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Fox News – Dominion e as consequências de desinformar nos processos eleitorais

Os processos eleitorais em regimes democráticos, ou seja, onde há incerteza nos resultados eleitorais e o partido governista pode ser derrotado, tornaram-se fenômenos midiáticos globais. Há algumas décadas, as eleições em um país despertavam pouco interesse em outras latitudes, ou mesmo em países da mesma região. Mas hoje, graças ao imediatismo da conversa digital, encontramos especialistas e cidadãos interessados nos processos eleitorais de países alheios à realidade de seus próprios países. O interesse por essas eleições inclui não só o dia da votação, mas a fase pré-eleitoral e, sobretudo, a pós-eleitoral, ainda mais se os resultados forem contestados ou até mesmo impugnados perante instâncias judiciais.

O acesso à conversação digital, somado ao auge da polarização política, transformou os processos eleitorais em verdadeiros espetáculos onde simpatizantes e detratores dos candidatos usam as redes sociais para expressar sua conformidade ou insatisfação com os resultados.

Os meios de comunicação, por sua vez, aproveitaram essa situação para maximizar seu impacto. Muitos deles se tornaram a fonte exclusiva de informação de alguns grupos, de modo que tem o compromisso de publicar conteúdos que coincidem e reforçam as convicções de seus consumidores. Esse processo deteriorou notavelmente a qualidade do jornalismo e incentivou o extremismo em certos grupos que aceitam de forma dogmática o que seus meios prediletos publicam.

A desinformação e a confiança nos processos eleitorais

Há anos, organizações e agências internacionais, bem como órgãos eleitorais, buscam soluções para que a desinformação não afete a confiança nos processos eleitorais. No entanto, não tem sido uma tarefa fácil, pois é um problema multifatorial e foi demonstrado que a desinformação viaja muito mais rápido e é mais atraente do o posterior fact-checking.

Uma das narrativas mais atraentes (e nocivas) no marco dos processos eleitorais é a da fraude. Ou seja, sem elementos que sustentem a denúncia, promove o desconhecimento dos resultados por supostas práticas fraudulentas.

Segundo o diretor do Departamento de Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, Gerardo de Icaza, “quando a ideia de fraude controla a opinião de um setor, é difícil encontrar o antídoto ou argumento que possa convencê-lo do contrário. Além disso, a mídia encontra nas alegações de fraude uma oportunidade tentadora de gerar ratings e vender jornais com publicação de manchetes sensacionalistas”.

Infelizmente, essa situação não é extraordinária, pelo contrário, podemos dizer que, de uma forma ou de outra, a maioria dos últimos processos eleitorais na região foi vítima dessa narrativa.

As eleições do ano passado no Brasil foram um esforço enorme, tanto para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto para os fact-checkers, que tiveram que enfrentar uma avalanche de desinformação na fase pré-eleitoral, bem como na pós-eleitoral. Durante os meses prévios à jornada eleitoral, o próprio presidente Jair Bolsonaro afirmou que as urnas eletrônicas eram vulneráveis e que havia possibilidade de fraude. Isso gerou desconfiança em um sistema de votação que funcionou corretamente por mais de 20 anos.

Posteriormente, após sua derrota, a desinformação se centrou em alimentar a narrativa de fraude, o que levou a manifestações de dezenas de milhares de apoiadores do então presidente exigindo que sua vitória fosse reconhecida.

Outro caso que teve impacto global foi a alegação de fraude feita pelo ex-presidente Donald Trump que, juntamente com seu advogado Rudolph Giuliani, percorreu estúdios de televisão e tribunais assegurando que haviam sido vítimas de fraude em massa. Algumas redes de notícias, como Fox News, difundiram ativamente essa narrativa, acusando até mesmo alguns desenvolvedores de tecnologia, como Dominiom Voting Systems ou Smartmatic. Alguns dos jornalistas da rede e convidados em seus programas afirmaram que as máquinas de votação haviam sido adulteradas e, portanto, a eleição de Joe Biden foi fraudulenta.

As empresas acusadas fizeram justiça com as próprias mãos e entraram na Justiça, acusando Fox News, a famosa rede de notícias, de difamação. Dominiom Voting Systems pediu 1,6 bilhão de dólares por danos e Smartmatic, 2,7 bilhões de dólares.

Em 31 de março, pouco mais de dois anos após as eleições de 2020, o Tribunal Superior de Delaware determinou que nenhuma das declarações que a Fox News fez sobre Dominion era verdadeira e ordenou um julgamento para determinar se a rede havia agido com dolo real. Diante desse cenário, a emissora fez um acordo com a empresa no valor de US$ 787 milhões para evitar o julgamento.

A democracia é um bem intangível e inestimável, mas atacar e questionar suas instituições de forma injustificada e irresponsável deve ter um preço.

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Diretor executivo da Transparência Eleitoral. Graduado em Relações Internacionais pela Universidade Central da Venezuela (UCV). Candidato a Mestre em Estudos Eleitorais pela Universidade Nacional de San Martín (UNSAM / Argentina).

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