Depois de quatro anos de contração, o comércio de bens da América Latina e Caribe voltou a crescer. As exportações da região se expandiram em 12,8% em 2017, superando o crescimento médio mundial, e seguiram a mesma tendência no primeiro trimestre deste ano, com alta de 10,9% ante o mesmo período no ano anterior. As importações, de sua parte, se expandiram em 8,7%, abaixo da tendência mundial, de acordo com dados publicados pelo “Boletim Estatístico de Comércio Exterior de Bens na América Latina e Caribe”, da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal).
O crescimento do valor das exportações se deveu em larga medida ao aumento dos preços das commodities produzidas na região, especialmente o petróleo e os minerais. Por exemplo, os preços do alumínio, do cobre, do chumbo, do minério de ferro e do zinco cresceram em mais de 25%, enquanto os do ouro e da prata se mantiveram estáveis. Quanto aos produtos agrícolas, a tendência de preços foi irregular, com grandes aumentos para as sementes oleaginosas e óleos alimentícios e quedas no café, açúcar, trigo e cacau.
Um dos aspectos a destacar são as tendências opostas nos fluxos comerciais entre a região e os Estados Unidos e entre a região e a China.
Apesar do grande superávit do Brasil e da Venezuela, e em menor grau do Chile e Peru, no ano passado o superávit comercial regional foi pouco superior a 0,2%. Na segunda metade do ano, a balança comercial regional foi negativa, devido ao forte aumento nas importações do México, Argentina e Colômbia. Um dos aspectos a destacar são as tendências opostas nos fluxos comerciais entre a região e os Estados Unidos e entre a região e a China. A relação comercial com a China, que adquire 10% dos bens latino-americanos exportados, apresenta um imenso déficit de US$ 107 bilhões. Já o comércio entre a região e o vizinho ao norte apresenta um avultado superávit de US$ 116 bilhões. A metade desse superávit se relaciona ao desempenho comercial do México, como parte do Acordo Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta).
A grande influência do México no superávit regional com os Estados Unidos acontece porque os mexicanos são por larga margem a maior potência da região no comércio exterior, respondendo por mais de 40% tanto das exportações quanto das importações latino-americanas. O Brasil ocupa um distante segundo lugar, com pouco mais de um quinto das exportações e só 15% das importações regionais. Nessa comparação, as regiões menos bem posicionadas são a América Central e o Caribe, que somadas importam o dobro do que exportam.
Quanto ao comércio dentro da região, de acordo com o relatório da Cepal o crescimento em 2017 foi de 10,4%. Mas ainda que o intercâmbio comercial total da região tenha crescido ante o do ano anterior em termos absolutos, a participação dos parceiros regionais no comércio externo total da América Latina continua a diminuir, representando apenas 16% do comércio total, ou 21,7% se o México for excluído. Esse é provavelmente o aspecto negativo mais relevante, devido ao papel fundamental do comércio intrarregional no desenvolvimento das cadeias de valor dos países latino-americanos.
Autor
Jornalista, mestre em Jornalismo pela Universidade de Barcelona e em Estudos Latino-Americanos pela Universidade Complutense de Madrid.