O partido União Cívica Radical, do ex-presidente Raúl Alfonsín, tem uma oportunidade de ouro para colocar-se como a oposição mais genuína a um presidente que o confronta constantemente. Milei afirmou repetidas vezes que, no passado, espancaria violentamente um boneco com a máscara do ex-presidente radical, considerado por grande parte dos argentinos como o pai da democracia contemporânea e que sempre manteve um discurso e ações republicanas.
O radicalismo, que atualmente tem uma grande presença legislativa e territorial, foi parte da coalizão Juntos por el Cambio, que desde seu início, em 2015, enfrentou o kirchnerismo com força. A coalizão, no entanto, implodiu quando o macrismo se alinhou a Milei antes das eleições e acabou fornecendo o apoio necessário para que o libertário conseguisse a vitória.
A União Cívica Radical, que mantém diferenças nítidas com as medidas econômicas, o gasto público excessivo e o estilo político polarizador kirchnerista, ao mesmo tempo se opõe às políticas econômicas de La Libertad Avanza, que tendem a encolher ostensivamente o Estado, e ao estilo polarizador de Milei.
Patricia Bullrich, por sua vez, que era a candidata do PRO macrista, também concorreu com Milei nas últimas eleições, há apenas cinco meses, quando era a candidata do Juntos por el Cambio. Os dois se enfrentaram algumas vezes com inusitada violência verbal, mas hoje, junto com o resto da dirigência (exceto o ex-líder da ala branda Rodríguez Larreta), o PRO está absolutamente alinhado à Milei e à ex-candidata que faz parte do gabinete do governo. E o PRO, quase em sua totalidade, acompanha todas as medidas do novo presidente, com quem estabeleceu uma aliança parlamentar explícita e uma aliança governamental implícita.
E o kirchnerismo?
Por outro lado, o kirchnerismo, agora rebatizado de Unión por la Patria, continua agachado (às vezes com manifestações contra Milei) depois de seu péssimo governo de quatro anos que acabou deixando as contas absolutamente no vermelho e uma matriz social estourada. O kirchnerismo não tem maioria absoluta em nenhuma das câmaras legislativas, embora tenha 99 deputados nacionais de um total de 257 e 33 senadores de um total de 72. A Unión por la Patria ainda parece manter um apoio considerável, cerca de um quarto da lista eleitoral, mas ao mesmo tempo sofre uma desaprovação considerável após sua recente administração desastrosa.
Enquanto isso, um peronismo autoproclamado republicano e federal começou a tomar forma nos últimos meses em oposição ao peronismo kirchnerista. Esse peronismo é liderado atualmente, de um lado, por Miguel Ángel Pichetto – um firme cristinista na era kirchnerista de 2003 a 2015, mas que em 2019 foi o candidato a vice-presidente do antikirchnerista Mauricio Macri – e, de outro, pelo ex-governador da província de Córdoba, Juan Schiaretti, e pelo atual governador de Córdoba, Martin Llaryora. Assim, surgiu e ganha força um novo peronismo antikirchnerista, que recentemente se uniu em um inter-bloco na Câmara dos Deputados junto com a Coalizão Cívica, o outro partido que fazia parte do antigo Juntos por el Cambio.
Outro bloco de oposição é a Frente de Izquierda de los Trabajadores, com poucos legisladores e prefeitos e nenhum governador, mas que mostra presença nas ruas, com manifestações de baixa participação diante das medidas de ajuste do novo governo. Assim, por enquanto, a esquerda não consegue desafiar a popularidade de Milei, que segue mantendo uma imagem altamente positiva diante da opinião pública. Embora o líder libertário continue subindo as tarifas, eliminando subsídios e empobrecendo consideravelmente os setores médios, baixos e aposentado, continua a confrontar – principalmente através das redes sociais – aberta e hostilmente os considerados responsáveis pela grave crise econômica e social que nos levou à atual situação de inflação descontrolada (confronta e culpa a liderança política que legislou e governou por décadas e a liderança sindical que liderou e lidera os sindicatos por décadas pela crise).
Conclusão
Em conclusão, a situação hoje é formada por La Libertad Avanza e pelo PRO, que se alinhou quase por completo à Milei. E, na frente, existem várias forças de oposição: o kirchnerismo; um peronismo não kirchnerista que ganha adeptos; a pequena força da esquerda tradicional; e o Partido Radical que, quando a coalizão foi desmantelada pelo macrismo, tornou-se a principal oposição com importante presença legislativa e territorial, confrontando tanto o populismo de esquerda kirchnerista quanto o populismo de direita de Milei.
Autor
Cientista política e professora da Universidade de Buenos Aires. Mestre em História Econômica pela mesma universidade. Colunista do Perfil, La Nación, La Ribera Multimedio, Observatorio de Seguridad, Economía y Política Iberoamericana, entre outros.