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Amor e ódio na política

No Panamá, a influência histórica dos Estados Unidos sobre o Canal continua a condicionar a política, a economia e as tensões sociais do país.

Polarização é um termo muito atual na política mundial, e sua presença se intensificou consideravelmente nos últimos cinco anos. É difícil encontrar um país onde a vida política não seja definida por esse tipo de confronto, no qual duas opções têm força suficiente para unir amplos setores sociais que concentram sua identidade e energia em dois polos radicalmente opostos. O eixo em torno do qual a oposição gira pode ser definido por questões muito diversas, que vão do cultural ao econômico e, claro, ao político.

Ao longo de um século, essa tensão foi simplificada em torno de dois termos que gradualmente permearam o inconsciente coletivo da esquerda e da direita. Seu uso prático permitiu configurar uma escala onde as nuances possibilitaram estabelecer um continuum com estágios graduais. O pluralismo facilitou as coisas ao incorporar diferentes dimensões ao debate político.

No entanto, esse panorama de nuances teve ao menos três inimigos de natureza variada. Regimes autoritários romperam com a lógica da diversidade ideológica ao se definirem sem qualquer restrição em um espaço fixo concreto. Em regimes democráticos, o presidencialismo em dois turnos forçou o confronto bipolar, criando blocos de oportunidade de natureza excludente e, às vezes, artificiais. Por fim, a expansão do populismo em suas diversas formas exacerbou o antagonismo entre “nós” e “eles”, construído tanto por líderes carismáticos quanto por mobilizações coletivas.

A polarização surge em cenários que antes eram categorizados como lutas de classes e que hoje fomentam relações sem precedentes de desigualdade. Um relatório liderado por Joseph Stiglitz mostra que o 1% mais rico da população mundial acumulou 41% da riqueza criada entre 2000 e 2024. Em contrapartida, os 50% mais pobres receberam apenas 1% dessa nova riqueza: “Essas concentrações externas de riqueza se traduzem em concentrações antidemocráticas de poder, minando a confiança em nossas sociedades e polarizando nossa política”.

Mas ela também se intensifica pelo uso exacerbado das emoções, sempre presentes na esfera pública, mas hoje instigadas por um novo tipo de comunicação mais direta, imediata, massiva e universal. As mensagens, às vezes anônimas, seduzem e contribuem para criar relatos sobre os quais se constrói uma realidade que, no passado, levava décadas para se estabelecer. Este conteúdo pode ter uma origem maliciosa, manipulando a realidade, mas também oferece uma ampla gama de interpretações que podem ajudar a esclarecer situações confusas.

A construção de nações é um exemplo vivo da implementação de uma estratégia coletiva na qual, através da educação, do serviço militar obrigatório, da burocracia e de várias formas de comunicação de massa, grupos de indivíduos e coletivos podem desenvolver um sentimento comum de comunidade. Nesse processo, o ódio ao invasor ou a quem ameace a sobrevivência soberana é um fator inegavelmente eficaz para facilitar a coesão do grupo. Os partidos políticos, em seu auge, não estavam imunes a essas práticas. Esse fenômeno também ocorreu nas igrejas, embora o ódio ao lado oposto tenha assumido nuances diferentes, mas o confronto excludente permanece vivo hoje com expressões distintas.

Novembro é o mês da pátria no Panamá. Como é sabido, a existência do Panamá como Estado soberano está intimamente ligada à construção do canal interoceânico, bem como à ascensão dos Estados Unidos como potência mundial destinada à hegemonia. Termos como “destino manifesto”, “a cenoura e o porrete”, “política das canhoneiras” e “boa vizinhança” foram cunhados nas primeiras décadas do século XX no istmo, moldando um imaginário que se estenderia por toda a região. Embora o dólar seja a moeda comumente usada na sociedade e na economia panamenhas, em novembro a bandeira do Panamá tremula por toda parte e desfiles festivos e não militarizados tomam as ruas.

Esse cenário dá lugar a um tipo de polarização cujo sentido atual não chega a tensionar os padrões de convivência, embora amor e ódio se sobreponham como significantes opostos. A Pesquisa de Cidadania e Direitos do CIEPS deste ano, dirigida pelo sociólogo Jon Subinas e divulgada nesta época, mostra que 83,4% dos entrevistados acreditam que o canal deve permanecer em mãos panamenhas, embora 70,2% discordem fortemente ou discordem que seus benefícios estejam chegando à sociedade panamenha, apesar de 70,4% se orgulharem de que o canal pertença ao Panamá. Para 46,2%, os Estados Unidos deveriam ser o aliado ideal, e 39,4% ainda acreditam que os estadunidenses administraram o Canal melhor. 69,5% acreditam que a intenção do presidente dos EUA, Donald Trump, de recuperar o canal é real.

Amor e ódio, em um país onde, dado o seu tamanho, a diversidade cultural e ecológica é enorme e a desigualdade territorial e socioeconômica é a mais acentuada da região, combinam-se com intensidade limitada, ao contrário da polarização muito mais dramática vivenciada nos países vizinhos. Do antigo slogan “pátria ou morte” às ​​sofisticadas campanhas atuais que visam cancelar o oponente, a polarização continua a se agravar no âmbito emocional da existência. O discurso de ódio não é mais mera retórica. Aquele sonho de razão que, dizia-se, produzia monstros, agora é relegado a um segundo plano pelas narrativas digitais onde a legalidade, a racionalidade e a deliberação são marginalizadas.

Tradução automática revisada por Isabel Lima

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Diretor do CIEPS – Centro Internacional de Estudos Políticos e Sociais, AIP-Panamá. Professor Emérito da Universidade de Salamanca e UPB (Medellín). Últimos livros: “O gabinete do político” (Tecnos Madrid, 2020) e “Traços de democracia fatigada” (Océano Atlántico Editores, 2024).

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