanos.
No entanto, o monopólio católico, que até a década de 1970 não conhecia nenhuma concorrência, vem perdendo terreno nas últimas décadas diante do evangelismo. Atualmente esta corrente é praticada por quase 20% da população da América Latina e em alguns países da América Central está perto de atingir a metade da população, devido a uma especial influência nas classes mais baixas e marginalizadas da sociedade.
os setores evangélicos se infiltraram na política para impor seus ideais contrários à alteração da ordem patriarcal, à reinterpretação do conceito de família, à homossexualidade e às liberdades sociais.
Apesar da concorrência pelos fiéis, assim como a Igreja Católica, os setores evangélicos se infiltraram na política para impor seus ideais contrários à alteração da ordem patriarcal, à reinterpretação do conceito de família, à homossexualidade e às liberdades sociais. Segundo o artigo: Igrejas Evangélicas e Poder Conservador na América Latina, publicado pelo Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (CELAG), o evangelismo também explora politicamente sua grande influência midiática, graças a suas próprias estações de rádio, canais de televisão e redes sociais, o que deixa os outros candidatos do sistema político em desvantagem. Essas organizações também têm, segundo Javier Calderón Castillo, autor do artigo, uma “grande capacidade econômica vinculada à contribuição-convicção de seus paroquianos” e são fervorosas “defensoras do neoliberalismo e da sociedade de consumo”.
Neste contexto, as organizações evangélicas estão cada vez mais presentes na vida política da América Latina. Em países como Costa Rica, República Dominicana, Peru e México organizaram marchas contra o movimento LGBT. Na Colômbia, onde representam 20% da população, os evangélicos associados ao ex-presidente Álvaro Uribe desempenharam um papel fundamental na derrota do plebiscito de 2016 para ratificar o Acordo de Paz, devido ao fato que ele implementava os direitos das mulheres e da comunidade LGBT. No Brasil, com cerca de 22 milhões de pentecostais, Eduardo Cunha, antes de ser condenado a 15 anos de prisão por corrupção, liderou a bancada evangélica em contra das reformas a favor dos direitos reprodutivos das mulheres e a favor do duvidoso julgamento parlamentar da presidenta Dilma Rousseff. E na Guatemala, onde o evangelismo alcançou praticamente ao catolicismo em número de fiéis, o governo é dirigido por Jimmy Morales, humorista e teólogo evangelista, que em seus discursos exibe o ar de um pregador.
Na maioria dos países latino-americanos, como o catolicismo, o evangelismo penetrou nas esferas políticas para impor sua agenda ultraconservadora. Mas ao contrário da narrativa mais ortodoxa da Igreja, os pastores evangelistas estão introduzindo na política um tipo de populismo religioso mais radical e de maior alcance.
Foto de Ministerios Cash Luna em Trend hype / CC BY-NC-SA
Autor
Jornalista, mestre em Jornalismo pela Universidade de Barcelona e em Estudos Latino-Americanos pela Universidade Complutense de Madrid.