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México e a luta contra o fentanil

As acusações anunciadas pelo Departamento de Justiça dos EUA em três distritos federais contra a facção “Los Chapitos”filhos de El Chapo Guzmán – do Cartel de Sinaloa pela produção e distribuição de fentanil nas cidades estadunidenses foram contundentes. É uma política de Estado em território estrangeiro. Assim disse o procurador-geral Merrick Garland, da própria Casa Branca, ao apontar 28 pessoas que estariam envolvidas no tráfico dessa droga sintética.

Esse posicionamento a duas leituras no México. Uma, associada ao futuro da política do governo obradorista de “abraços, não balas”. E a outra que esse é o primeiro passo na rota estadunidense contra a narcopolítica mexicana.

A política de “abraços, não balas” na luta contra o crime organizado, além do escárnio que provocou nos círculos políticos de Washington, está cercada e não parece ter futuro. A produção e distribuição de fentanil está causando milhares de mortes de consumidores estadunidenses e disparou alarmes políticos até se tornar uma parte central do debate público.

Nos Estados Unidos, os líderes do Partido Republicano se pronunciaram porque reconhecem os cartéis mexicanos como “organizações terroristas”, o que foi rechaçado pela maioria dos representantes democratas pelas implicações em matéria de segurança e soberania nacional. No entanto, a posição democrata não significa afinidade com a visão do oficialismo mexicano, e menos ainda em um ano eleitoral, quando o jogo de soma zero se impõe em temas que rendem votos.

Isso explica a postura da administração Biden em relação ao fentanil, um tema socialmente sensível que exige decisões duras no combate a sua produção e distribuição. Isso põe em questão a política sustentada pelo governo de López Obrador, que foi interpretada em alguns círculos políticos e midiáticos norte-americanos como cumplicidade com organizações criminosas.

A busca pelos filhos de Joaquín “El Chapo” Guzmán em território mexicano certamente não aguardará uma traição dentro do Cartel de Sinaloa em troca dos 10 milhões de dólares oferecidos por cada um deles. Se isso viesse a acontecer, provavelmente envolveria uma colaboração binacional, incluindo operações secretas de agências de segurança estadunidenses.

Por isso, chama a atenção a postura do governo mexicano e as palavras de López Obrador, que diante da infiltração norte-americana no Cartel de Sinaloa, disse que se trata de uma “intromissão abusiva”, prejudicial à soberania nacional. Isso, sem dúvida, afetará a cooperação binacional na luta contra o tráfico de fentanil para os Estados Unidos e, de fato, nesta semana, a mídia estadunidense voltou a mencionar que o México é um narcoestado.

Embora o chanceler mexicano, Marcelo Ebrard, apresente números de conquistas “sem precedentes” na luta contra a epidemia de fentanil, a verdade é que as autoridades norte-americanas não estão convencidas desses resultados e o que têm no imaginário é a política permissiva de “abraços, não balas” do presidente López Obrador.

A tensão entre os governos não significa, pelo menos no momento, que haverá um avanço além da tentativa de reduzir a produção e a distribuição do fentanil e, nesse sentido, é desastrado da parte do próprio governo negar que a droga não é produzida no México quando os dados do chanceler mostram o contrário.

Por enquanto, as autoridades estadunidenses têm sido cuidadosas em não mesclar os empresários da droga com os velhos e novos políticos. Isso ficou evidente no julgamento de García Luna, ex-secretário de segurança de Felipe Calderón, quando o juiz Brian Cogan se recusou a implicar políticos mexicanos.

Portanto, não há motivo para pensar que o governo estadunidense esteja buscando algo mais na luta contra “Los Chapitos”. Portanto, aparentemente, se conservaria o status quo e se manteria a calma dos governadores que receberam favores dessa facção criminosa durante as eleições de 2021 e que poderiam estar se preparando para influenciar a decisão de voto nas eleições estaduais deste ano.

Em resumo, o anúncio do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e da DEA é um choque para o governo mexicano, pois acredita que sua capacidade é insuficiente para lidar com um problema crescente para a sociedade norte-americana. No momento, entretanto, parece que isso não afetará a conjuntura eleitoral no outono, quando estará em jogo a nomeação do candidato do partido governista mexicano e o novo presidente dos vizinhos norte-americanos.

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Professor da Universidade Autônoma de Sinaloa. Doutor em Ciência Política e Sociologia pela Universidade Complutense de Madri. Membro do Sistema Nacional de Pesquisadores do México.

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