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Uma nova década perdida para a América Latina?

A América Latina enfrenta o risco de uma nova “década perdida”, com um crescimento regional estagnado e desafios estruturais que ameaçam seu desenvolvimento econômico e social.

A economia da América Latina e do Caribe atravessa uma nova fase de desaceleração generalizada, sintoma de uma década marcada pelo baixo crescimento. Entre 2016 e 2025, o produto interno bruto regional terá aumentado em média apenas 1,2%, um número ainda menor do que o registrado na década de 1980. É o que indica o mais recente Estudo Econômico da América Latina e do Caribe 2025, elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

A CEPAL projeta que a América Latina e o Caribe crescerão 2,2% em 2025 e 2,3% em 2026. Essa trajetória de baixo crescimento é resultado de uma combinação de fatores internos e externos. Entre os internos, destacam-se as desigualdades estruturais, o baixo crescimento do emprego, a alta informalidade, a estagnação dos investimentos e a queda do consumo interno. No lado externo, pesam a fraqueza da demanda mundial e as condições financeiras restritivas. A isso se soma a desaceleração do consumo privado, que teve um impacto direto na atividade econômica. Por fim, persistem as disparidades de gênero, a baixa participação das mulheres no mercado de trabalho e a cobertura limitada da proteção social, fatores que aprofundam a fragilidade do crescimento.

Em nível sub-regional, as projeções mostram dispersão nas taxas de crescimento. A América do Sul cresceria 2,7% em 2025 e 2,4% em 2026, enquanto a América Central e o México alcançariam apenas 1,0% e 1,7%, afetados principalmente pela desaceleração da economia estadunidense. No caso do Caribe (sem incluir a Guiana), os números seriam de 1,8% em 2025 e 1,7% em 2026. Essas variações refletem a diversidade de condições internas e externas enfrentadas pelos países da região.

O documento destaca a elevada dependência da região em relação ao investimento estrangeiro direto e ao endividamento externo, fatores que obrigam a corrigir os desequilíbrios externos por meio de ajustes internos de alto custo. A isso se soma a complexidade do cenário global em 2025, marcado por um crescimento moderado, a desaceleração das economias dos Estados Unidos e da Europa, o baixo dinamismo da China, bem como as tensões geopolíticas, o aumento do protecionismo e as possíveis mudanças profundas nas cadeias de abastecimento.

Diante desse cenário desfavorável, a CEPAL alerta que os governos devem necessariamente mobilizar recursos financeiros para o desenvolvimento e, assim, evitar que a região passe por uma nova década perdida. Dessa forma, seria possível estabilizar a macroeconomia e dar resposta aos desafios estruturais não resolvidos. A mobilização de recursos deve ser orientada em três áreas que a Comissão considera fundamentais.

Em primeiro lugar, os desafios fiscais e estruturais exigem redefinir a estrutura fiscal por meio do fortalecimento de políticas que levem em consideração as pressões sobre os gastos públicos, os níveis insuficientes de renda e a fraca capacidade institucional. A estratégia central está focada no papel do Estado como promotor do crescimento e da mudança estrutural com base em uma política fiscal transformadora que garanta um dos desafios mais urgentes: “a sustentabilidade financeira dos sistemas de proteção social”.

Com relação à mobilização de recursos para a transformação produtiva sustentável, é necessário ter acesso a financiamento acessível e anticíclico, tanto nacional quanto externo, que permita enfrentar os choques, sem colocar em risco o financiamento dos objetivos de desenvolvimento.

Finalmente, devido ao fato de que as instituições financeiras criadas no final da Segunda Guerra Mundial não cumpriram os objetivos de sua criação e mostraram incapacidade de apoiar a mobilização de financiamento estável e de longo prazo, é necessário definir uma reforma da arquitetura financeira internacional, tanto com novas regras de operação quanto de instituições.

Nesse ponto, dois aspectos merecem atenção: o primeiro refere-se ao aumento dos níveis de endividamento e ao alto custo do financiamento (o dispositivo da dívida); e, em segundo lugar, ao papel dos bancos de desenvolvimento como instrumento fundamental para o desenvolvimento produtivo e social.

Diante dessa armadilha de baixo crescimento, a América Latina e o Caribe enfrentam diversos dilemas: uma população que envelhece rapidamente, causando maiores pressões nos sistemas de saúde, pensões e serviços de assistência; a crise climática, que exige maiores investimentos; e as grandes desigualdades sociais ainda não resolvidas. A esse quadro somam-se as medidas tarifárias anunciadas pelo governo dos Estados Unidos para o resto das nações.

Este pacote tarifário transformará sem dúvida as condições do comércio internacional, além dos impactos imediatos na região e na própria economia norte-americana, “é claro” de maneira diferenciada. No entanto, para a América Latina, pode constituir uma oportunidade para promover o escasso comércio intrarregional existente e a busca de mercados diferentes do norte-americano no âmbito do fortalecimento do multilateralismo.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

Autor

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Professor de Comunicação Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Pesquisador associado do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD).

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