Após a aplicação da denominada “morte cruzada” no Equador em maio passado, o país inteiro vive uma situação de pressa e pressão política com relação às eleições antecipadas que serão em agosto deste ano. Não só a classe política está em transe, devido à janela de oportunidade que se abriu inesperadamente, mas também os cidadãos enfrentam um novo desafio: eleger as autoridades (em tempo recorde) que montarão o tabuleiro para a próxima partida em 2025. Essa não é uma tarefa fácil.
Oito candidaturas, duas possibilidades
Como primeira possibilidade, se o governo de transição que será inaugurado em agosto não tiver, por sua natureza, respaldo da maioria, o que é previsível pela ausência de uma liderança reconhecível nos últimos meses e pela fragmentação deixada pela iniciativa de impeachment contra o presidente Guillermo Lasso, ele não deverá e não poderá formular grandes mudanças. Ela deve focar em homogeneizar a competição política para que, em 2025, a decisão seja mais benéfica para o país e não descambe para a já conhecida disputa entre os poderes Executivo e Legislativo.
A outra possibilidade, a mais possível e ao mesmo tempo contraproducente, é o governo de transição oferecer mudanças e reestruturações (até mesmo constitucionais) como ponte entre a instabilidade atual e o futuro governo a ser eleito em 2025. Essa opção implicaria a instrumentalização da grave crise política que o país atravessa para armar o andaime institucional e preparar uma candidatura presidencial em 2025 enquanto durar o governo de transição.
O risco latente dessa última opção é que, enquanto durar o governo de transição, a etapa se transformará em uma campanha eleitoral prolongada e intensa, o que significaria uma evidente transgressão da concorrência justa em igualdade de condições frente ao resto das opções do espectro político. Ademais, o governo concentraria esforços visando o posicionamento político, deixando de lado as profundas fraturas sociais que exigem ações concretas e de longo prazo, sem mencionar a urgência das tarefas pendentes deixadas pelo governo cessante em matéria econômica, produtiva e trabalhista.
As oito candidaturas presidenciais que foram oficializadas são um indício da discordância e do personalismo político que caracterizam o Equador, inclusive mediante a dinâmica de governo que vem se desenvolvendo nesses meses, em que o presidente Lasso governa com decretos de emergência e não há Poder Legislativo que faça contrapeso. Paradoxalmente, uma classe política comprometida com os valores democráticos concentraria seus esforços no consenso e nos mecanismos cidadãos de supervisão e respeito aos direitos humanos.
Retomando a ideia inicial, qual é o desafio que os equatorianos enfrentam? Independentemente das preferências políticas, nos próximos meses, o papel dos cidadãos é reconhecer propostas viáveis e sensatas de grandes projetos a longo prazo e as implicações aqui descritas. A captura do voto nesses meses terá uma nova dinâmica, pois os cidadãos tentarão mostrar um interesse cívico e um compromisso com a democracia enquanto participam de eleições que nasceram do dissenso. Os extremos ideológicos se atenuarão para alcançar o eleitor médio mediante um discurso conciliador, enquanto cada candidatura é vista como a única capaz de canalizar a fragmentação.
Nos próximos meses, enfrentaremos uma forte campanha eleitoral com ofertas e promessas: os que não estão aqui prometerão voltar, e os que estão aqui dirão que nunca saíram. Agora, mais do que nunca, o eleitorado deve exigir e reconhecer respostas sensatas e cívicas, de modo que nos próximos dois anos possamos promover lideranças novas e frescas sem ter que olhar para o passado.
Autor
Cientista político. Candidato a Doutor em C. Política pela Univ. do Salvador - USAL (Argentina). Mestre em Política Comparada por FLACSO-Equador e em Direitos Humanos e Democratização na A.Latina pela Univ. Nacional de San Martin -UNSAM (Argentina).